domingo, 12 de dezembro de 2021

Um chucrute na família Castro e Silva

Chucrute é um prato originário da Alemanha que leva repolho fermentado na sua composição. Durante a 1ª Grande Guerra e também a 2ª Grande Guerra os ingleses passaram a apelidar os soldados nazistas de chucrutes ou krauts. Esse apelido se tornou popular após dezenas de filmes de guerra usar esse termo.  

Albert Roth, judeu alemão/suíço, nasceu em uma região que fazia parte do antigo Império Germânico e que hoje pertence a atual Suíça (fronteira com o sul da Alemanha e com a região oeste da Áustria) por volta de 1840. Albert aportou no Brasil, no início da década de 1860, juntamente com seu irmão mais velho Jacob. Possivelmente viera de navio proveniente de Hamburgo, Alemanha, com os imigrantes alemães que se estabeleceram na região de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, e na região de Joinvile, em Santa Catarina. Atualmente, o sobrenome Roth está espalhado pelo Rio Grande do Sul e pelo Rio de Janeiro.

Albert era um artesão que fabricava e reparava relógios e seu irmão era ferreiro de profissão, Os dois logo se estabeleceram na praça de Fortaleza, angariando a confiança da população que demandava seus serviços. Jacob tinha uma oficina na Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo, em uma casa situada por detrás da Santa Casa de Misericórdia e Albert montou uma relojoaria na mesma rua, esquina com a Travessa Municipal, hoje Rua Guilherme Rocha (local do antigo prédio do hotel Savanah). Frequentemente Albert recebia encomendas de peças e relógios da Suíça que chegavam a Fortaleza de navio para atender seus ricos clientes, tornando-o um cidadão de grande prestígio na comunidade.

Em setembro de 1872, após o falecimento de seu irmão Jacob, Albert anunciou nos jornais de Fortaleza o pagamento de todos os credores do finado, mostrando suas qualidades de honradez. Em outubro do mesmo ano ele fez o leilão da oficina, liquidando todas as dívidas do irmão.

Albert casou com Eutiquina (filha do Padre Pedro José de Castro e Silva) por volta de 1865, tendo quatro filhos, 3 homens e uma mulher. Os filhos sabiam português, como se vê no cartão remetido da Alemanha por um dos filhos, Herman Roth, em 1904, o que faz supor que nasceram em Fortaleza. Em abril de 1891, já com os filhos crescidos, Albert encerra suas atividades na praça e retorna à Alemanha com sua esposa e filhos, vindo a morar em Hamburgo. Lina, sua única filha mulher, casa-se mais tarde na Alemanha e nunca mais retorna ao Brasil. Aos fins do século dezenove, Albert falece em um acidente de trem quando viajava para Berlim e a viúva passa a morar com a filha em Hamburgo.

Eutiquina vivia bem na Alemanha com a renda das casas que possuía em Fortaleza. Retornou ao Brasil no início da 1ª Grande Guerra, em 1914, para vender algumas propriedades. Tomou o último navio que saiu do porto de Hamburgo para o Brasil antes do início da guerra. A viagem ao Brasil era para durar alguns meses, mas por aqui ficou até o término da guerra em 1918. Inicialmente passou uma temporada hospedada no Hotel Central situado na Praça do Ferreira, onde ocupava o sobrado reformado de 3 andares do Comendador Machado. Esse sobrado foi demolido ao final da década de 1920, para a construção do antigo Hotel Excelsior (hoje abandonado). Ao final da guerra, Eutiquina retorna a Alemanha e não se tem mais notícias.

Dos filhos homens de Albert e Eutiquina, sabemos que um de nome Herman era da marinha mercante, na década de 1950, tendo o navio que comandava aportado em Fortaleza. Na ocasião que aqui esteve, procurou e visitou sua prima Cilência (minha avó). Um outro filho abraçara o comércio, pois teria sido guarda-livros da Brahma no Rio de Janeiro. O filho caçula, Alberto Roth Filho, se tornou um virtuoso pianista aos 16 anos, tendo participado de concertos-soirée no Clube Iracema de Fortaleza que na época funcionava no atual edifício da Secretaria Municipal de Finanças (Palácio Iracema).

Alberto Filho casou com Isabel Pinto de Mendonça, em Fortaleza, no ano de 1894. No ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro onde seguiu a profissão de maestro, se apresentando por diversas vezes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a partir de 1909, com a orquestra da cidade. Da sua união com Isabel teve os seguintes filhos: Antonio Roth, nascido em 1895, Maria (n. 1902 e f. 1990) e Helena (n. 1903 e f. 1992).

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Como investir em períodos de recessão

O Banco Central do Brasil aumentou hoje a taxa Selic para 9,25% a.a. e o PIB recuou 0,1% no 3º. Trimestre. Será que estamos numa recessão técnica, como disse o Ministro Paulo Guedes, ou em uma estagflação? O que isso significa para o investidor? A manutenção de juros reduzidos por muito tempo, aliada a outros fatores econômicos ou não, pode provocar catástrofes, como veremos a seguir. Em momentos de inflação alta, o remédio do Banco Central é subir os juros. Quando as subidas dos juros surtem efeito, há um abrandamento do crescimento econômico. Uma diminuição muito forte do crescimento associado a uma inflação alta pode gerar uma estagflação. Nessa fase pressões inflacionárias podem perdurar enquanto houver escassez de produtos e classes de trabalhadores receberem aumentos salariais.

As baixas taxas de juros, às vezes mantidas por anos, e a disponibilidade de capital de risco podem gerar bolhas especulativas como a que ocorreu no final de década de 90 e que foi chamada de “bolha das empresas PontoCom”. O estouro da bolha foi precedido por um longo período de “exuberância irracional”, caracterizada por uma forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação baseadas na Internet, nas palavras do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan. Durante o ano de 1999 até o início de 2000, o banco central americano aumentou a taxa de juros em seis vezes e houve uma ruptura na economia culminando com o estouro da bolha em 10 de março de 2000, quebrando mais de 500 empresas da noite para o dia. Nesse ano, aqui no Brasil, o Ibovespa registrou perda de quase 20%.

 

Mais recentemente, no ano de 2007, foi desencadeada uma crise imobiliária nos Estados Unidos, chamada de Crise do Subprime (dívida hipotecária) que no seu auge quebrou um dos bancos de investimentos mais tradicional dos EUA, o Lehman Brothers. Da mesma forma que a bolha da Internet, houve uma época de muita exuberância que antecedeu a crise, caracterizada pela concessão de empréstimos hipotecários de alto risco, transferência desenfreada de créditos a terceiros e uma vez mais a manutenção de juros reduzidos por longo período. Ao longo de 2007 até o ano de 2008, o banco central americano aumentou substancialmente a taxa de juros. 


Esses dois momentos foram épocas difíceis para os mercados mundiais, sendo os setores como consumo de bens de luxo, financeiro e imobiliário os mais prejudicados, tanto nos países ricos quanto nos emergentes. A crise de 2008 foi chamada aqui no Brasil de marolinha.


Após a estagflação vem a fase da “Reflação”, caracterizada por um crescimento fraco (quase zero) e uma inflação decrescente. Nessa fase, os títulos do governo oferecem melhores rentabilidades, uma vez que as expectativas futuras de inflação são de baixa e o banco central ainda terá espaço para diminuir mais ainda a taxa de juros.  


Quando a descida da taxa de juros começa a surtir efeito na economia, o crescimento recupera. Na fase de “Recuperação” os lucros das empresas aumentam, mas o excedente da capacidade dos mercados de trabalho e de produto faz com que a inflação permaneça baixa. A combinação de bons resultados das empresas com taxas de juro baixas possibilita ao investidor um cenário mais favorável para o mercado de ações. 


A partir daí, há um forte crescimento que pode gerar, após um período, obstáculos que diminuem ou mesmo impeçam o crescimento da economia. Os preços sobem e os bancos centrais aumentam as taxas para evitar pressões inflacionárias. Nessa fase, chamada de "Sobreaquecimento", as commodities e o ouro oferecem, geralmente, rendimentos mais atrativos. 


Após o Sobreaquecimento, vem novamente a fase já mencionada de "Estagflação", onde os lucros empresariais contraem-se à medida que os volumes caem e os custos sobem, mas os bancos centrais mostram-se renitentes em cortar as taxas com medo de aumentar as expectativas de inflação. Nesta fase, as commodities têm um bom comportamento, mas são arriscadas devido à diminuição da procura. 


A história tem nos mostrado que existem ciclos ou fases (Estagflação, Reflação, Recuperação e Sobreaquecimento) na economia que se sucedem em períodos variáveis. O entendimento desses ciclos é fundamental para o investidor perceber quais classes de ativos costumam ter um melhor comportamento que outras em diferentes fases do ciclo econômico.

 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O HERESIARCA

Recebi do meu amigo Ignácio Costa Neto o livro “O Heresiarca, Deus criando as religiões e nelas intervindo”. O livro é um incentivo ao retorno do homem hodierno, atual, ao interesse por sua inata religiosidade. O livro está dividido em 19 capítulos, sendo que os 17 primeiros reúnem argumentos que justificam a conclusão do capítulo 18.

O autor do livro, Ignácio Costa Neto foi meu colega por quase 7 anos no glorioso Colégio Militar de Fortaleza, entre os anos de 1965 a 1971. Convivemos neste tempo e aprendemos a ter disciplina, dedicação, respeito pelo próximo e pelos superiores. Em 1972 trilhamos caminhos diferentes, ele foi para a Engenharia Civil da UFC e eu fui para Engenharia Química da mesma universidade. Anos mais já tarde, ambos já formados, nos encontramos casuisticamente após um concurso nacional para a Caixa Econômica Federal. Ele passou em primeiro lugar nesse concurso e se tornou o Chefe da Unidade de Engenharia da Caixa. Durante anos, continuamos nos encontrando esporadicamente para relembrar nossas peripécias e colegas do Colégio. Após a sua aposentadoria, Ignácio fez um novo concurso para Auditor de Tributos da Prefeitura de Fortaleza, onde hoje se encontra.

O livro é para ser lido, no meu entendimento, de forma vagarosa, saboreando cada um dos capítulos, parágrafos, frases e palavras, como se estivesse comendo bem lentamente ("pipando" como se dizia antigamente) um doce de leite. O leitor deve estar preparado para a filosofia e filósofos citados, para as reflexões e deve estar despido de qualquer preconceito. Parabenizo o Ignácio pelas ideias, reflexões, narrativas e histórias que são úteis para qualquer leitor. Parabenizo pelo trabalho, dedicação, disciplina (aprendemos no CMF) e coragem para expor suas convicções.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Os Castro e Silva de Cascavel - Ceará

O açoriano José de Castro e Silva (1709-1784), patriarca da família Castro e Silva, aportou no Ceará por volta de 1745, desembarcando no povoado de Aracati. Casou-se em 27/05/1748 na Fazenda Passagem das Pedras (hoje situada na cidade de Itaiçaba) com Anna Clara da Silva Cruz (1732-1790), filha de Antônio Silva da Cruz (natural da Freguesia do Espírito Santo em Lisboa) e de Teresa Maria de Jesus (viúva de José Ferreira Collaço e descendente da família Bezerra de Meneses). José foi proprietário de terras no Palhano e do sítio Juazeiro, herdado por seu filho João. Seus 10 filhos nasceram, foram criados e educados no sítio Juazeiro, próximo a cidade de Aracati.  

Os dois filhos mais velhos ocuparam os principais cargos da cidade de Aracati. O primogênito era o coletor de impostos e tesoureiro na localidade e o segundo filho foi Capitão-Mor da cidade. Já no final do século XVIII, os Castro e Silva detinham poder político e econômico da província do Ceará e mantinham prepostos em Fortaleza, cidade que naquela época representava o poder militar. Talvez por falta de oportunidade em Aracati, outros quatro filhos de José foram morar em outras cidades do Ceará, sendo um em Fortaleza (capital da província), um em Sobral (região norte) e dois em Cascavel (vila situada a meio caminho entre Aracati e Fortaleza). Os dois filhos que se fixaram em Cascavel, o Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva (1764-?) e o Padre Joaquim José de Castro e Silva (1772-1824), vieram para a vila por volta de 1789.

Francisco Xavier, o mais velho dos dois, ocupou o posto de capitão de ordenanças na vila de Cascavel. A estrutura militar lusitana do último terço do século XVIII, que se transferiu para o Brasil, se dividia basicamente em dois tipos específicos de força: os Corpos Regulares (conhecidos também por Tropa Paga ou de Linha) e os Corpos Irregulares ou de Ordenanças. Os Corpos Regulares formavam o exército “profissional”, sendo a única força paga pela Fazenda Real. Essa força organizava-se em regimentos, terços e companhias, cujo comando pertencia a fidalgos de nomeação real. Teoricamente, dedicavam-se exclusivamente às atividades militares.

Os Corpos de Ordenanças, conhecidos por paisanos armados, possuíam um forte caráter local, pois eram recrutados dentre os indivíduos da população masculina da localidade. Os componentes do Corpo de Ordenanças não recebiam soldo, permaneciam em seus serviços particulares e, somente em caso de grave perturbação da ordem pública, abandonavam suas atividades. Os postos do Corpo de Ordenanças de mais alta patente eram na ordem de hierarquia: capitão-mor, sargento-mor e o capitão de ordenanças.

Os capitães-mores, além de funções militares, eram também responsáveis por representar o governo e chefiar parte da administração pública na sua cidade. A maior parte da administração pública era exercida pelos indivíduos eleitos da Câmara (hoje vereadores) que formavam o Conselho da vila ou cidade. O cargo de capitão-mor era perpétuo, ocupado pelas “pessoas principais” do local e conferia a seus ocupantes “nobreza vitalícia”.

O posto de capitão de ordenanças, hierarquicamente inferior ao de capitão-mor, era em muitos casos, a porta de entrada para os nomeados atestarem seu valor e conseguirem alcançar uma patente mais alta. O capitão de ordenanças era responsável por recrutar os indivíduos que formavam a força militar local e por comandar, em caso de necessidade, as companhias dos regimentos.

O Capitão Francisco Xavier comandou o corpo de ordenanças de Cascavel até o seu falecimento. Casou-se em 08/06/1790, na capela de Nossa Senhora do Ó de Cascavel, com Anna Thereza de Jesus (1769-?). Dessa união nasceram três filhos, que se tem conhecimento da existência deles: Rita Angélica de São Francisco (1791-1880), Manoel de Castro e Silva (1794-?) e Luiz de Castro e Silva (1796-?). 

Rita Angélica casou-se em janeiro de 1807 (16 anos de idade), na cidade de Cascavel,  com José Ignácio da Silveira e Silva (?-1843), filho do notável advogado José Ignácio da Silveira Gadelha, pernambucano de Igarassu, que foi o 1º tabelião de Aquiraz, e de Maria Ignácia Gadelha. Rita Angélica faleceu em Aquiraz aos 89 anos de idade e 37 anos de viuvez. Teve 8 filhos entre eles o Padre Pedro José de Castro e Silva (1811-1889), meu trisavô.

Aqui cabe ressaltar que o Padre Pedro era descendente, por parte de mãe, da família Castro e Silva e, por parte de pai, da nobre família Gadelha de Pernambuco. Seu tetravô, o português Manoel da Costa Gadelha veio para o Brasil servir na guerra contra os holandeses. Após a restauração de Pernambuco, Manoel reivindicou o status de nobreza (cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor e governador das armas do rio São Francisco), junto à corte portuguesa, a fim de compensar as perdas sofridas na guerra.

O filho caçula do Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva, de nome Luiz, se fixou em Cascavel e se tornou agricultor e grande proprietário de terras na região de Tijucussu, próximo da praia da Caponga. Casou com Anna Gonçalves (Sinhá Aninha) e dessa união teve uma filha, Angelina Sabina, que veio a se casar com um membro da família Goes, gerando vários descendentes na cidade de Fortaleza.

O Padre Joaquim José (filho caçula do patriarca José de Castro e Silva), irmão do Capitão Francisco Xavier, viveu em concubinato com a irmã de Anna Thereza (mulher de Francisco), chamada Ignácia Maria de Jesus. Essas irmãs eram filhas do Capitão Antonio José Pereira Leite, português, nascido em Guimarães e de Angélica Francisca Rabelo Vieira. Esse Padre teve 2 filhos com Ignácia: Jose Marcos de Castro e Silva (1814-1867) e Joaquim Emygdio de Castro e Silva (1816-?).

José Marcos foi o 10 tabelião de Cascavel e seu cartório passou por mais de 5 gerações da sua família. Atualmente, um dos cartórios da cidade pertence aos descendentes dele. O segundo filho, Joaquim Emygdio, teve descendentes que incorporaram o nome Emygdio ou Emigdio, como segundo nome. Quase todos Emígdio de Castro do Ceará são provenientes do filho mais novo do Padre Joaquim. 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Onde investir em renda fixa com vencimento até 2 anos

O boletim Focus do Banco Central mostra projeções da expectativa do mercado para a inflação (IPCA), câmbio, preços administrados, meta Selic e outros índices. Segundo o último relatório Focus do dia 12/07/2021, a taxa SELIC deve chegar a 6,63% até o final de 2021 e se manterá neste patamar em 2022 com ligeira alta. Já o câmbio deve fechar o ano no nível de R$ 5,05 por dólar.

 

2021

2022

2023

IPCA

6,32

3,71

3,25

Câmbio

5,05

5,20

5,00

Meta SELIC

6,63

7,00

6,50

IGPM

18,35

4,60

4,00

Preços Administrados

9,70

4,50

3,75

Taxas projetadas pelo Relatório Focus do BC de 12/07/2021

O IBGE anunciou o IPCA do mês de junho de 2021 em 0,53%. Com isso, a inflação dos 12 últimos meses está no patamar de 8,35%, bem superior ao esperado, ocasionando pressão sobre os juros de curto prazo. Essa persistência da inflação em patamares elevados gerou nos últimos meses altas sucessivas da Selic, hoje em 4,25%, e provocou um sentimento de insegurança sobre possíveis desestímulos na economia para conter a inflação. Contudo, a curva de juros de longo prazo (que indica o nível de incertezas para o futuro) já é perceptível essa tendência com os juros DI com vencimento em 2027 saltando de 6,40% para 8,60%.

Se o COPOM aumentar a SELIC para 6,50% até o final de 2021 e mantiver a mesma taxa em 2022, o CDI terminará no ano de 2021 (acumulado) em 4,05% e manterá próximo de 6,50% em 2022, projetando uma taxa mensal de 0,52%.

Alguns analistas do mercado financeiro já trabalham com uma projeção de 8,50% para a taxa de juros. Outros acreditam que a taxa não passará de 7,50%, mas será superior a taxa de 6,50% projetada pelo Banco Central há uma semana atrás. Acredita-se que por causa da inflação e das eleições no ano que vem, os juros devem precificar para cima, principalmente se um candidato com visão mais socialista ganhar a eleição. No entanto, lembre-se que juros elevados é a principal medida do Banco Central para conter a inflação, mas por outro lado inibem o crescimento do País (PIB).

Considerando que o País tem passado continuamente por diversas crises desde o primeiro presidente (Marechal Deodoro) e que elas são de natureza moral, política, fiscal e econômica, pode-se afirmar, sem pestanejar, que o futuro do Brasil é incerto e sempre será. A instabilidade política e econômica atual não permite cravar uma inflação perto da meta projetada, e consequentemente, a precificação dos juros para cima é inevitável.  

Observando os ativos de renda fixa, de emissão bancária, ofertados pelo mercado no mês de julho, verifica-se uma maior oferta de ativos pós-fixados em CDI e de prefixados e uma pequena oferta de ativos atrelados ao IPCA. Isto deixa claro que as instituições bancárias estão céticas em relação a uma inflação em torno de 6,30% ao final de 2021 e mais descrentes ainda com a taxa projetada de 3,75% para 2022. A tabela abaixo mostra as taxas médias de CDB, LCI e LCA ofertados em 12/07/2021 pelo mercado de renda fixa, com vencimentos em 1 e 2 anos.

Ativo

Vencimento em 12/07/2022

Vencimento em 12/07/2023

 

Prefixado

Pós – CDI

IPCA+fixo

Prefixado

Pós - CDI

IPCA+fixo

CDB

8,00%

125%

Ipca+2,10%

9,55%

130%

Ipca+3,80%

LCI / LCA

7,00%

102%

Ipca+1,15%

7,70%

105%

Ipca+2,50%

Taxa média dos ativos com mais retorno em 12/07/2021

Em um artigo publicado neste blog em março passado, recomendei que os investidores aplicassem no curto prazo, no máximo dois anos diante das incertezas que atravessam o País e fugissem do longo prazo. Investimentos em ativos com vencimento para mais de dois anos é temerário no atual momento.

Diante do cenário pré-eleitoral, da pandemia de covid inacabada, do pessimismo do mercado, os investimentos em prazos curtos (até 2 anos), atrelados ao IPCA (inflação) devem oferecer um rendimento maior, mas não descartaria um CDB prefixado com taxa superior a 12% (difícil encontrar).

segunda-feira, 5 de julho de 2021

O jogo só acaba quando termina

Creso foi o último Rei da Lídia, região que hoje compreende a parte ocidental da Turquia. Viveu no século VI a.c. e foi considerado o homem mais rico do mundo daquela época, graças as minas de ouro do reino. Conta-se que Sólon, um dos sete sábios da Grécia, conhecido pela sua sabedoria, moral ilibada, dignidade e inteligência, visitou Creso em Sardes, cidade da Lídia, mas não ficou surpreso com a riqueza e nem demonstrou a menor admiração pelo rei. Enfurecido Creso perguntou se Sólon havia conhecido homem mais feliz que ele. Sólon respondeu não podia admirar a felicidade de um homem porque no decorrer do tempo essa felicidade poderia sofrer mudança, uma vez que o futuro é incerto e ainda não tinha chegado. O equivalente moderno das palavras de Sólon é “nada está acabado até acabar” ou como dizia Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians, “o jogo só acaba quando termina”.

 Até por volta de 550 a.c. o reino da Lídia fazia fronteira com o Império Medo ou Média, que por essa época foi tomado pelo exército de Ciro, o Grande. Diante do domínio dos Persas sobre o povo Medo, Creso procurou tirar proveito da situação para expandir suas fronteiras para leste. Sabendo que teria inevitavelmente de enfrentar os Persas, antes de confrontá-los enviou um mensageiro ao Oráculo de Delfos consultando sobre êxito das suas intenções de tomar as terras dos Medos. O Oráculo respondeu que se atravessasse o rio Hális, fronteira natural entre os reinos, com seu exército, acabaria por destruir um império.

Sólon havia dito a Creso, sobre sua riqueza e esplendor, que tudo que vem com auxílio da sorte pode ser tomado pela própria sorte (em geral, rápido e inesperadamente). Sólon também teria dito que não importa com que frequência algo tem êxito se o fracasso tem um preço excessivamente elevado.

Incentivado pela profecia do Oráculo, Creso avançou com seu exército, atravessou o rio Hális e tomou parte das terras dos Medos. Sabendo do ocorrido, Ciro, o Grande, reuniu suas tropas e atacou as forças lídias que sofreram perdas significativas, retornando para Sardes. Esta derrota implicaria que a profecia do Oráculo fosse na realidade cumprida, mas ao contrário do que Creso tinha imaginado, ou seja, ao cruzar o rio Hális, Creso levou à queda de um império, o seu. Em 546 a.c. Ciro dominou a Lídia e Creso foi morto na fogueira. Antes de morrer, Creso teria gritado: “Sólon, você tinha razão”.

Hoje, muitas pessoas no Brasil, principalmente as vacinadas contra covid, tem se comportado como Creso, apesar do futuro incerto da pandemia. Ouço diariamente pessoas dizendo que já tomaram as duas doses da vacina e, por isso, estão imunizadas, não precisam do distanciamento, podem aglomerar e não usam máscaras. Se Vicente Matheus estivesse vivo diria que a pandemia de covid só acaba quando termina. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

A Ditadura da Minoria - 2a e Última Parte

Renormalização

Para analisar como a minoria aumenta suas preferências sobre as vontades da maioria emprega-se um método chamado de grupo de renormalização, um poderoso aparato da matemática, que permite investigar como as coisas aumentam (ou diminuem) na regra da minoria. 



A Figura 1 mostra uma sequencia de caixas semelhantes que apresentam as mesmas propriedades do conjunto de Cantor (https://pt.wikipedia.org/wiki/Conjunto_de_Cantor). Cada caixa contém quatro caixas menores. Cada uma das quatro caixas menores contém mais quatro caixas menores ainda, até chegarmos a um determinado nível de tamanho. Essa figura denota uma autosimilaridade fractal (https://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal). Na 1ª caixa existem duas cores: amarelo para a maioria, e rosa para a minoria.

A 1ª caixa da figura está dividida em 4 caixas menores, onde cada caixa está em um quadrante do plano cartesiano cujo centro é o mesmo da caixa maior. Por sua vez, a caixa do quadrante IV (corresponde a caixa que está na parte de baixo a direita) está dividida em outras 4 caixas menores, sendo que uma delas está na cor rosa. Suponha que a caixa do quadrante IV represente uma família de quatro pessoas. Um delas está na minoria intransigente (caixa rosa contida no quadrante IV) e come apenas comida AGM free (Alimentos Geneticamente Modificados). Os outros membros da família estão na cor amarela. Suponha que a filha teimosa (caixa rosa contida no quadrante IV) consegue impor sua regra aos outros três membros e, consequentemente, a unidade (família) assume a cor toda rosa, ou seja, opta por comida AGM free (2ª caixa da figura). Houve então a primeira renormalização.  

Agora, suponha toda a família indo para um churrasco com a participação de outras três famílias. Como eles são conhecidos por comer apenas AGM free, os anfitriões cozinharão apenas comidas não modificadas geneticamente. A mercearia local percebendo que a vizinhança agora é apenas comedora de AGM free, resolve vender este tipo de alimento para simplificar a vida, o que impacta no atacadista local, e as histórias se repetem e se “renormalizam”. A última caixa da figura (enésima caixa) está toda na cor rosa após várias renormalizações.

O físico francês Serge Galam (https://en.wikipedia.org/wiki/Serge_Galam) foi o primeiro a aplicar essa técnica de renormalização às questões sociais e à ciência política. Imagine que um partido de extrema esquerda ou de direita tem o apoio de dez por cento da população. Então, seu candidato teria dez por cento dos votos? A resposta é não. Esses eleitores da base devem ser classificados como "inflexíveis" e sempre votarão no candidato do seu partido. Mas alguns dos eleitores flexíveis também podem votar nesse partido e essas pessoas são as únicas a serem observadas, pois podem aumentar o número de votos para o partido extremista. Os modelos de Galam produziram uma série de efeitos contra intuitivos na ciência política e suas previsões mostraram-se muito mais próximas dos resultados reais do que o consenso da maioria.

No exemplo anterior da família e da renormalização foi visto o efeito do “veto”, ou seja, uma pessoa em um grupo pode orientar as escolhas. Isto explica por que algumas cadeias de fastfood, como o McDonald's, prosperam, não porque oferecem um ótimo produto, mas porque não são vetadas em um determinado grupo sócio-econômico. Quando há poucas escolhas, o McDonald's parece ser uma aposta segura. Pizza é a mesma história: é uma comida aceita comumente para refeição noturna, pois ninguém ficará aborrecido por comer pizza no jantar.

Nassim Taleb concluiu que todo o crescimento da sociedade, seja econômica ou moral, vem de um pequeno número de pessoas. O risco de incertezas tem um papel preponderante na condição da sociedade. A sociedade não evolui por consenso, votação, maioria, comitês, reuniões verbais, conferências acadêmicas e pesquisas. A sociedade evolui quando poucas pessoas são suficientes para mover o mundo de maneira desproporcional. Tudo o que se precisa é de uma regra assimétrica em algum lugar, e a assimetria está presente em quase tudo.


 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

A Ditadura da Minoria - 1a Parte

Em agosto de 2016 Nassim Taleb escreveu um artigo interessante, em inglês, sobre a ditadura da pequena minoria. Nassim Taleb é um autor de livrosestatístico e analista de riscos (https://en.wikipedia.org/wiki/Nassim_Nicholas_Taleb). Seus livros tratam das incertezas e dos eventos imprevisíveis. Pessoas e empresas podem se beneficiar e até crescer com certos eventos imprevisíveis, segundo ele. Uma interpretação resumida do artigo de Nassim é apresentada a seguir.

Há situações em que uma minoria intransigente, talvez 3% ou 4% da população total, é suficiente para submeter suas preferências a todos indivíduos. Um observador ingênuo ficaria com a impressão de que as escolhas e preferências são as da maioria, mas não são. Parece absurdo. Instituições acadêmicas e científicas não estão preparadas para identificar esse tipo de comportamento e fazem julgamentos precipitados, principalmente quando os sistemas são complexos.

A idéia principal por trás de sistemas complexos é que todo o conjunto se comporta de maneira não prevista pelos componentes. As interações importam mais do que a natureza das unidades. Por exemplo, estudar formigas de forma individual nunca nos dará uma idéia de como funciona a colônia de formigas. Para isso, é preciso entender uma colônia de formigas, como ela se comporta. Isso é chamado de propriedade "emergente" do todo, pela qual partes e todo diferem, porque o que importa são as interações entre as partes. As interações podem obedecer a regras muito simples. A regra discutida neste artigo é a regra da minoria.

A regra da minoria mostra que é preciso ter um pequeno número de pessoas intolerantes, mas virtuosas, corajosas e arrojadas, para a sociedade funcionar adequadamente. Exemplos da regra da minoria são dados a seguir.

Uma pessoa com deficiência não usará o banheiro regular, mas uma pessoa sem deficiência usará o banheiro para pessoas com deficiência”. Na prática, às vezes hesitamos em usar o banheiro para deficientes sob a crença de que o banheiro é reservado para uso exclusivo deles.

Alguém com alergia a amendoim não vai comer produtos que tenham como ingrediente o amendoim, mas uma pessoa sem tal alergia pode comer produtos sem traços de amendoim”. Isto explica por que é tão difícil encontrar amendoins em aviões.

Uma pessoa honesta nunca cometerá atos criminosos, mas um criminoso pode se envolver prontamente em atos legais”. Lampião e Pablo Escobar são exemplos.  

A minoria forma um grupo intransigente e a maioria um grupo flexível. A regra é assimétrica em relação às escolhas. Mas para que a regra da minoria aconteça, duas coisas são importantes. Primeiro, a estrutura espacial da distribuição da minoria. Faz uma grande diferença se os intransigentes estão em seu próprio bairro ou se estão misturados com o resto da população. Por exemplo, se as pessoas que seguem um governo minoritário vivem em guetos, com sua pequena economia separada, então a regra da minoria não se aplica. Mas, quando uma população tem uma distribuição espacial uniforme e a proporção de tal minoria é a mesma no bairro, cidade, estado e país, então a maioria (flexível) poderá se submeter à regra da minoria. Em segundo lugar, a estrutura de custos é importante. Por exemplo, uma indústria de alimentos que oferta produtos AGM (alimentos geneticamente modificados) e AGM free (naturais). Se a diferença de custos na produção desses alimentos for pouca, então é preferível produzir somente AGM free, uma vez que atende tanto a maioria flexível quanto à minoria intransigente. 

terça-feira, 8 de junho de 2021

O Préstito do Padre Pedro

O Padre Pedro José de Castro e Silva faleceu em 29/01/1890 em Fortaleza. Era um homem muito rico, com várias propriedades e residia, na época da sua morte, a Rua Senador Pompeu, antiga Rua da Amélia, do lado da sombra no número 210. Muito antes comprara oito casas vizinhas e conjugadas a sua e dera para cada um dos seus filhos.

Já muito adoentado, no leito da morte, mandou chamar o tabelião de Fortaleza, bem cedo ao raiar do dia, para fazer o testamento. Este o encontrou já nos últimos estertores. Recebeu e registrou os legados dos filhos (o Padre os chamava de sobrinhos), que saíram por entre soluços da pré-agonia.

Gustavo Barroso em seu livro Liceu do Ceará (*) conta que o tabelião disse ao padre que tinha conhecimento da existência de um herdeiro legítimo, não nomeado no testamento, e que era dever dele lembrá-lo para que não houvesse omissão.

O Padre indagou em voz sumida:
- Quem é?

O tabelião nomeou-o:
- O Dr. Manuel Ambrósio da Silveira Torres Portugal, seu sobrinho.

O moribundo recostou-se mais nos travesseiros e, fazendo o gesto vulgarmente chamado de armas de São Francisco, expirou com essas palavras:
- Deixo-lhe uma banana!

Por essa razão, em Fortaleza, quando se perguntava a alguém o que havia deixado um parente rico acabado de morrer, a resposta era fatal: uma banana!

Esse rancor do Padre, transformado em cólera, ao sobrinho era reflexo de sério desentendimento que tivera com seu cunhado, o português Manuel Antonio Torres Portugal, pai de Manuel Ambrósio, por questões financeiras e de propriedade. O português o acusara de vender seu estabelecimento situado na cidade de Jardins, CE, e de não ter recebido o dinheiro da venda. Por sua vez, o padre o acusava de ser ingrato, pois o ajudara na sua chegada e instalação em Fortaleza vindo de Portugal. Essa desavença se estendeu por vários anos.

O velório começou no domicílio do Padre no mesmo dia e foi até o fim da tarde do dia seguinte à espera do filho que morava na região de Redenção, Ce. Puseram o caixão na sala de visita, ladeado por quatro velas enormes que deveriam arder até o fim e na porta de entrada da casa uma negra cortina com uma grande cruz prateada ao centro. Irmãs, filhos e filhas, cunhados e cunhadas choramingavam pelos cantos, rezando o terço freneticamente. A noite foi longa, a espera do dia seguinte.

Naquela época não existiam automóveis para derradeira viagem. Os enterros eram verdadeiras procissões, a pé, que podiam se estender por quilômetros. No dia seguinte, abria o préstito uma cruz negra de cujo pedestal pendia uma saia, que era um pano de veludo preto com franjas douradas. A frente ia o cura da Sé (catedral) paramentado e dois coroinhas, e logo atrás vinha o féretro, levado por quatro homens, vestidos de casacas compridas pretas, com cartolas de oleado reluzente e calças com listras vermelhas. Esses homens eram chamados de Gatos-Pingados.

Otacílio de Azevedo conta no seu livro Fortaleza Descalça (**) que os Gatos-Pingados eram um dos aspectos mais curiosos da Fortaleza antiga. Eram contratados para levar o defunto ao cemitério. O pesado esquife era equilibrado sobre duas tábuas em cujas pontas havia aldrabas seguras pelas mãos enluvadas dos sinistros carregadores, num ritmo macabro e cadenciado. O caixão dançava naquelas mãos num vaivém funambulesco, arrancando lágrimas nos olhos da população curiosa que se aglomerava no trajeto até o cemitério. Quando o cortejo era pequeno, costumava-se dizer “não deu quase ninguém, só alguns gatos pingados!”. Creio que o nome dado se deve a duas coisas: a vestimenta preta, como se fosse um gato preto, representa a má sorte que atingiu o defunto e o pingado é a cachaça (pinga) que esses homens tomavam antes e depois do enterro.   

O acompanhamento foi feito por homens e mulheres, todos de luto, silenciosos e compungidos. A procissão se estendeu por quase 1.000 metros, ao longo da rua das Flores, hoje rua Castro e Silva, (daí talvez a origem do antigo nome da rua). Tão grande percurso, realizado sob as intempéries da natureza e sobre um calçamento pouco convidativo às longas caminhadas, assumia contornos de sacrifício. Em certo momento, um dos gatos-pingados tropeçou em uma das pedras soltas e quase caiu, mas ajudado pelos outros o cortejo logo seguiu. A noite se aproximava e tochas e archotes foram acesas, costume antigo e lúgubre. O ritmo era tão lento que parecia que os vivos não tinham pressa em se verem livres dos mortos, nem estes pressa em se verem livres dos vivos.

Terminado o préstito, os acompanhantes retornaram pesarosos, silenciosos e tristes. No dia seguinte os parentes do Padre adotaram os costumes da época. Durante um mês, a família só saia de casa para assistir a missa do sétimo e do trigésimo dia. Só escrevia cartas tarjadas de preto e usava luto fechado – os homens, terno preto, inclusive a camisa, as mulheres, vestido comprido e totalmente negro, a cabeça coberta com um véu. Naquela época, desoladas viúvas e viúvos trajavam luto fechado pelo resto da vida.

O próximo artigo abordará estórias e “causos” do padre Pedro.

(*) BARROSO, Gustavo. Memórias. Liceu do Ceará. 3. ed. Fortaleza: Casa de José de Alencar - UFC, 2000.

(**) AZEVEDO, Otacílio de. Fortaleza descalça: reminiscências. 2. ed. Fortaleza: Casa de José de Alencar - UFC, 1992

 

 

segunda-feira, 31 de maio de 2021

Os Vários Ramos da Família Castro

Não se pode considerar que todos os Castros existentes no Brasil, mesmo procedentes de Portugal, sejam parentes, porque são inúmeras as famílias que adotaram este sobrenome pela simples razão de ser de origem geográfica. Abaixo alguns ramos da família Castro.

Família CASTRO BARBOSA
Importante família estabelecida em Minas Gerais. A união dos dois sobrenomes teve princípio em Antônio Luiz Barbosa da Silva, da importante família Barbosa da Silva de Minas Gerais.

Família CASTRO CAMARGO
Família estabelecida em São Paulo. A união dos dois sobrenomes teve princípio no Sargento-mor Miguel Ribeiro de Camargo, natural de Curitiba, Paraná.

Família CASTRO CANTO E MELO
Importante e nobre família originária das ilhas portuguesas estabelecida em São Paulo, para onde passou o brig. João de Castro Canto e Mello [1740, Ilha Terceira – 1826, SP], filho de João Batista de Canto e Melo e de Isabel Rickettes. A marquesa Domitila de Castro Canto e Mello [27.12.1797, SP – 03.11.1867], amante de D. Pedro I descende dessa família.

Família CASTRO CARNEIRO
Família de origem portuguesa estabelecida em São Paulo, para onde passou Bento de Castro Carneiro [c.1691, Freguesia de N.S. da Boa Viagem de Massarelos, Porto, Portugal].

Família CASTRO E COSTA
Família estabelecida no Maranhão, que passou para o Amazonas, na pessoa do cap. Nicolau José de Castro e Costa [1833, São Luiz, MA], filho de João Pedro de Castro e Costa e de Luiza «de Castro e Costa». Deixou numerosa descendência, em Manaus (AM).

Família CASTRO E GAMA
Importante família estabelecida no Pará, que, por seus mais variados casamentos, nas principais famílias da região, originou diversos grupos, mais conhecidos por seus duplos sobrenomes. Teve princípio em Agostinho Brandão de Castro [c.1785]. A família Castro Martins do Pará descende da família Castro e Gama.

Família CASTRO LEÃO
Importante família estabelecida no Pará, à qual pertence Hugolino de Castro Leão [c.1860 – d.1920].

Família CASTRO LIMA
Família estabelecida na Bahia, à qual pertence o cap. Manuel de Castro Lima [c.1834, BA – 1885], filho de Antônio de Castro Lima e de Guilhermina Rosa.

Família CASTRO NOVO
Família originária da Itália estabelecida em São Paulo, para onde passou Vítor Antônio de Castro Novo [Nápoles – 1658], filho de Renato de Castro Novo e de Loaisa.

Família CASTRO NUNES
Família estabelecida no Rio de Janeiro. A união dos dois sobrenomes teve princípio no Dr. João Francisco Leite Nunes [cas. por volta de 1887, com Teresa da Conceição de Castro]. Há outra família com este sobrenome estabelecida em Pernambuco, à qual pertence Agostinho Luna de Castro Nunes.

Família CASTRO PEREIRA
Família da Bahia, procedente do cap. Francisco de Castro [c.1582 – 1645, BA].

Família CASTRO QUEIROZ
Antiga família de Minas Gerais, que teve princípio em Severino Barbosa de Castro.

Família CASTRO RABELO
Família estabelecida na Bahia, à qual pertencem o Dr. João Batista de Castro Rebello e outros. Um dos ramos dessa família estabeleceu-se no Pará.

Família CASTRO E SILVA
Antiga e importante família originária das ilhas portuguesas estabelecida em Aracati, Ceará, para onde passou o cap.-Mor José de Castro Silva [1709, Ilha de S. Miguel]. Um dos seus ramos passou para o Piauí (Valença), na pessoa de Elesbão de Castro e Silva, nat. do Ceará.

Família CASTRO MENEZES
Ramo da família Castro e Silva, do Ceará. Importante família do Ceará. A união dos dois sobrenomes teve princípio no cap.-Mor José de Castro Silva (2.º) [1749, Aracati, CE – 1807], filho de outro José de Castro Silva (1.º), patriarca desta família Castro e Silva, do Ceará.

Família CASTRO E SOUZA
Família de origem portuguesa estabelecida em Minas Gerais, que teve princípio no Alferes Joaquim de Castro e Souza [c.1792, Portugal]. Deixou descendência em São João Del Rei, Minas Gerias. Há, no Rio de Janeiro, outra família com este sobrenome.

Família CASTRO VASCONCELOS
Ramo dos Pereira de Vasconcelos, de Minas Gerais. A união dos dois sobrenomes teve princípio no tenente-coronel de Cavalaria, Felipe Joaquim da Cunha e Castro [c.1783, Vila Rica, MG -1841].

Família CASTRO VIANA
Família estabelecida em São João Del Rei (Minas Gerais), que teve princípio em Marcos da Silva, nat. de Portugal, que deixou descendência de seu casamento, c.1747, com Maria de Castro. Há no Ceará, a mesma família com esse nome que teve início com o português capitão-mor Antônio de Castro Viana.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Por que teria José de Castro e Silva adotado um nome tão diferente dos seus antepassados?

A maioria das pessoas, até o final século IX, usava apenas um nome. Entretanto, a realeza, nobres, sacerdotes e alguns burgueses usavam mais de um nome (nome e sobrenome) que serviam como referência da linhagem do indivíduo. Quando a população começou a aumentar, os nomes não eram mais suficientes para distinguir indivíduos homônimos. E aí surgiu um problema que foi parcialmente resolvido com a adição de informações descritivas ao primeiro nome da pessoa. Esse processo levou dois ou três séculos. Somente após o início do Concílio de Trento (1546 a 1563) é que o Papa tornou obrigatório os registros paroquiais a fim de relacionar nomes de crianças com pais e padrinhos. Esses registros eram feitos nas igrejas que realizavam o batismo.

Não é possível precisar um século ou um ano exato em que ocorreu a adoção de sobrenomes. Contudo, percebe-se que os sobrenomes portugueses originados sobretudo após o final do século X sofreram diversas influências, sendo quatro delas mais comuns. Essas quatro influências classificam os sobrenomes em patronímicos (relativo ao nome do pai ou de ascendentes de família), toponímicos (geográfico), descritivos (alcunha ou apelido) e ocupacionais (profissão). Por exemplo, João filho de Zebedeu é classificado como patronímico, enquanto que João de Aveiro, ou seja, João da vila Aveiro é um toponímico. O nome João Magro, baseado na qualidade de magro, é classificado como descritivo ou apelido, enquanto João Sapateiro, baseado na profissão, é classificado como ocupacional.

O primeiro indivíduo com sobrenome Castro que se tem notícia é Rodrigo Fernandes de Castro, “El Calvo” (1100-1143), senhor de Castro Xerez. Então seu sobrenome é classificado como de influência geográfica tendo sido tomado da vila Castro Xerez. Foi um homem rico e um dos mais influentes magnatas do século XII no Reino de Castela e Leão. Dele descendem quase todos os Castro da península Ibérica.

A primeira linhagem dos Silva é bem antiga e provém dos Godos. Pelaio Guterres da Silva (1000 – ?) foi um nobre medieval de Portugal, tendo sido senhor da Torre Silva e do Castelo de Alderete. Seu sobrenome também é classificado como de origem toponímica. Contudo, José de Castro e Silva, genearca da família no Ceará não descende dessas linhagens. Então, qual a razão de ter adotado os toponímicos Castro e Silva?

Se José de Castro e Silva tivesse adotado o sobrenome do pai, Manoel Dias da Ponte, seus descendentes teriam um outro nome de família (Ponte). Se inserisse o sobrenome da mãe, o nome de família poderia ter sido Lopes da Ponte ou Feijó da Ponte. Seu pai, Manoel Dias da Ponte, casou com Maria Lopes Feijó em 1702 na Vila da Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Açores.

O avô por parte de pai de José de Castro e Silva chamava-se Manoel Dias da Ponte Paião. O padrinho de batismo de seu pai, Manoel Dias da Ponte, foi José da Silva, mancebo solteiro, como atestava o assentamento paroquial e concunhado do seu avô. Moravam na mesma vila e essa possível proximidade fez com que José da Silva mantivesse vínculo estreito com a família do seu concunhado, a ponto de ser escolhido como padrinho do filho deste. Assim, a melhor suposição para explicar a origem do nome do açoriano José de Castro e Silva é que seu pai tenha escolhido o nome como uma homenagem ao seu padrinho.

Mas permanece por esclarecer a inserção do toponímico Castro no sobrenome. Manoel Dias da Ponte teve um irmão chamado Antonio Dias da Ponte que casou em 1701 com Thereza da Costa Columbreiro. Este casal teve uma filha que veio a se chamar Thereza Clara de Castro, portanto, prima de José de Castro e Silva. Qual a razão do surgimento desse novo toponímico? A explicação talvez esteja no patronímico Columbreiro, onde o sobrenome Castro aparece em vários membros dessa família.   

Essas são as explicações mais plausíveis sobre o motivo dos pais de José de Castro e Silva terem adotado esse nome para o filho, tão diferente dos seus antepassados. Aqui no Ceará, os descendentes do açoriano José de Castro e Silva formaram uma família numerosa, com força política e financeira, juntamente com a família Alencar, que influiu nos destinos da Província, principalmente no período de 1800 a 1850.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Preço na Curva versus Preço de Mercado – 2ª Parte

No artigo anterior vimos a aplicação de juros compostos para cálculo do montante ou preço na curva. Este artigo trata do valor de mercado ou preço de mercado do título quando a venda (resgate) é realizada antecipadamente.

 

O preço a mercado ou preço de mercado nada mais é que o preço atual do título, ou seja, o valor de mercado do dia. A fórmula de cálculo do preço de mercado (P) para um título do tesouro prefixado é dada por:

P =           VV            .

         (1+Taxa)DU/252 

,

onde VV é o valor do título no vencimento, Taxa é igual a taxa anual contratada e DU é a quantidade de dias úteis até o resgate (*).

 

Por exemplo, suponha a compra de um título prefixado (LTN) em 01/04/2021, com vencimento em 01 de abril de 2023 (2 anos até o vencimento). Suponha também que a taxa de juros anual pactuada foi de 10% a.a. e que o título será carregado até o vencimento, quando o valor a ser recebido será de R$ 1.210,00. Usando a fórmula anterior, o preço de mercado atual (P) é de:

P =           1210             =        1210      .  1210   = R$1.000,00

         (1+0,10)504/252        (1+0,10)2           1,21


Este é o valor pago no dia 01/04/2021 pela LTN. Agora se variar a taxa de juros no denominador (parte debaixo da fração da fórmula), de acordo com as taxas de mercado, e também os dias úteis até o vencimento, então o preço de mercado (P) será maior ou menor que R$ 1.000,00.


Agora suponha que decorrido 6 meses da compra do dia 1º de abril de 2021, ou seja, no dia 01/10/2021, a taxa do título subiu para 20% a.a., porém o vencimento continuou o mesmo da compra anterior. Se houver uma nova compra em 1º de outubro, a quantidade de dias úteis entre essa nova compra e o vencimento será de 378 dias (1 ano e 6 meses). Usando a fórmula anterior o preço de mercado do título caiu para R$ 920,50 aproximadamente. Fazendo os cálculos:

P =           VV              . =          1210             =        1210      . =  1210   = R$920,50

        (1+Taxa)DU/252         (1+0,20)378/252        (1+0,20)1,5       1,314


Sabendo que a taxa do título promete agora uma taxa de 20% a.a. e não mais de 10% a.a. inicialmente pactuada, deve-se vender o título ou não para contratar um novo título com rentabilidade maior? Em outras palavras, se o valor de mercado do título cai, devido a um aumento da taxa de juros, deve-se ou não vender o título? Claro que não.

Perceba que se vender o título que foi comprado em 1º de abril de 2021, o investidor terá uma perda de R$ 79,50, devido à diferença entre o preço de compra e o de venda (R$ 1.000,00 – R$ 920,50). Se após a venda, o investidor quiser comprar o mesmo título com essa nova taxa contratada muito maior, de 20% a.a., ele terá um ganho de R$ 289,50, carregando o título até o vencimento. O resultado dessa operação foi um ganho de R$ 289,50 menos a perda de R$ 79,50, que gera um resultado final de R$ 210,00. No entanto, observe que esses R$210,00 representam o mesmo ganho que o investidor teria se não tivesse vendido o título comprado em 1º de abril e o tivesse carregado até o vencimento.


Vale lembrar que na venda do título o investidor terá de que pagar os impostos e taxas. Para simplificar, no exemplo acima esse pagamento não foi considerado. Porém, se o investidor vendesse o título para contratar o mesmo título a uma taxa muito maior, no caso 20% a.a., ele teria prejuízo, considerando o pagamento dos impostos e das taxas no momento da venda antecipada.


Por outro lado, se a taxa de juros cair para 5% a.a. após 6 meses da compra, ou seja no dia 01/10/2021, e o vencimento continuar o mesmo da 1ª compra (01/04/2023), o preço de mercado do título em 1º de outubro subirá para R$ 1.124,60, havendo um ganho de R$124,60 em relação ao valor de R$1.000,00 da compra do dia 1º de abril. Fazendo os cálculos:

P =           VV              . =          1210             =        1210      . =        1210      .  = R$1.124,60                         (1+Taxa)DU/252        (1+0,05)378/252        (1+0,05)1,5       ´   1,07593

O ganho na marcação a mercado (R$ 124,60) foi maior que o ganho teórico na marcação a curva que foi de R$ 48,81 após 6 meses (ver cálculo no artigo anterior).

Resumindo, quando o preço na curva estiver maior que o preço de mercado, isto implica em obter uma rentabilidade menor que a contratada, se vender o título neste momento. Se o preço de mercado estiver acima do preço na curva, significa que a sua rentabilidade está maior do que a rentabilidade contratada. Em outras palavras, caiu a taxa de juros, venda o título para obter ganho. Subiu a taxa de juros, não faça nada e deixe o título ir até o vencimento.

(*) para cálculo utiliza-se o ano com 252 dias úteis


sexta-feira, 30 de abril de 2021

Preço na Curva versus Preço de Mercado – 1ª Parte

Devo vender meu título do Tesouro Direto quando a taxa de juros sobe ou quando cai? Este artigo vai te responder.

Quando o governo gasta mais do que arrecada de impostos, taxas, etc, ou ele deixa de pagar os compromissos (calote) ou toma emprestado da sociedade. A segunda alternativa obriga o governo a criar uma dívida pública. Essa dívida é realizada quando ele vende títulos públicos e é extinta quando devolve aos que lhe emprestaram o mesmo montante acrescido de juros numa data futura. Geralmente os títulos públicos são comprados por pessoas físicas, bancos, fundos de investimento, etc.

A taxa de juros que incide sobre o valor "emprestado" (preço de compra) ao governo é acertada no momento da compra do título do Tesouro Direto. O investidor recebe o montante, valor de compra mais juros, no prazo acordado, se e somente se, o título for carregado até o seu vencimento. Caso o título seja vendido antecipadamente, o preço será o valor de mercado que é determinado pela taxa de juros vigente no dia da venda. Resumindo, todos os dias o título pode mudar de preço, já que as taxas de mercado mudam e as datas para o vencimento também, e isso afasta a possibilidade de se conseguir a mesma rentabilidade.

O valor do título, disponível no site do Tesouro Direto (https://www.tesourodireto.com.br), considera as variações de taxa e o prazo para o vencimento. Quando o título é resgatado antecipadamente, ele é atualizado de acordo com o preço que é negociado no mercado naquele momento, procedimento conhecido como marcação a mercado.

Quando se leva (carrega) o título até seu vencimento, o montante recebido ou preço na curva será o valor nominal pelo qual se pagou o título na contratação multiplicado por 1 mais a taxa de juros elevada no tempo, isto é, os juros compostos são aplicados sobre o capital inicial ou valor nominal (VN). Este procedimento é chamado no mercado financeiro de marcação na curva de juros. A fórmula do montante (M) é dada por:

M = VN(1+Taxa)n,

onde n é o tempo em anos, meses ou dias se a Taxa for dada em anos, meses ou dias.

Por exemplo, se o valor nominal do título (valor de compra) é de R$ 1.000,00 e a taxa de juros é de 10% a.a. (ao ano) pelo prazo de 2 (dois) anos, então o montante a ser recebido, ou seja, o valor do título pela curva de juros no vencimento será de R$1.210,00. Fazendo os cálculos: 

M = VN(1+Taxa)n = 1000(1+0,10)2 = 1000(1,10)2 = 1000x1,21 = R$1.210,00

Vale ressaltar que essa metodologia de calcular o valor do montante pelos juros compostos é válida somente se o investimento (título) for resgatado na data do vencimento.

Teoricamente, o preço na curva também pode ser calculado por uma fórmula semelhante a anterior, modificando apenas a potência (elevado a potência n), mas sempre com a mesma taxa contratada e variando os dias úteis até o vencimento. Essa variação dos dias úteis, sempre com a mesma taxa contratada, fornecerá o preço na curva antes do vencimento. O exemplo anterior pode ser representado por um gráfico cartesiano no qual o eixo X representa o tempo e o eixo Y o preço na curva. A reta que une os pontos 1.000 e 1.210 nesse gráfico contém o preço na curva ao longo do tempo (X). Neste caso, o valor de n (potência) é substituído por DU/252, onde DU é a quantidade de dias úteis (*). Usando o exemplo anterior, se a venda fosse realizada 6 meses após a compra (126 dias úteis), o cálculo encontraria um ponto na reta igual a 1048,81, ou seja, M = 1000(1+1,10)126/252 = R$1.048,81. Portanto, teoricamente haveria um ganho de R$48,61 em 6 meses.

A marcação pela curva de juros não tem efeito real para resgate na data atual, antes do vencimento. O cálculo realizado no exemplo anterior não se aplica na prática quando se vende o investimento antecipadamente. Esta variação acontece devido à ocorrência de oscilações na taxa de juros, além de outros fatores macroeconômicos que afetam a economia, podendo melhorar ou piorar ao longo do tempo o valor do titulo. No próximo artigo veremos a marcação a mercado.

 

(*) para cálculo utiliza-se o ano com 252 dias úteis

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Foi um dia de cavalo!

Não se sabe ao certo a origem de todos os bens do Padre Pedro José de Castro e Silva. Seu avô paterno, Capitão José Ignácio da Silveira Gadelha, advogado, descendente de uma das primeiras famílias de Pernambuco, retirou-se para a Capitania do Ceará, hoje antiga vila de Aquiraz-Ce, e ali se estabeleceu, prosperando durante anos. Seu avô materno, Francisco Xavier de Castro e Silva, Capitão de Ordenanças, fixou residência na cidade de Cascavel-Ce e por lá constituiu propriedades com mais de 10 léguas (48 km aproximadamente) que iam da região do Tijucussu até a Caponga. É possível que tanto o pai do Padre Pedro, José Ignácio da Silveira e Silva, quanto à mãe, Rita Angélica de São Francisco, tenham herdado parte do patrimônio deixado pelos avós.  

O Padre foi deputado provincial durante seis biênios, recebendo vencimentos durante mais de doze anos. No período em que foi vigário de Barbalha-Ce (27 anos), administrou lojas do seu cunhado, obtendo alguma fortuna. Além das propriedades herdadas dos pais e da remuneração de deputado, as contribuições dos fiéis para sustento da igreja poderiam ter ajudado na composição de suas posses. Assim como é feito hoje, cobrava de seus fiéis as missas celebradas e outros serviços prestados pela paróquia. A fortuna que amealhou na sua vida talvez possa ser explicada em parte pela austeridade nos gastos com a família. Todos seus filhos trabalharam duro pelo sustento, não recebendo benesses gratuitamente. A história a seguir, publicada no jornal O Cearense de 15/09/1872, retrata um pouco sobre como o Padre lidava com a cobrança dos serviços por ele prestados.   

“Era uma vez um sertanejo que veio a cidade vender seu algodão, vinha montado em um bonito alazão grande, gordo e esquipador. Quando o matuto entrou o cavalo chegava a se desmanchar nos andares que parecia que estava fazendo renda. Apeou-se o aldeão todo cheio de si, e entrou na casa do Laisinho Ribeiro para fazer o seu negócio.  Casaram-se no preço depois de muito trabalho, assistiu o peso, recebeu o dinheiro e quando quis montar para sair, oh! Desespero, o cavalo tinha desaparecido; estava furtado. Corre o homem rua acima, rua abaixo, e nada de roteiro. Passaram-se dois dias, no terceiro, porém o homem descobriu pelo faro o seu alazão no sítio de um padre, situado na praça São Sebastião.

Convida uns camaradas e vai ali reclamar sua propriedade, e o faz em bons termos e pedindo licença da palavra. O padre zanga-se, e diz que comprara o cavalo a um matuto, e este tão endiabrado, que quando lhe fizera a venda lhe furtara do quintal um outro cavalo, maldiz o seu caiporismo, e lamenta os purgantes, vomitórios, sangrias, cáusticos, ventosas e senapismos que havia gasto em curar o cavalo que comprara doente.

O matuto insiste, e apresenta provas irrecusáveis. O padre desapontado diz – perco tudo, menos duas missas que rezei pelo restabelecimento alazão; foi uma das promessas que fiz e tive de cumprir. As missas não perco. O matuto pensou... considerou... meditou... e ao final escorregou dez bodes para as mãos do desinteressado padre, e saiu contando que isto se dera com o Padre Pedro”.