sexta-feira, 30 de abril de 2021

Preço na Curva versus Preço de Mercado – 1ª Parte

Devo vender meu título do Tesouro Direto quando a taxa de juros sobe ou quando cai? Este artigo vai te responder.

Quando o governo gasta mais do que arrecada de impostos, taxas, etc, ou ele deixa de pagar os compromissos (calote) ou toma emprestado da sociedade. A segunda alternativa obriga o governo a criar uma dívida pública. Essa dívida é realizada quando ele vende títulos públicos e é extinta quando devolve aos que lhe emprestaram o mesmo montante acrescido de juros numa data futura. Geralmente os títulos públicos são comprados por pessoas físicas, bancos, fundos de investimento, etc.

A taxa de juros que incide sobre o valor "emprestado" (preço de compra) ao governo é acertada no momento da compra do título do Tesouro Direto. O investidor recebe o montante, valor de compra mais juros, no prazo acordado, se e somente se, o título for carregado até o seu vencimento. Caso o título seja vendido antecipadamente, o preço será o valor de mercado que é determinado pela taxa de juros vigente no dia da venda. Resumindo, todos os dias o título pode mudar de preço, já que as taxas de mercado mudam e as datas para o vencimento também, e isso afasta a possibilidade de se conseguir a mesma rentabilidade.

O valor do título, disponível no site do Tesouro Direto (https://www.tesourodireto.com.br), considera as variações de taxa e o prazo para o vencimento. Quando o título é resgatado antecipadamente, ele é atualizado de acordo com o preço que é negociado no mercado naquele momento, procedimento conhecido como marcação a mercado.

Quando se leva (carrega) o título até seu vencimento, o montante recebido ou preço na curva será o valor nominal pelo qual se pagou o título na contratação multiplicado por 1 mais a taxa de juros elevada no tempo, isto é, os juros compostos são aplicados sobre o capital inicial ou valor nominal (VN). Este procedimento é chamado no mercado financeiro de marcação na curva de juros. A fórmula do montante (M) é dada por:

M = VN(1+Taxa)n,

onde n é o tempo em anos, meses ou dias se a Taxa for dada em anos, meses ou dias.

Por exemplo, se o valor nominal do título (valor de compra) é de R$ 1.000,00 e a taxa de juros é de 10% a.a. (ao ano) pelo prazo de 2 (dois) anos, então o montante a ser recebido, ou seja, o valor do título pela curva de juros no vencimento será de R$1.210,00. Fazendo os cálculos: 

M = VN(1+Taxa)n = 1000(1+0,10)2 = 1000(1,10)2 = 1000x1,21 = R$1.210,00

Vale ressaltar que essa metodologia de calcular o valor do montante pelos juros compostos é válida somente se o investimento (título) for resgatado na data do vencimento.

Teoricamente, o preço na curva também pode ser calculado por uma fórmula semelhante a anterior, modificando apenas a potência (elevado a potência n), mas sempre com a mesma taxa contratada e variando os dias úteis até o vencimento. Essa variação dos dias úteis, sempre com a mesma taxa contratada, fornecerá o preço na curva antes do vencimento. O exemplo anterior pode ser representado por um gráfico cartesiano no qual o eixo X representa o tempo e o eixo Y o preço na curva. A reta que une os pontos 1.000 e 1.210 nesse gráfico contém o preço na curva ao longo do tempo (X). Neste caso, o valor de n (potência) é substituído por DU/252, onde DU é a quantidade de dias úteis (*). Usando o exemplo anterior, se a venda fosse realizada 6 meses após a compra (126 dias úteis), o cálculo encontraria um ponto na reta igual a 1048,81, ou seja, M = 1000(1+1,10)126/252 = R$1.048,81. Portanto, teoricamente haveria um ganho de R$48,61 em 6 meses.

A marcação pela curva de juros não tem efeito real para resgate na data atual, antes do vencimento. O cálculo realizado no exemplo anterior não se aplica na prática quando se vende o investimento antecipadamente. Esta variação acontece devido à ocorrência de oscilações na taxa de juros, além de outros fatores macroeconômicos que afetam a economia, podendo melhorar ou piorar ao longo do tempo o valor do titulo. No próximo artigo veremos a marcação a mercado.

 

(*) para cálculo utiliza-se o ano com 252 dias úteis

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Foi um dia de cavalo!

Não se sabe ao certo a origem de todos os bens do Padre Pedro José de Castro e Silva. Seu avô paterno, Capitão José Ignácio da Silveira Gadelha, advogado, descendente de uma das primeiras famílias de Pernambuco, retirou-se para a Capitania do Ceará, hoje antiga vila de Aquiraz-Ce, e ali se estabeleceu, prosperando durante anos. Seu avô materno, Francisco Xavier de Castro e Silva, Capitão de Ordenanças, fixou residência na cidade de Cascavel-Ce e por lá constituiu propriedades com mais de 10 léguas (48 km aproximadamente) que iam da região do Tijucussu até a Caponga. É possível que tanto o pai do Padre Pedro, José Ignácio da Silveira e Silva, quanto à mãe, Rita Angélica de São Francisco, tenham herdado parte do patrimônio deixado pelos avós.  

O Padre foi deputado provincial durante seis biênios, recebendo vencimentos durante mais de doze anos. No período em que foi vigário de Barbalha-Ce (27 anos), administrou lojas do seu cunhado, obtendo alguma fortuna. Além das propriedades herdadas dos pais e da remuneração de deputado, as contribuições dos fiéis para sustento da igreja poderiam ter ajudado na composição de suas posses. Assim como é feito hoje, cobrava de seus fiéis as missas celebradas e outros serviços prestados pela paróquia. A fortuna que amealhou na sua vida talvez possa ser explicada em parte pela austeridade nos gastos com a família. Todos seus filhos trabalharam duro pelo sustento, não recebendo benesses gratuitamente. A história a seguir, publicada no jornal O Cearense de 15/09/1872, retrata um pouco sobre como o Padre lidava com a cobrança dos serviços por ele prestados.   

“Era uma vez um sertanejo que veio a cidade vender seu algodão, vinha montado em um bonito alazão grande, gordo e esquipador. Quando o matuto entrou o cavalo chegava a se desmanchar nos andares que parecia que estava fazendo renda. Apeou-se o aldeão todo cheio de si, e entrou na casa do Laisinho Ribeiro para fazer o seu negócio.  Casaram-se no preço depois de muito trabalho, assistiu o peso, recebeu o dinheiro e quando quis montar para sair, oh! Desespero, o cavalo tinha desaparecido; estava furtado. Corre o homem rua acima, rua abaixo, e nada de roteiro. Passaram-se dois dias, no terceiro, porém o homem descobriu pelo faro o seu alazão no sítio de um padre, situado na praça São Sebastião.

Convida uns camaradas e vai ali reclamar sua propriedade, e o faz em bons termos e pedindo licença da palavra. O padre zanga-se, e diz que comprara o cavalo a um matuto, e este tão endiabrado, que quando lhe fizera a venda lhe furtara do quintal um outro cavalo, maldiz o seu caiporismo, e lamenta os purgantes, vomitórios, sangrias, cáusticos, ventosas e senapismos que havia gasto em curar o cavalo que comprara doente.

O matuto insiste, e apresenta provas irrecusáveis. O padre desapontado diz – perco tudo, menos duas missas que rezei pelo restabelecimento alazão; foi uma das promessas que fiz e tive de cumprir. As missas não perco. O matuto pensou... considerou... meditou... e ao final escorregou dez bodes para as mãos do desinteressado padre, e saiu contando que isto se dera com o Padre Pedro”.

domingo, 11 de abril de 2021

Os filhos do Padre

Até meados do século XVIII, o Estado controlou a atividade eclesiástica na colônia por meio do padroado. Após a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal, o Estado através do Imperador continuou a nomear os padres mediante decreto para as paróquias. O padre que assumia em caráter permanente uma paróquia era chamado de vigário colado. Muitas vezes, localidades distantes da Capital não tinham sequer um vicariato. Quando surgia um, o padre era auxiliado por pessoas, normalmente mulheres, nas atividades do dia a dia, tanto na Igreja quanto em casa. Essa proximidade proporcionou que a lei do celibato fosse constantemente transgredida em quase segredo. O fato de um padre ter um filho não o impedia de continuar o sacerdócio. A transgressão da lei do celibato se tornou frequente no Ceará, a ponto de o Bispo de Pernambuco enviar uma autoridade eclesiástica para investigar e repreender padres infratores.

No Ceará não era raro um padre ter um filho. No segundo quartel do século XIX, até o Presidente da Província do Ceará, o padre e senador José Martiniano Pereira de Alencar (1794-1860), teve com uma prima que tomou por companheira, 13 filhos, dentre eles, o grande escritor cearense José de Alencar. O padre Pedro José de Castro e Silva não foi exceção, se uniu ao amor de uma mulher e teve oito filhos.

Segundo consta, o Padre Pedro era um homem abastado; possuía fazendas no interior do Estado do Ceará e em Fortaleza, o sítio São Sebastião, referido por Gustavo Barroso em um de seus livros, além de várias casas espalhadas pela cidade. Foi vigário colado da cidade de Barbalha/Ce no período de 1842 a 1863, quando viveu maritalmente com Tereza de Jesus Maria (1820-1879), e de onde nasceram oito filhos: Deodato José (primogênito), João Baptista, José Antônio e Antônio Jacob, os homens; Filomena Nomeriana (Filó ou Didinha), Eutiquina (D. Sinhá), Francisca Leonilia (Chiquinha) e Sabina, as mulheres.

Deodato José (meu bisavô) nasceu em 23/07/1847 na cidade de Barbalha/Ce. Foi professor de instrução pública e coletor da cidade de Aquiraz/Ce no ano de 1872. Nos anos seguintes foi designado pelo Serviço de Instrução Pública para ensinar em várias localidades do Ceará. Em 1880, com a morte de sua avó, Rita Angélica de São Francisco, herdou uma casa na Praça da Igreja Matriz de Aquiraz/Ce, onde residiu até o seu passamento. Com o falecimento prematuro de sua mulher, Genuína Gadelha, ocorrido por volta de 1890, entregou seus três filhos à cunhada (tia Dina Gadelha) para criá-los. Foi eleito para o Conselho (vereador) da Câmara de Aquiraz em 1892. Em 1893 aceitou emprego remunerado e, por isso, deixou a Câmara Municipal. Faleceu em fevereiro de 1898 de aneurisma da aorta torácica.

João Baptista, assim como todos irmãos, nasceu na cidade de Barbalha/Ce, mas não se sabe a data. Não casou, mas consta que vivia com uma moradora, chamada Umbelina, com quem teve dois filhos. Possuía uma Fazenda no Baú (distrito de Acarape/Ce), parada da estrada de ferro que fica próxima a cidade de Guaiúba/Ce. De lá enviava lenha para o gasômetro de Fortaleza situado ao lado norte da Santa Casa de Misericórdia, na rua da Ladeira. Em 1880 publicou em um jornal local de Fortaleza que seu nome, a partir daquela data, seria somente João de Castro e Silva, retirando o Baptista.   

Sobre José Antônio não se sabe se casou ou se manteve solteiro. Nasceu em 07/08/1854, também em Barbalha/Ce. Trabalhou durante alguns anos como caixeiro em alguns estabelecimentos de Fortaleza e, por essa época, teve dois filhos. Depois, não se sabe o porquê, foi para a Amazônia durante o auge do Ciclo da Borracha, por volta de 1900. Faleceu no Acre em 08/07/1910 com quase 56 anos de idade. 

Antônio Jacob, o caçula dos irmãos, nasceu em 1864. Casou-se com uma sobrinha, Tereza Leonilia (Tété), filha de sua irmã Filomena Nomeriana e desse consórcio nasceram oito filhos, dois homens e seis mulheres. Antônio Jacob trabalhava na Fazenda Criancó em Acarape/Ce, do seu pai Padre Pedro, e por lá constituiu uma outra família com uma moradora. Desse conúbio teve mais uns três filhos, no mínimo. Os filhos naturais nascidos na Fazenda sempre ajudaram o pai nos trabalhos da propriedade e, por isso, vieram a herdá-la (ou apropriar-se), tendo transmitido o patrimônio aos seus descendentes. Consta que Antônio Jacob era um homem muito trabalhador e disposto. Foi vítima de um acidente na fazenda, quando a teve a mão esmagada pela moenda de cana. Procurou socorro em Fortaleza, tendo vindo de trem, e aqui teve o braço amputado por procedimento cirúrgico realizado em casa de sua irmã, Francisca Leonilia, à Rua General Sampaio. Uma manhã do ano de 1910, a família foi sobressaltada com notícia infausta. Antônio Jacob foi encontrado morto; havia se suicidado, por enforcamento, em sua residência, à Rua Senador Pompeu.

Filomena Nomeriana (Didinha) casou com um cidadão português, Antônio Manoel da Costa (1835-1902), comerciante, tinha uma casa de comércio (bazar) à Rua Floriano Peixoto, ao lado da atual Caixa Econômica situada na Praça do Ferreira. Atrasou-se nos negócios, tendo falido no final do século XIX. Faleceu de um carcinoma numa glândula do pescoço. Teve sete filhos, quatro homens e três mulheres, uma delas minha avó por parte de pai. Meu pai conheceu a Didinha (assim ele a chamava) já um pouco caduca, sentada numa cadeira de balanço na sala de jantar de sua casa, à Rua Senador Pompeu. Sempre que ele a visitava, nas tardes de domingo, pedia a benção e ela somente se queixava do desassossego causado pelos netos que moravam na mesma casa.

Eutiquina (D. Sinhá) casou com um judeu alemão, Albert Roth, joalheiro que tinha uma loja de consertos e venda de joias, bem próxima da Praça do Ferreira. Albert aqui chegou, junto com o irmão Jacob, por volta de 1865. Anos depois publicou em um jornal local a sua disposição de pagar todos os credores de seu irmão falecido e assim o fez. D. Sinhá teve quatro filhos, três homens e uma mulher. Por volta de 1890, o marido resolveu retornar para Alemanha com a mulher e uma filha, pois os negócios não prosperaram após o advento da República. Albert morreu, no trem, em uma viagem que faziam e Eutiquina passou a morar com a filha, Lina, casada, em Hamburgo. Aqui no Ceará ficou um dos filhos que era músico (maestro) e que anos depois foi morar no Rio de Janeiro. Sabe-se que os filhos sabiam português, como se vê em um cartão remetido por um dos filhos em 1904, o que faz supor que todos nasceram no Brasil. Eutiquina vivia na Alemanha com a renda de aluguel das casas que possuía em Fortaleza. Certa vez retornou ao Brasil por ocasião da 1ª Grande Guerra para vender algumas de suas propriedades. Tomou o último navio que saiu de Hamburgo para o Brasil, antes do início da guerra. Aqui ficou hospedada no Hotel Central, onde antes estivera o casarão do comendador Antônio Machado, o único da cidade a ter três pavimentos até o início do século XX. Este sobrado foi demolido em 1928 para construção do primeiro edifício de 8 andares, o maior prédio do Brasil de alvenaria, que abrigou o antigo Hotel Excelsior. Hoje este edifício permanece fechado desde a morte de seu último dono (húngaro Emílio Hinko).

Francisca Leonilia (Chiquinha) casou com Nabor Fernandes de Mello, passando a assinar Francisca de Castro Mello. No início de 1900, ocorreu a separação do casal e ele passou a morar no Rio de janeiro onde veio a falecer em 1908. Tiveram três filhos, sendo que um deles (a filha mais nova) cedo enviuvou e foi morar com a mãe juntamente com seu filho (portanto neto de Chiquinha) que sofria de paralisia cerebral. Em torno de 1930, Francisca Leonilia resolveu sair do Ceará em virtude de um namoro entre sua filha viúva e um homem casado. Vendeu a casa á Rua General Sampaio e mudou-se para Recife onde passou a residir na Várzea, Rua Azeredo Coutinho no. 113. Durante umas férias nos anos de 1940, meu pai a visitou neste endereço e, já caduca, ela insistia que a levasse de volta para o Ceará. Coincidentemente morei nesta mesma rua, bem próximo da casa onde ela morava, no ano de 2000, quando cursava meu doutorado. Há muito já tinha falecido, assim como a filha e o neto.   

Pouco se sabe sobre a filha mais nova do Padre Pedro. Meu pai conheceu Tia Sabina (assim ele a chamava) já viúva, com quatro filhas. Durante muitos anos uma das filhas, hoje já falecida, assim como todas as outras, visitava semanalmente minha avó, foi quando a conheci. Essa filha teve vasta descendência resultante do seu casamento com o espanhol, Efren Gondim, que veio a ser dono do Palace Hotel localizado na Praça do Passeio Público, hoje Praça dos Mártires. 

Abordaremos no próximo artigo estórias e “causos” do Padre Pedro.

terça-feira, 6 de abril de 2021

Fundos de Investimentos de Renda Fixa – Como escolher? Qual o melhor?

O artigo anterior deste blog sobre investimentos abordou sete dicas para os iniciantes em aplicações de renda fixa. Esta matéria trata dos Fundos de Investimentos (FI) como uma das formas de aplicação financeira para investidores.

O FI é constituído pela união de pessoas físicas e/ou jurídicas com o objetivo de investir em conjunto, visando um determinado retorno financeiro. Tem a forma de um condomínio, onde as receitas são repartidas entre os investidores, assim com as despesas. Da mesma forma que um condomínio tem um síndico, o FI tem um administrador e um gestor que faz a composição da carteira de ativos do fundo, aspirando o maior lucro possível, sem contudo garantir rentabilidades positivas constantes e ausência de riscos.

Apesar de não corresponder a classificação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), podemos dividir os FIs em Fundos de Renda Fixa (RF) e Fundos de Renda Variável (RV). Estão incluídos nos FIs de RF os Fundos de Curto Prazo e os Fundos Referenciados compostos por ativos financeiros que acompanham, direta ou indiretamente, a variação do indicador de desempenho escolhido. Este indicador pode ser o CDI, o IPCA, o IMA-B ou outro qualquer.

Os FIs de RV podem ser Fundos de Ações, Fundos Multimercados, Fundos Cambiais, Fundos em Cotas de outros fundos, etc. Aqui abordaremos somente os FIs de renda fixa. Esses fundos devem possuir, no mínimo, 80% da carteira em ativos relacionados à variação da taxa de juros (Selic) ou do índice de inflação ou ambos. 

O valor de mercado dos ativos do fundo menos as despesas, como a taxa de administração e/ou taxa de desempenho (se houver), representam o patrimônio líquido do FI. Então, FIs com taxa de administração reduzida, no máximo 0,30% a.a., oferecem mais rentabilidade do que os fundos com taxa de 1% ou 2% a.a., se o desempenho deles forem semelhantes. Portanto, esses fundos de taxas reduzidas são mais recomendados para investidores iniciantes ou conservadores. Existem fundos com taxas de administração zero cujo desempenho é muito baixo, ou seja, rentabilidade abaixo do indicador escolhido e, às vezes, negativa. Mas também há fundos com taxas altas, por exemplo, 2% a.a., cuja rentabilidade é bem expressiva, algo em torno de 20% a.a., mas de alta volatilidade, ou seja, tem alta dispersão (positiva ou negativa) em relação à média das rentabilidades diárias. Quanto maior o risco maior a volatilidade. Investimentos com baixa volatilidade possuem um desempenho mais estável, implicando em um comportamento mais previsível.

As Corretoras oferecem FIs com taxa de administração igual ou inferior a 0,30% a.a., que perseguem uma rentabilidade bem superior ao indicador escolhido. É fácil encontrar fundos que apresentaram rentabilidade, no ano de 2020, superior a 7,75 a.a., bem acima da inflação, e com taxa de administração de 0,20% a.a. Normalmente, esses fundos são indexados ao IMA-B, indicador de inflação de curto prazo da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Também podem ser encontrados fundos indexados ao IMA-B+, indicador de inflação de longo prazo da ANBIMA.

Outrossim podem ser encontrados fundos mais conservadores indexados ao CDI e com taxa de administração de 0,20% a.a. No ano de 2020, esses fundos perderam muito para inflação e renderam algo em torno de 2,40% a.a. Os gerentes dos grandes Bancos oferecem normalmente esse tipo de produto.

Existem algumas ferramentas que permitem analisar o desempenho dos fundos. Alguns sites (*) usam gráficos, índices e outros indicadores para avaliar o desempenho, o risco e a relação entre eles. Uma das formas de avaliar é através do Gráfico de Rentabilidade do fundo que mostra a rentabilidade comparada com o desempenho de um indicador, por exemplo, o CDI, mês a mês ou ano a ano. Outro indicador é o Índice Sharpe (**) que expõe a relação entre o retorno e o risco de um FI (**). Quanto maior for o valor desse índice, maior tende a ser o retorno do investimento com menor o risco. Uma aplicação com índice Sharpe próximo de zero não é aconselhável. Além desses indicadores, o Drawdown permite avaliar qual foi o instante de maior perda do fundo ao longo do tempo e a Volatilidade mede o risco assumido pelo investidor na aplicação. Quanto menor for o valor da volatilidade, menos risco terá o fundo. A Composição da Carteira também é uma forma de avaliar o fundo. Deve-se observar se o fundo aplica em títulos públicos ou em cotas de outros fundos. 

O próximo artigo do blog mostrará um mapa mental sobre investimentos em geral.

(*)  https://maisretorno.com/melhores-fundos

(**) https://www.comdinheiro.com.br/wiki/indice-de-sharpe/

sexta-feira, 2 de abril de 2021

O Papa da Indústria Aeronáutica Brasileira

Em maio de 2017 fui designado pelo MEC – INEP para avaliar um curso superior da Universidade São Judas Tadeu, localizada no bairro da Mooca em São Paulo. Eu e meu colega de avaliação, também professor, fomos instalados em uma sala situada no fundo de um grande salão do andar superior da universidade, destinada às atividades da comissão de avaliação. Ao redor deste salão existiam outras salas ocupadas pela direção da universidade.

Durante o intervalo para o almoço, fiquei esperando pelo meu colega em uma parte do salão e, para minha surpresa, apareceu saindo de uma das salas o Comandante Ozires Silva. Ali estava o homem que criou a Embraer, foi Presidente da Petrobrás, Ministro do Governo Federal, Presidente da Varig, além de piloto. Imediatamente criei coragem e fui me apresentar sem saber o que diria. Apertei a mão dele e balbuciei algo como “estou feliz em ter a oportunidade de conhecer o pai da Embraer. A sua determinação fez com que este país tenha uma forte indústria aeronáutica”. Só deu tempo dele agradecer minhas palavras, pois logo em seguida meu colega, acompanhado de outros professores da instituição, me chamou para almoçarmos.

No dia seguinte cheguei cedo à universidade e no trajeto até a minha sala, percebi que apenas uma das salas estava aberta. Olhei e vi o comandante Ozires Silva sentado a sua mesa. Cumprimentei, pedi permissão para adentrar e observei a decoração do ambiente, constituída basicamente de miniaturas de diversos tipos de avião, além de um único quadro pintado retratando um aeroplano, elementos decorativos simples como a pessoa que conhecera no dia anterior.

Iniciei uma conversa lamentando o fechamento do museu da TAM (hoje Latam), desde janeiro de 2016, e perguntei o que poderia ser feito para reativar esse “santuário” da aviação. Visitei esse museu duas vezes e apreciei-o tanto que gostaria de visitá-lo em outras oportunidades. O museu da TAM é um espaço cultural magnífico, talvez um dos maiores museus de aviação do mundo, localizado em São Carlos, interior de São Paulo. Abriga aproximadamente 110 aviões, desde réplicas idênticas do 14-bis e do Demoiselle de Santos Dumont, passando por caças da 2ª Grande Guerra como o Spitfire e o Messerchimitt 109, caças russos como o Mig-15 e Mig-19 e até o Constellation da antiga Panair do Brasil. Na minha segunda visita, em 2013, encontrei simuladores profissionais destinado ao público e os primeiros drones bélicos da aeronáutica.

O comandante Ozires Silva, muito calmo e com voz pausada, me respondeu que apesar das dificuldades estava tentando trazer o museu para um espaço no Campo de Marte em região próxima da marginal do Tietê em São Paulo. Recentemente tive a notícia de que levarão o acervo para a cidade de São José dos Campos em local onde se encontra o Memorial Aeroespacial Brasileiro.

Durante a avaliação soube que Ozires Silva fazia parte do Conselho da Universidade e que todos os dias era o primeiro a chegar, antes das sete horas da manhã. Na época, com 86 anos de idade, mostrava ser um exemplo para todos. Atualmente, com 90 anos completos, Ozires é o Chanceler da Universidade São Judas Tadeu. Coincidentemente meus queridos filho e nora são professores do curso de Odontologia dessa instituição.

Não sei a emoção de ir a Roma e apertar a mão do Papa, mas talvez seja próxima ou até a mesma de apertar a mão do Papa da Indústria Aeronáutica Brasileira. Vida longa a Ozires.