sexta-feira, 2 de abril de 2021

O Papa da Indústria Aeronáutica Brasileira

Em maio de 2017 fui designado pelo MEC – INEP para avaliar um curso superior da Universidade São Judas Tadeu, localizada no bairro da Mooca em São Paulo. Eu e meu colega de avaliação, também professor, fomos instalados em uma sala situada no fundo de um grande salão do andar superior da universidade, destinada às atividades da comissão de avaliação. Ao redor deste salão existiam outras salas ocupadas pela direção da universidade.

Durante o intervalo para o almoço, fiquei esperando pelo meu colega em uma parte do salão e, para minha surpresa, apareceu saindo de uma das salas o Comandante Ozires Silva. Ali estava o homem que criou a Embraer, foi Presidente da Petrobrás, Ministro do Governo Federal, Presidente da Varig, além de piloto. Imediatamente criei coragem e fui me apresentar sem saber o que diria. Apertei a mão dele e balbuciei algo como “estou feliz em ter a oportunidade de conhecer o pai da Embraer. A sua determinação fez com que este país tenha uma forte indústria aeronáutica”. Só deu tempo dele agradecer minhas palavras, pois logo em seguida meu colega, acompanhado de outros professores da instituição, me chamou para almoçarmos.

No dia seguinte cheguei cedo à universidade e no trajeto até a minha sala, percebi que apenas uma das salas estava aberta. Olhei e vi o comandante Ozires Silva sentado a sua mesa. Cumprimentei, pedi permissão para adentrar e observei a decoração do ambiente, constituída basicamente de miniaturas de diversos tipos de avião, além de um único quadro pintado retratando um aeroplano, elementos decorativos simples como a pessoa que conhecera no dia anterior.

Iniciei uma conversa lamentando o fechamento do museu da TAM (hoje Latam), desde janeiro de 2016, e perguntei o que poderia ser feito para reativar esse “santuário” da aviação. Visitei esse museu duas vezes e apreciei-o tanto que gostaria de visitá-lo em outras oportunidades. O museu da TAM é um espaço cultural magnífico, talvez um dos maiores museus de aviação do mundo, localizado em São Carlos, interior de São Paulo. Abriga aproximadamente 110 aviões, desde réplicas idênticas do 14-bis e do Demoiselle de Santos Dumont, passando por caças da 2ª Grande Guerra como o Spitfire e o Messerchimitt 109, caças russos como o Mig-15 e Mig-19 e até o Constellation da antiga Panair do Brasil. Na minha segunda visita, em 2013, encontrei simuladores profissionais destinado ao público e os primeiros drones bélicos da aeronáutica.

O comandante Ozires Silva, muito calmo e com voz pausada, me respondeu que apesar das dificuldades estava tentando trazer o museu para um espaço no Campo de Marte em região próxima da marginal do Tietê em São Paulo. Recentemente tive a notícia de que levarão o acervo para a cidade de São José dos Campos em local onde se encontra o Memorial Aeroespacial Brasileiro.

Durante a avaliação soube que Ozires Silva fazia parte do Conselho da Universidade e que todos os dias era o primeiro a chegar, antes das sete horas da manhã. Na época, com 86 anos de idade, mostrava ser um exemplo para todos. Atualmente, com 90 anos completos, Ozires é o Chanceler da Universidade São Judas Tadeu. Coincidentemente meus queridos filho e nora são professores do curso de Odontologia dessa instituição.

Não sei a emoção de ir a Roma e apertar a mão do Papa, mas talvez seja próxima ou até a mesma de apertar a mão do Papa da Indústria Aeronáutica Brasileira. Vida longa a Ozires.

Nenhum comentário:

Postar um comentário