domingo, 11 de abril de 2021

Os filhos do Padre

Até meados do século XVIII, o Estado controlou a atividade eclesiástica na colônia por meio do padroado. Após a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, o Estado através do Imperador continuou a nomear os padres mediante decreto para as paróquias. O padre que assumia em caráter permanente uma paróquia era chamado de vigário colado. Muitas vezes, localidades distantes da Capital não tinham sequer um vicariato. Quando surgia um, o padre era auxiliado por pessoas, normalmente mulheres, nas atividades do dia a dia, tanto na Igreja quanto em casa. Essa proximidade proporcionou que a lei do celibato fosse constantemente transgredida em quase segredo. O fato de um padre ter um filho não o impedia de continuar o sacerdócio. A transgressão da lei do celibato se tornou frequente no Ceará, a ponto de o Bispo de Pernambuco enviar uma autoridade eclesiástica para investigar e repreender padres infratores.

No Ceará não era raro um padre ter um filho. No segundo quartel do século XIX, até o Presidente da Província do Ceará, o padre e senador José Martiniano Pereira de Alencar (1794-1860), teve com uma prima que tomou por companheira, 13 filhos, dentre eles, o grande escritor cearense José de Alencar. O padre Pedro José de Castro e Silva não foi exceção, se uniu ao amor de uma mulher e teve oito filhos.

Segundo consta, o Padre Pedro era um homem abastado; possuía fazendas no interior do Estado do Ceará e em Fortaleza, o sítio São Sebastião, referido por Gustavo Barroso em um de seus livros, além de várias casas espalhadas pela cidade. Foi vigário colado da cidade de Barbalha/Ce no período de 1842 a 1863, quando viveu maritalmente com Tereza de Jesus Maria (1820-1879), e de onde nasceram oito filhos: Deodato José (primogênito), João Baptista, José Antônio e Antônio Jacob, os homens; Filomena Nomeriana (Filó ou Didinha), Eutiquina (D. Sinhá), Francisca Leonilia (Chiquinha) e Sabina, as mulheres.

Deodato José (meu bisavô) nasceu em 23/07/1847 na cidade de Barbalha/Ce. Foi professor de instrução pública e coletor da cidade de Aquiraz/Ce no ano de 1872. Nos anos seguintes foi designado pelo Serviço de Instrução Pública para ensinar em várias localidades do Ceará. Em 1880, com a morte de sua avó, Rita Angélica de São Francisco, herdou uma casa na Praça da Igreja Matriz de Aquiraz/Ce, onde residiu até o seu passamento. Com o falecimento prematuro de sua mulher, Genuína Gadelha, ocorrido por volta de 1890, entregou seus três filhos à cunhada (tia Dina Gadelha) para criá-los. Foi eleito para o Conselho (vereador) da Câmara de Aquiraz em 1892. Em 1893 aceitou emprego remunerado e, por isso, deixou a Câmara Municipal. Faleceu em fevereiro de 1898 de aneurisma da aorta torácica.

João Baptista, assim como todos irmãos, nasceu na cidade de Barbalha/Ce, mas não se sabe a data. Não casou, mas consta que vivia com uma moradora, chamada Umbelina, com quem teve dois filhos. Possuía uma Fazenda no Baú (distrito de Acarape/Ce), parada da estrada de ferro que fica próxima a cidade de Guaiúba/Ce. De lá enviava lenha para o gasômetro de Fortaleza situado ao lado norte da Santa Casa de Misericórdia, na rua da Ladeira. Em 1880 publicou em um jornal local de Fortaleza que seu nome, a partir daquela data, seria somente João de Castro e Silva, retirando o Baptista.   

Sobre José Antônio não se sabe se casou ou se manteve solteiro. Nasceu em 07/08/1854, também em Barbalha/Ce. Trabalhou durante alguns anos como caixeiro em alguns estabelecimentos de Fortaleza e, por essa época, teve dois filhos. Depois, não se sabe o porquê, foi para a Amazônia durante o auge do Ciclo da Borracha, por volta de 1900. Faleceu no Acre em 08/07/1910 com quase 56 anos de idade. 

Antônio Jacob, o caçula dos irmãos, nasceu em 1864. Casou-se com uma sobrinha, Tereza Leonilia (Tété), filha de sua irmã Filomena Nomeriana e desse consórcio nasceram oito filhos, dois homens e seis mulheres. Antônio Jacob trabalhava na Fazenda Criancó em Acarape/Ce, do seu pai Padre Pedro, e por lá constituiu uma outra família com uma moradora. Desse conúbio teve mais uns três filhos, no mínimo. Os filhos naturais nascidos na Fazenda sempre ajudaram o pai nos trabalhos da propriedade e, por isso, vieram a herdá-la (ou apropriar-se), tendo transmitido o patrimônio aos seus descendentes. Consta que Antônio Jacob era um homem muito trabalhador e disposto. Foi vítima de um acidente na fazenda, quando a teve a mão esmagada pela moenda de cana. Procurou socorro em Fortaleza, tendo vindo de trem, e aqui teve o braço amputado por procedimento cirúrgico realizado em casa de sua irmã, Francisca Leonilia, à Rua General Sampaio. Uma manhã do ano de 1910, a família foi sobressaltada com notícia infausta. Antônio Jacob foi encontrado morto; havia se suicidado, por enforcamento, em sua residência, à Rua Senador Pompeu.

Filomena Nomeriana (Didinha) casou com um cidadão português, Antônio Manoel da Costa (1835-1902), comerciante, tinha uma casa de comércio (bazar) à Rua Floriano Peixoto, ao lado da atual Caixa Econômica situada na Praça do Ferreira. Atrasou-se nos negócios, tendo falido no final do século XIX. Faleceu de um carcinoma numa glândula do pescoço. Teve sete filhos, quatro homens e três mulheres, uma delas minha avó por parte de pai. Meu pai conheceu a Didinha (assim ele a chamava) já um pouco caduca, sentada numa cadeira de balanço na sala de jantar de sua casa, à Rua Senador Pompeu. Sempre que ele a visitava, nas tardes de domingo, pedia a benção e ela somente se queixava do desassossego causado pelos netos que moravam na mesma casa.

Eutiquina (D. Sinhá) casou com um judeu alemão, Albert Roth, joalheiro que tinha uma loja de consertos e venda de joias, bem próxima da Praça do Ferreira. Albert aqui chegou, junto com o irmão Jacob, por volta de 1865. Anos depois publicou em um jornal local a sua disposição de pagar todos os credores de seu irmão falecido e assim o fez. D. Sinhá teve quatro filhos, três homens e uma mulher. Por volta de 1890, o marido resolveu retornar para Alemanha com a mulher e uma filha, pois os negócios não prosperaram após o advento da República. Albert morreu, no trem, em uma viagem que faziam e Eutiquina passou a morar com a filha, Lina, casada, em Hamburgo. Aqui no Ceará ficou um dos filhos que era músico (maestro) e que anos depois foi morar no Rio de Janeiro. Sabe-se que os filhos sabiam português, como se vê em um cartão remetido por um dos filhos em 1904, o que faz supor que todos nasceram no Brasil. Eutiquina vivia na Alemanha com a renda de aluguel das casas que possuía em Fortaleza. Certa vez retornou ao Brasil por ocasião da 1ª Grande Guerra para vender algumas de suas propriedades. Tomou o último navio que saiu de Hamburgo para o Brasil, antes do início da guerra. Aqui ficou hospedada no Hotel Central, onde antes estivera o casarão do comendador Antônio Machado, o único da cidade a ter três pavimentos até o início do século XX. Este sobrado foi demolido em 1928 para construção do primeiro edifício de 8 andares, o maior prédio do Brasil de alvenaria, que abrigou o antigo Hotel Excelsior. Hoje este edifício permanece fechado desde a morte de seu último dono (húngaro Emílio Hinko).

Francisca Leonilia (Chiquinha) casou com Nabor Fernandes de Mello, passando a assinar Francisca de Castro Mello. No início de 1900, ocorreu a separação do casal e ele passou a morar no Rio de janeiro onde veio a falecer em 1908. Tiveram três filhos, sendo que um deles (a filha mais nova) cedo enviuvou e foi morar com a mãe juntamente com seu filho (portanto neto de Chiquinha) que sofria de paralisia cerebral. Em torno de 1930, Francisca Leonilia resolveu sair do Ceará em virtude de um namoro entre sua filha viúva e um homem casado. Vendeu a casa á Rua General Sampaio e mudou-se para Recife onde passou a residir na Várzea, Rua Azeredo Coutinho no. 113. Durante umas férias nos anos de 1940, meu pai a visitou neste endereço e, já caduca, ela insistia que a levasse de volta para o Ceará. Coincidentemente morei nesta mesma rua, bem próximo da casa onde ela morava, no ano de 2000, quando cursava meu doutorado. Há muito já tinha falecido, assim como a filha e o neto.   

Pouco se sabe sobre a filha mais nova do Padre Pedro. Meu pai conheceu Tia Sabina (assim ele a chamava) já viúva, com quatro filhas. Durante muitos anos uma das filhas, hoje já falecida, assim como todas as outras, visitava semanalmente minha avó, foi quando a conheci. Essa filha teve vasta descendência resultante do seu casamento com o espanhol, Efren Gondim, que veio a ser dono do Palace Hotel localizado na Praça do Passeio Público, hoje Praça dos Mártires. 

Abordaremos no próximo artigo estórias e “causos” do Padre Pedro.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Fundos de Investimentos de Renda Fixa – Como escolher? Qual o melhor?

O artigo anterior deste blog sobre investimentos abordou sete dicas para os iniciantes em aplicações de renda fixa. Esta matéria trata dos Fundos de Investimentos (FI) como uma das formas de aplicação financeira para investidores.

O FI é constituído pela união de pessoas físicas e/ou jurídicas com o objetivo de investir em conjunto, visando um determinado retorno financeiro. Tem a forma de um condomínio, onde as receitas são repartidas entre os investidores, assim com as despesas. Da mesma forma que um condomínio tem um síndico, o FI tem um administrador e um gestor que faz a composição da carteira de ativos do fundo, aspirando o maior lucro possível, sem contudo garantir rentabilidades positivas constantes e ausência de riscos.

Apesar de não corresponder a classificação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), podemos dividir os FIs em Fundos de Renda Fixa (RF) e Fundos de Renda Variável (RV). Estão incluídos nos FIs de RF os Fundos de Curto Prazo e os Fundos Referenciados compostos por ativos financeiros que acompanham, direta ou indiretamente, a variação do indicador de desempenho escolhido. Este indicador pode ser o CDI, o IPCA, o IMA-B ou outro qualquer.

Os FIs de RV podem ser Fundos de Ações, Fundos Multimercados, Fundos Cambiais, Fundos em Cotas de outros fundos, etc. Aqui abordaremos somente os FIs de renda fixa. Esses fundos devem possuir, no mínimo, 80% da carteira em ativos relacionados à variação da taxa de juros (Selic) ou do índice de inflação ou ambos. 

O valor de mercado dos ativos do fundo menos as despesas, como a taxa de administração e/ou taxa de desempenho (se houver), representam o patrimônio líquido do FI. Então, FIs com taxa de administração reduzida, no máximo 0,30% a.a., oferecem mais rentabilidade do que os fundos com taxa de 1% ou 2% a.a., se o desempenho deles forem semelhantes. Portanto, esses fundos de taxas reduzidas são mais recomendados para investidores iniciantes ou conservadores. Existem fundos com taxas de administração zero cujo desempenho é muito baixo, ou seja, rentabilidade abaixo do indicador escolhido e, às vezes, negativa. Mas também há fundos com taxas altas, por exemplo, 2% a.a., cuja rentabilidade é bem expressiva, algo em torno de 20% a.a., mas de alta volatilidade, ou seja, tem alta dispersão (positiva ou negativa) em relação à média das rentabilidades diárias. Quanto maior o risco maior a volatilidade. Investimentos com baixa volatilidade possuem um desempenho mais estável, implicando em um comportamento mais previsível.

As Corretoras oferecem FIs com taxa de administração igual ou inferior a 0,30% a.a., que perseguem uma rentabilidade bem superior ao indicador escolhido. É fácil encontrar fundos que apresentaram rentabilidade, no ano de 2020, superior a 7,75 a.a., bem acima da inflação, e com taxa de administração de 0,20% a.a. Normalmente, esses fundos são indexados ao IMA-B, indicador de inflação de curto prazo da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Também podem ser encontrados fundos indexados ao IMA-B+, indicador de inflação de longo prazo da ANBIMA.

Outrossim podem ser encontrados fundos mais conservadores indexados ao CDI e com taxa de administração de 0,20% a.a. No ano de 2020, esses fundos perderam muito para inflação e renderam algo em torno de 2,40% a.a. Os gerentes dos grandes Bancos oferecem normalmente esse tipo de produto.

Existem algumas ferramentas que permitem analisar o desempenho dos fundos. Alguns sites (*) usam gráficos, índices e outros indicadores para avaliar o desempenho, o risco e a relação entre eles. Uma das formas de avaliar é através do Gráfico de Rentabilidade do fundo que mostra a rentabilidade comparada com o desempenho de um indicador, por exemplo, o CDI, mês a mês ou ano a ano. Outro indicador é o Índice Sharpe (**) que expõe a relação entre o retorno e o risco de um FI (**). Quanto maior for o valor desse índice, maior tende a ser o retorno do investimento com menor o risco. Uma aplicação com índice Sharpe próximo de zero não é aconselhável. Além desses indicadores, o Drawdown permite avaliar qual foi o instante de maior perda do fundo ao longo do tempo e a Volatilidade mede o risco assumido pelo investidor na aplicação. Quanto menor for o valor da volatilidade, menos risco terá o fundo. A Composição da Carteira também é uma forma de avaliar o fundo. Deve-se observar se o fundo aplica em títulos públicos ou em cotas de outros fundos. 

O próximo artigo do blog mostrará um mapa mental sobre investimentos em geral.

(*)  https://maisretorno.com/melhores-fundos

(**) https://www.comdinheiro.com.br/wiki/indice-de-sharpe/

sexta-feira, 2 de abril de 2021

O Papa da Indústria Aeronáutica Brasileira

Em maio de 2017 fui designado pelo MEC – INEP para avaliar um curso superior da Universidade São Judas Tadeu, localizada no bairro da Mooca em São Paulo. Eu e meu colega de avaliação, também professor, fomos instalados em uma sala situada no fundo de um grande salão do andar superior da universidade, destinada às atividades da comissão de avaliação. Ao redor deste salão existiam outras salas ocupadas pela direção da universidade.

Durante o intervalo para o almoço, fiquei esperando pelo meu colega em uma parte do salão e, para minha surpresa, apareceu saindo de uma das salas o Comandante Ozires Silva. Ali estava o homem que criou a Embraer, foi Presidente da Petrobrás, Ministro do Governo Federal, Presidente da Varig, além de piloto. Imediatamente criei coragem e fui me apresentar sem saber o que diria. Apertei a mão dele e balbuciei algo como “estou feliz em ter a oportunidade de conhecer o pai da Embraer. A sua determinação fez com que este país tenha uma forte indústria aeronáutica”. Só deu tempo dele agradecer minhas palavras, pois logo em seguida meu colega, acompanhado de outros professores da instituição, me chamou para almoçarmos.

No dia seguinte cheguei cedo à universidade e no trajeto até a minha sala, percebi que apenas uma das salas estava aberta. Olhei e vi o comandante Ozires Silva sentado a sua mesa. Cumprimentei, pedi permissão para adentrar e observei a decoração do ambiente, constituída basicamente de miniaturas de diversos tipos de avião, além de um único quadro pintado retratando um aeroplano, elementos decorativos simples como a pessoa que conhecera no dia anterior.

Iniciei uma conversa lamentando o fechamento do museu da TAM (hoje Latam), desde janeiro de 2016, e perguntei o que poderia ser feito para reativar esse “santuário” da aviação. Visitei esse museu duas vezes e apreciei-o tanto que gostaria de visitá-lo em outras oportunidades. O museu da TAM é um espaço cultural magnífico, talvez um dos maiores museus de aviação do mundo, localizado em São Carlos, interior de São Paulo. Abriga aproximadamente 110 aviões, desde réplicas idênticas do 14-bis e do Demoiselle de Santos Dumont, passando por caças da 2ª Grande Guerra como o Spitfire e o Messerchimitt 109, caças russos como o Mig-15 e Mig-19 e até o Constellation da antiga Panair do Brasil. Na minha segunda visita, em 2013, encontrei simuladores profissionais destinado ao público e os primeiros drones bélicos da aeronáutica.

O comandante Ozires Silva, muito calmo e com voz pausada, me respondeu que apesar das dificuldades estava tentando trazer o museu para um espaço no Campo de Marte em região próxima da marginal do Tietê em São Paulo. Recentemente tive a notícia de que levarão o acervo para a cidade de São José dos Campos em local onde se encontra o Memorial Aeroespacial Brasileiro.

Durante a avaliação soube que Ozires Silva fazia parte do Conselho da Universidade e que todos os dias era o primeiro a chegar, antes das sete horas da manhã. Na época, com 86 anos de idade, mostrava ser um exemplo para todos. Atualmente, com 90 anos completos, Ozires é o Chanceler da Universidade São Judas Tadeu. Coincidentemente meus queridos filho e nora são professores do curso de Odontologia dessa instituição.

Não sei a emoção de ir a Roma e apertar a mão do Papa, mas talvez seja próxima ou até a mesma de apertar a mão do Papa da Indústria Aeronáutica Brasileira. Vida longa a Ozires.

quarta-feira, 24 de março de 2021

Sete DICAS para iniciantes em aplicações de Renda Fixa (RF)

O objeto deste artigo é continuar à matéria sobre renda fixa (RF) publicada anteriormente neste blog. Orientar e recomendar certos procedimentos para as pessoas que estão iniciando no mundo das aplicações financeiras em RF é a finalidade principal, visando sempre a maximização do retorno financeiro dos investimentos. A observação do mercado de investimentos em RF ensejou a concepção de sete orientações, a seguir descritas.

1) Primeira orientação: saia da poupança. Atualmente a taxa Selic é de 2,75% a.a. (após a última deliberação do Banco Central). A poupança (a partir de 2012) rende 70% dessa taxa, correspondendo a 1,93% a.a. ou 0,16% ao mês, aproximadamente. A inflação medida pelo IPCA é de 5,20% a.a. para os últimos 12 meses. Esse valor corresponde a uma média mensal de 0,42%, representando quase 3 vezes o rendimento da poupança. Dessa forma, a poupança está sendo corroída pela escalada inflacionária a cada mês. Não é difícil de encontrar ativos de emissão bancária (CDB, LCA, LCI, etc) que remuneram 3 a 4 vezes o rendimento da poupança, ou seja, de 0,50% a 0,70% ao mês.   

2) “Fuja” dos grandes Bancos, pois oferecem produtos com retorno financeiro ínfimo quando comparado aos pequenos e médios bancos. Os gerentes ganham “gordas” comissões em alguns produtos. Os produtos que eles mais oferecem são Títulos de Capitalização, Poupança, Previdência Privada, Seguros, Cartões de crédito/débito e linhas de crédito (cheque especial, crédito consignado, crédito pessoal, etc). Alguns oferecem um CDB do próprio Banco com taxa de rendimento irrisória ou um Fundo de Investimento (FI) conservador que remunera abaixo da taxa Selic.     

3) Fugir para onde? Abra uma conta de investimentos em uma Corretora, mas ao mesmo tempo mantenha uma conta corrente em um Banco para recebimento de salário, transferências (TED, PIX), etc. Existem várias corretoras no mercado, como a Easynvest, XP, Modalmais (Banco Modal), Toro Investimentos, BTG Pactual, Rico, Órama, Ágora, etc. Os custos operacionais dos produtos dessas corretoras são, na sua maioria, grátis. Por exemplo, são gratuitos: a) Abertura e manutenção de contas; b) As aplicações em Tesouro Direto; c) Taxas de intermediação de CDB, LC, LCI, LCA, Debêntures, etc; d) Taxas de Renda Fixa; e) Tarifas de TED (transferência) para retiradas; f) Custódia da Bolsa; e outros produtos. E quais são as vantagens?

Vantagens de usar uma conta de investimentos de uma Corretora:

a)      Segurança total na operação da conta de investimentos da Corretora. O cliente não consegue transferir (retirar) seu dinheiro para conta de terceiros, mas somente para sua conta corrente do seu Banco. Mesmo que alguém obtenha acesso à conta do investidor na Corretora, a transferência do dinheiro só se dará para a conta corrente vinculada ao cliente.

b)      Grande quantidade e diversidade de produtos oferecidos. Na Renda Fixa, as corretoras oferecem ativos de grandes, médios e pequenos Bancos. Também oferecem vários ativos de créditos privados (CRA, CRI e Debêntures) de grandes empresas e ativos de Renda Variável, como COE, FIIs, e outros. Enfim, a aplicação não fica restrita a um só ativo de um grande Banco, como é o caso do cliente operar só com um banco, podendo ser distribuída para mais de 400 instituições financeiras (bancodata.com.br) que existem no país. Vale ressaltar que o cliente investidor não precisa abrir conta em todos os bancos que ele deseja aplicar. A conta aberta na Corretora permite que se realize aplicações em vários bancos.

c)      O cliente é o gerente da sua aplicação. O cliente não precisa mais de um intermediário no gerenciamento dos seus investimentos. Tem total autonomia para resgatar um ativo antecipadamente ou não, para escolher taxas, vencimentos e instituições.

d)      Facilidade de administrar as aplicações. O manuseio das operações nas plataformas (aplicativos) oferecidas pelas Corretoras não é complicado. Gerenciar os investimentos através das plataformas, ou seja, aplicar, resgatar, acompanhar, analisar e administrar são tarefas de fácil entendimento para pessoas que tem alguma familiaridade com aplicativos na Internet.

4) Aplique no curto prazo, no máximo dois anos. Investimentos em ativos com vencimento para mais de dois anos é temerário no atual momento do país. O Brasil continuamente passou por diversas crises e sua economia sempre foi caracterizada por instabilidade. Porém, o atual momento é de multiplicidade de crises: moral, política, fiscal, econômica, credibilidade, causada pela covid e outras. O Brasil de amanhã é incerto.

5) Diversifique as instituições, ou seja, distribua a quantia do investimento por diversos bancos. Aqui vale a máxima, não coloque todos os ovos na mesma cesta. Não é necessário abrir conta em todos os Bancos nos quais se pretende aplicar. Basta ter uma única conta na Corretora, pois ela será a intermediária com todos os Bancos. Vale lembrar que os ativos de emissão bancária (CDB, LCA, LCI, LC) são garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito). Isto foi visto no artigo anterior deste blog. O FGC garante o valor máximo de 250 mil reais de cada investidor contra a mesma instituição. A quantia acima de 250 mil não é garantida. Então, se o cliente tem 300 mil reais para aplicar, ele pode distribuir este montante em 10 ou 15 bancos diferentes, correspondendo a 30 ou 20 mil em cada banco, garantindo assim o reembolso do valor aplicado, com o rendimento acordado, em caso de falência ou liquidação de uma ou de mais de uma instituição.

6) Distribua a quantia aplicada em ativos que tenham vencimentos diferentes, ao longo do tempo. A idéia aqui é a mesma que se fazia na poupança, ou seja, colocar quantias em dias diferentes ao invés de depositar tudo no mesmo dia. Dessa forma, caso fosse necessário retirar algum dinheiro, isto poderia ser feito sem esperar pela data de aniversário da poupança. Então por exemplo, se o cliente tem 50 mil reais para investir na RF, ele pode investir no mesmo dia em 10 ativos de bancos diferentes, com vencimentos diferentes, ou seja, 5 mil para cada vencimento, Poderia ser um vencimento para daqui a 6 meses, outro para 7 meses e assim por diante. Dessa forma teria dinheiro todos os meses, a partir do 6º mês. Novamente, nunca ponha todos os ovos na mesma cesta.  

7) Observe o mercado secundário, pois às vezes oferece melhores taxas. O mercado secundário de RF difere do mercado primário. No mercado primário a oferta do ativo é feita pelo próprio Banco que emitiu o título. O dinheiro captado pelo Banco com a oferta do ativo é usado para as mais diversas finalidades. Por exemplo, se o ativo for uma LCA, o dinheiro será usado para financiar o agronegócio. Já no mercado secundário, o ativo é ofertado após o resgate antecipado de um título pelo investidor. Antes do prazo do vencimento o investidor faz o resgate e o Banco oferta novamente o mesmo ativo, quase sempre com as mesmas taxas de remuneração acordadas anteriormente. Muitas vezes é possível encontrar taxas de remuneração mais atraentes do que as do mercado primário.

Alguns sites colocam uma, às vezes duas dessas orientações, mas não todas. O próximo artigo do blog será sobre Fundos de Investimentos (FI) de Renda Fixa. Como escolher? Qual o melhor?

domingo, 21 de março de 2021

Linhagem sefardita da família Castro e Silva

Quando pesquisei a linhagem real da família Castro e Silva, objeto de matéria já publicada neste blog, observei que não existem ascendentes sefarditas no ramo paterno e materno do genearca dessa família no Ceará. A única judia encontrada na árvore familiar do açoriano José de Castro e Silva era a belíssima Yonat Paloma, cuja família era originária de Israel, descendente direta do Rei Davi.

Os sefarditas são judeus originários da Península Ibérica (Portugal e Espanha). O povo judeu viveu entre períodos de dominação e de liberdade, ao longo de sua história. A dominação dos Romanos na Judéia e a constante revolta do povo contra o Império Romano diminuíram a presença judaica na região por causa das expulsões em massa. Muitos deles emigraram para a Península Ibérica e lá viveram e constituíram famílias por muitos séculos.

A Santa Inquisição portuguesa iniciou coincidentemente logo após o descobrimento do Brasil. Foi direcionada principalmente aos judeus sefarditas, a quem o Estado forçava a se converterem ao cristianismo. Isto levou muitos judeus a buscarem refúgio nas terras do Novo Mundo. Apesar de não estar instituída no Brasil, a inquisição portuguesa expandiu suas operações enviando visitadores que direcionavam seus julgamentos contra os cristãos novos, ou seja, judeus convertidos ao cristianismo.

Embora não exista sefarditas e nem cristãos novos nos ascendentes de José de Castro e Silva, percebi a grande possibilidade de sua esposa ser descendente deles, uma vez que seus ascendentes são da família Bezerra de Menezes. O genearca da família Castro e Silva casou-se em 27/05/1748 com Anna Clara da Silva Cruz (1732-1790) na localidade de Passagens das Pedras, onde hoje se situa a cidade de Itaiçaba, Ceará.

Anna Clara, filha do português Antônio Silva da Cruz (1706-1757) e de Theresa Maria de Jesus (1709-1808), casou-se ainda menina com apenas 15 anos de idade. Tudo indica que era analfabeta, pois em 1781 pedira ao seu filho Vicente que assinasse o termo de alforria de seu escravo Nicolau. Sua mãe Theresa era filha do Sargento-Mor João de Souza Pereira (1677-1737) e de Joana Bezerra de Menezes (1680-1735). 

Joana, avó de Anna Clara, era filha de Bento Rodrigues Bezerra (1660- ?), meio cristão novo (*) e de Petronila Velho de Menezes (1663-1693), cristã velha. Dessa união, o patronímico de Bento, Bezerra, com o patronímico de Petronila, Menezes, surgiu a família Bezerra de Menezes.

Eduardo Bezerra Neto (*) mostra que alguns membros das gerações pregressas do patriarca da família Bezerra de Menezes são cristãos novos, a começar pelo pai do patriarca, o português Bento Rodrigues da Costa (? - ?). Eduardo observa que todos os Bezerras das gerações anteriores permaneceram como cristãos velhos (cristão que não foi judeu e nem tem antepassados judeus), enquanto que os Rodrigues como cristãos novos. O português Bento veio para o Brasil em data desconhecida, trazendo consigo sua mãe, Maria Simões (1629 - ?), que havia sido condenada pela Inquisição de Lisboa por evidentes origens judaicas. Possivelmente, Bento tenha subornado os inquisidores para obter sua liberação do cárcere.

A mulher do português Bento, Simoa Bezerra (1600-1657), era cristã velha, mas suas avós Brasia Monteiro (1554-1606), avó por parte de pai e Simoa da Rosa, avó por parte de mãe, eram cristãs novas. O pai de Brasia, Pantaleão Monteiro (1490 - ?), é considerado por alguns autores como “judeu marrano” e o pai de Simoa, Belchior da Rosa (1543 - ?), permaneceu identificado com cristão novo enquanto viveu.

Possivelmente, muitos descendentes de Pantaleão e de Belchior permaneceram fiéis ao judaísmo, praticando seus princípios judaicos, atravessando os séculos. A inquisição no Brasil foi até a segunda metade do século XVIII e os cristãos novos usaram artifícios para burlar os inquisidores. Um deles foi a nobilitação.

Após o domínio holandês no século XVII houve uma queda do preço do açúcar pernambucano no mercado estrangeiro. A conseqüência dessa queda foi o empobrecimento dos senhores das terras de Pernambuco que resolveram reivindicar o status de nobreza (comendas, títulos, etc), junto a corte portuguesa, a fim de compensar perdas sofridas nas guerras contra os holandeses. A partir da segunda metade do século XVII, esses processos de nobilitação se multiplicaram e serviram como forma de atestado de descendência não judia, pois aqueles que obtinham os Alvarás de nobreza mostravam que não tinham “sangue judeu” anotado nos processos. Isso constituiu uma maneira de dissimular as origens cristãs novas.

Anna Clara, acima citada, também tinha ascendência indígena por parte da sua bisavó Petronila, mas isto será objeto de outro artigo.

(*) Neto, Eduardo Bezerra – Cristãos velhos e cristãos novos na capitânia de Pernambuco e Ceará – séculos XVI e XVIII. Revista do Instituto Histórico do Ceará, 2016.   


segunda-feira, 15 de março de 2021

Investimentos em ativos de renda fixa ofertados por Bancos

As instituições financeiras fazem emissões bancárias de ativos com o objetivo de captar recursos. Encontramos no mercado financeiro alguns ativos, como CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letras de Crédito Imobiliário), LCA (Letras de Crédito do Agronegócio) e LC (Letras de Câmbio) que representam títulos nominativos de renda fixa emitidos pelos bancos em que a remuneração e o prazo são negociados no momento da aplicação. Vale ressaltar que há incidência do imposto de renda sobre os rendimentos das aplicações em CDBs e LCs, enquanto que as aplicações em LCIs e LCAs são totalmente isentas.

 

O rendimento ou remuneração que o investidor recebe do banco pode ser prefixado, pós-fixado ou misto (pós-fixado+prefixado).

 

O rendimento prefixado é aquele onde é possível saber quanto vai render o seu investimento até o vencimento do título. Por exemplo, o CDB do Banco X oferece uma taxa de remuneração de 10% ao ano. Então, se você investiu mil reais terá, após 365 dias, 100 reais de ganho.

 

Já no rendimento pós-fixado, a remuneração será conhecida no vencimento da aplicação, de acordo com a variação do indexador do produto. Por exemplo, o CDB do Banco Y oferece uma taxa de remuneração indexada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), no prazo de um ano. A taxa do CDI sempre está muito próxima da SELIC (taxa básica do Banco Central). Então, se a SELIC permanecer 2% ao ano durante sua aplicação e se o rendimento do seu CDB é de 150% do CDI, você receberá 3% ao ano de remuneração. Fica evidente que se a SELIC variar para cima ou para baixo antes do prazo de vencimento da sua aplicação, a remuneração também sofrerá variação.

 

A remuneração mista é uma mistura da pós-fixada com a prefixada. O rendimento também só será conhecido após o vencimento da aplicação e de acordo com a variação do indexador do produto. Normalmente esses produtos com remuneração mista são indexados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Por exemplo, o CDB do banco Z oferece uma taxa de remuneração indexada ao IPCA mais 5% prefixado, ou seja, IPCA+5%.

 

Por fim cabe lembrar que todos esses produtos acima possuem a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para minimizar o risco de crédito contra a instituição financeira que for associada ao fundo. O FGC é um fundo criado pelas instituições financeiras (Bancos e financeiras) associadas para prestar garantia de que seu investimento será preservado na hipótese de intervenção, liquidação extrajudical ou falência da instituição. O FGC garante o valor máximo de 250 mil reais de cada investidor contra a mesma instituição. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou em 21 de dezembro de 2017 uma alteração no Regulamento do FGC, estabelecendo um teto de um milhão de reais para garantias pagas a cada investidor (por CPF). Isso permite que uma pessoa tenha quatro CDBs em quatro bancos diferentes, com valor máximo de 250 mil reais por instituição, totalizando um milhão de reais garantido pelo FGC. Mais informações sobre o FGC você poderá encontrar no site www.fgc.org.br

 

Nos próximos artigos darei dicas de como distribuir suas aplicações de renda fixa, ao longo do tempo, de forma a maximizar seu retorno financeiro e mostrarei uma maneira simples de verificar a saúde financeira das instituições. 

sábado, 13 de março de 2021

Linhagem de batina da família Castro e Silva

No último artigo escrevi sobre a linhagem real da família Castro e Silva. Neste tratarei da linhagem de batina desta família, tendo o Padre Pedro José de Castro e Silva como figura central. O Padre Pedro nasceu em 28/03/1811 e faleceu em Fortaleza, com 79 anos de idade, em 29/01/1890. Bisneto do genearca da família Castro e Silva no Ceará, o açoriano José de Castro e Silva.

Filho primogênito entre nove irmãos, desempenhou o papel de chefe da clã, mantendo irmãos, cunhados, filhos, sobrinhos e netos sob rédeas curtas. Teve oito filhos, quatro homens e quatro mulheres, e mais de três dezenas de netos. Meu pai dizia que minha avó Cilencia (neta do padre Pedro) não usava o pronome de tratamento vossa reverendíssima e nem o chamava de padre quando se referia a ele. Chamava-o de Coronel, mas de uma forma quase inaudível, tamanho era o respeito e medo que o padre causava, mesmo depois de morto.

O sacerdotalis caelibatus, a jóia da castidade, não foi empecilho para o Padre se unir a sua companheira, Thereza de Jesus Maria, nascida em 1820 e falecida em 04/02/1879. O Padre sabia que não havia uma só palavra nas Escrituras Sagradas que impusesse o celibato sacerdotal. O amor da Sinhá Thereza não o levou a largar a batina.

Sinhá Thereza foi sepultada em Fortaleza no cemitério São João Batista. Consta em seu testamento (*) que ela morava na Chácara "São Sebastião", na cidade de Fortaleza. Provavelmente a chácara era um dos sítios que essa proprietária de sete escravos deixou, localizado "por detrás da antiga Igreja de São Sebastião", onde havia uma grande casa com plantações e fruteiras (nos anos de 1960 este local era conhecido como Jardim Japonês). A igreja ou capela situava-se no canto sudoeste da Praça São Sebastião, no início da Av. Bezerra de Menezes, em Fortaleza. A chácara localizava-se onde hoje é o Assai Atacadista, na mesma avenida. (*) Referência: APEC-COF, Inventário de Theresa de Jesus Maria, 11 de julho de 1879, maço 181.

Parafraseando o poeta sobralense Fco. José Ferreira Gomes:  "Seu Vigário", teve uma cambada de meninos e meninas, nascidos de seus amores com a Sinhá Thereza, sua doce companheira, mas também devia ser cozinheira, lavadeira, copeira, arrumadeira e amante nas horas de folga - quando o Padre fechava o Breviário (livro com os ofícios que os sacerdotes devem ler todos os dias) muito pesado, com milhares de páginas, contendo muito latim e muitos salmos, ele passava a ouvir e sentir outros salmos, os de Sinhá, que tinham gosto de mel.

Nos próximos artigos deste blog postarei novas estórias do Padre Pedro, uma delas contada pelo grande escritor cearense Gustavo Barroso.