domingo, 21 de março de 2021

Linhagem sefardita da família Castro e Silva

Quando pesquisei a linhagem real da família Castro e Silva, objeto de matéria já publicada neste blog, observei que não existem ascendentes sefarditas no ramo paterno e materno do genearca dessa família no Ceará. A única judia encontrada na árvore familiar do açoriano José de Castro e Silva era a belíssima Yonat Paloma, cuja família era originária de Israel, descendente direta do Rei Davi.

Os sefarditas são judeus originários da Península Ibérica (Portugal e Espanha). O povo judeu viveu entre períodos de dominação e de liberdade, ao longo de sua história. A dominação dos Romanos na Judéia e a constante revolta do povo contra o Império Romano diminuíram a presença judaica na região por causa das expulsões em massa. Muitos deles emigraram para a Península Ibérica e lá viveram e constituíram famílias por muitos séculos.

A Santa Inquisição portuguesa iniciou coincidentemente logo após o descobrimento do Brasil. Foi direcionada principalmente aos judeus sefarditas, a quem o Estado forçava a se converterem ao cristianismo. Isto levou muitos judeus a buscarem refúgio nas terras do Novo Mundo. Apesar de não estar instituída no Brasil, a inquisição portuguesa expandiu suas operações enviando visitadores que direcionavam seus julgamentos contra os cristãos novos, ou seja, judeus convertidos ao cristianismo.

Embora não exista sefarditas e nem cristãos novos nos ascendentes de José de Castro e Silva, percebi a grande possibilidade de sua esposa ser descendente deles, uma vez que seus ascendentes são da família Bezerra de Menezes. O genearca da família Castro e Silva casou-se em 27/05/1748 com Anna Clara da Silva Cruz (1732-1790) na localidade de Passagens das Pedras, onde hoje se situa a cidade de Itaiçaba, Ceará.

Anna Clara, filha do português Antônio Silva da Cruz (1706-1757) e de Theresa Maria de Jesus (1709-1808), casou-se ainda menina com apenas 15 anos de idade. Tudo indica que era analfabeta, pois em 1781 pedira ao seu filho Vicente que assinasse o termo de alforria de seu escravo Nicolau. Sua mãe Theresa era filha do Sargento-Mor João de Souza Pereira (1677-1737) e de Joana Bezerra de Menezes (1680-1735). 

Joana, avó de Anna Clara, era filha de Bento Rodrigues Bezerra (1660- ?), meio cristão novo (*) e de Petronila Velho de Menezes (1663-1693), cristã velha. Dessa união, o patronímico de Bento, Bezerra, com o patronímico de Petronila, Menezes, surgiu a família Bezerra de Menezes.

Eduardo Bezerra Neto (*) mostra que alguns membros das gerações pregressas do patriarca da família Bezerra de Menezes são cristãos novos, a começar pelo pai do patriarca, o português Bento Rodrigues da Costa (? - ?). Eduardo observa que todos os Bezerras das gerações anteriores permaneceram como cristãos velhos (cristão que não foi judeu e nem tem antepassados judeus), enquanto que os Rodrigues como cristãos novos. O português Bento veio para o Brasil em data desconhecida, trazendo consigo sua mãe, Maria Simões (1629 - ?), que havia sido condenada pela Inquisição de Lisboa por evidentes origens judaicas. Possivelmente, Bento tenha subornado os inquisidores para obter sua liberação do cárcere.

A mulher do português Bento, Simoa Bezerra (1600-1657), era cristã velha, mas suas avós Brasia Monteiro (1554-1606), avó por parte de pai e Simoa da Rosa, avó por parte de mãe, eram cristãs novas. O pai de Brasia, Pantaleão Monteiro (1490 - ?), é considerado por alguns autores como “judeu marrano” e o pai de Simoa, Belchior da Rosa (1543 - ?), permaneceu identificado com cristão novo enquanto viveu.

Possivelmente, muitos descendentes de Pantaleão e de Belchior permaneceram fiéis ao judaísmo, praticando seus princípios judaicos, atravessando os séculos. A inquisição no Brasil foi até a segunda metade do século XVIII e os cristãos novos usaram artifícios para burlar os inquisidores. Um deles foi a nobilitação.

Após o domínio holandês no século XVII houve uma queda do preço do açúcar pernambucano no mercado estrangeiro. A conseqüência dessa queda foi o empobrecimento dos senhores das terras de Pernambuco que resolveram reivindicar o status de nobreza (comendas, títulos, etc), junto a corte portuguesa, a fim de compensar perdas sofridas nas guerras contra os holandeses. A partir da segunda metade do século XVII, esses processos de nobilitação se multiplicaram e serviram como forma de atestado de descendência não judia, pois aqueles que obtinham os Alvarás de nobreza mostravam que não tinham “sangue judeu” anotado nos processos. Isso constituiu uma maneira de dissimular as origens cristãs novas.

Anna Clara, acima citada, também tinha ascendência indígena por parte da sua bisavó Petronila, mas isto será objeto de outro artigo.

(*) Neto, Eduardo Bezerra – Cristãos velhos e cristãos novos na capitânia de Pernambuco e Ceará – séculos XVI e XVIII. Revista do Instituto Histórico do Ceará, 2016.   


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