segunda-feira, 19 de julho de 2021

Os Castro e Silva de Cascavel - Ceará

O açoriano José de Castro e Silva (1709-1784), patriarca da família Castro e Silva, aportou no Ceará por volta de 1745, desembarcando no povoado de Aracati. Casou-se em 27/05/1748 na Fazenda Passagem das Pedras (hoje situada na cidade de Itaiçaba) com Anna Clara da Silva Cruz (1732-1790), filha de Antônio Silva da Cruz (natural da Freguesia do Espírito Santo em Lisboa) e de Teresa Maria de Jesus (viúva de José Ferreira Collaço e descendente da família Bezerra de Meneses). José foi proprietário de terras no Palhano e do sítio Juazeiro, herdado por seu filho João. Seus 10 filhos nasceram, foram criados e educados no sítio Juazeiro, próximo a cidade de Aracati.  

Os dois filhos mais velhos ocuparam os principais cargos da cidade de Aracati. O primogênito era o coletor de impostos e tesoureiro na localidade e o segundo filho foi Capitão-Mor da cidade. Já no final do século XVIII, os Castro e Silva detinham poder político e econômico da província do Ceará e mantinham prepostos em Fortaleza, cidade que naquela época representava o poder militar. Talvez por falta de oportunidade em Aracati, outros quatro filhos de José foram morar em outras cidades do Ceará, sendo um em Fortaleza (capital da província), um em Sobral (região norte) e dois em Cascavel (vila situada a meio caminho entre Aracati e Fortaleza). Os dois filhos que se fixaram em Cascavel, o Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva (1764-?) e o Padre Joaquim José de Castro e Silva (1772-1824), vieram para a vila por volta de 1789.

Francisco Xavier, o mais velho dos dois, ocupou o posto de capitão de ordenanças na vila de Cascavel. A estrutura militar lusitana do último terço do século XVIII, que se transferiu para o Brasil, se dividia basicamente em dois tipos específicos de força: os Corpos Regulares (conhecidos também por Tropa Paga ou de Linha) e os Corpos Irregulares ou de Ordenanças. Os Corpos Regulares formavam o exército “profissional”, sendo a única força paga pela Fazenda Real. Essa força organizava-se em regimentos, terços e companhias, cujo comando pertencia a fidalgos de nomeação real. Teoricamente, dedicavam-se exclusivamente às atividades militares.

Os Corpos de Ordenanças, conhecidos por paisanos armados, possuíam um forte caráter local, pois eram recrutados dentre os indivíduos da população masculina da localidade. Os componentes do Corpo de Ordenanças não recebiam soldo, permaneciam em seus serviços particulares e, somente em caso de grave perturbação da ordem pública, abandonavam suas atividades. Os postos do Corpo de Ordenanças de mais alta patente eram na ordem de hierarquia: capitão-mor, sargento-mor e o capitão de ordenanças.

Os capitães-mores, além de funções militares, eram também responsáveis por representar o governo e chefiar parte da administração pública na sua cidade. A maior parte da administração pública era exercida pelos indivíduos eleitos da Câmara (hoje vereadores) que formavam o Conselho da vila ou cidade. O cargo de capitão-mor era perpétuo, ocupado pelas “pessoas principais” do local e conferia a seus ocupantes “nobreza vitalícia”.

O posto de capitão de ordenanças, hierarquicamente inferior ao de capitão-mor, era em muitos casos, a porta de entrada para os nomeados atestarem seu valor e conseguirem alcançar uma patente mais alta. O capitão de ordenanças era responsável por recrutar os indivíduos que formavam a força militar local e por comandar, em caso de necessidade, as companhias dos regimentos.

O Capitão Francisco Xavier comandou o corpo de ordenanças de Cascavel até o seu falecimento. Casou-se em 08/06/1790, na capela de Nossa Senhora do Ó de Cascavel, com Anna Thereza de Jesus (1769-?). Dessa união nasceram três filhos, que se tem conhecimento da existência deles: Rita Angélica de São Francisco (1791-1880), Manoel de Castro e Silva (1794-?) e Luiz de Castro e Silva (1796-?). 

Rita Angélica casou-se em janeiro de 1807 (16 anos de idade), na cidade de Cascavel,  com José Ignácio da Silveira e Silva (?-1843), filho do notável advogado José Ignácio da Silveira Gadelha, pernambucano de Igarassu, que foi o 1º tabelião de Aquiraz, e de Maria Ignácia Gadelha. Rita Angélica faleceu em Aquiraz aos 89 anos de idade e 37 anos de viuvez. Teve 8 filhos entre eles o Padre Pedro José de Castro e Silva (1811-1889), meu trisavô.

Aqui cabe ressaltar que o Padre Pedro era descendente, por parte de mãe, da família Castro e Silva e, por parte de pai, da nobre família Gadelha de Pernambuco. Seu tetravô, o português Manoel da Costa Gadelha veio para o Brasil servir na guerra contra os holandeses. Após a restauração de Pernambuco, Manoel reivindicou o status de nobreza (cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor e governador das armas do rio São Francisco), junto à corte portuguesa, a fim de compensar as perdas sofridas na guerra.

O filho caçula do Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva, de nome Luiz, se fixou em Cascavel e se tornou agricultor e grande proprietário de terras na região de Tijucussu, próximo da praia da Caponga. Casou com Anna Gonçalves (Sinhá Aninha) e dessa união teve uma filha, Angelina Sabina, que veio a se casar com um membro da família Goes, gerando vários descendentes na cidade de Fortaleza.

O Padre Joaquim José (filho caçula do patriarca José de Castro e Silva), irmão do Capitão Francisco Xavier, viveu em concubinato com a irmã de Anna Thereza (mulher de Francisco), chamada Ignácia Maria de Jesus. Essas irmãs eram filhas do Capitão Antonio José Pereira Leite, português, nascido em Guimarães e de Angélica Francisca Rabelo Vieira. Esse Padre teve 2 filhos com Ignácia: Jose Marcos de Castro e Silva (1814-1867) e Joaquim Emygdio de Castro e Silva (1816-?).

José Marcos foi o 10 tabelião de Cascavel e seu cartório passou por mais de 5 gerações da sua família. Atualmente, um dos cartórios da cidade pertence aos descendentes dele. O segundo filho, Joaquim Emygdio, teve descendentes que incorporaram o nome Emygdio ou Emigdio, como segundo nome. Quase todos Emígdio de Castro do Ceará são provenientes do filho mais novo do Padre Joaquim. 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Onde investir em renda fixa com vencimento até 2 anos

O boletim Focus do Banco Central mostra projeções da expectativa do mercado para a inflação (IPCA), câmbio, preços administrados, meta Selic e outros índices. Segundo o último relatório Focus do dia 12/07/2021, a taxa SELIC deve chegar a 6,63% até o final de 2021 e se manterá neste patamar em 2022 com ligeira alta. Já o câmbio deve fechar o ano no nível de R$ 5,05 por dólar.

 

2021

2022

2023

IPCA

6,32

3,71

3,25

Câmbio

5,05

5,20

5,00

Meta SELIC

6,63

7,00

6,50

IGPM

18,35

4,60

4,00

Preços Administrados

9,70

4,50

3,75

Taxas projetadas pelo Relatório Focus do BC de 12/07/2021

O IBGE anunciou o IPCA do mês de junho de 2021 em 0,53%. Com isso, a inflação dos 12 últimos meses está no patamar de 8,35%, bem superior ao esperado, ocasionando pressão sobre os juros de curto prazo. Essa persistência da inflação em patamares elevados gerou nos últimos meses altas sucessivas da Selic, hoje em 4,25%, e provocou um sentimento de insegurança sobre possíveis desestímulos na economia para conter a inflação. Contudo, a curva de juros de longo prazo (que indica o nível de incertezas para o futuro) já é perceptível essa tendência com os juros DI com vencimento em 2027 saltando de 6,40% para 8,60%.

Se o COPOM aumentar a SELIC para 6,50% até o final de 2021 e mantiver a mesma taxa em 2022, o CDI terminará no ano de 2021 (acumulado) em 4,05% e manterá próximo de 6,50% em 2022, projetando uma taxa mensal de 0,52%.

Alguns analistas do mercado financeiro já trabalham com uma projeção de 8,50% para a taxa de juros. Outros acreditam que a taxa não passará de 7,50%, mas será superior a taxa de 6,50% projetada pelo Banco Central há uma semana atrás. Acredita-se que por causa da inflação e das eleições no ano que vem, os juros devem precificar para cima, principalmente se um candidato com visão mais socialista ganhar a eleição. No entanto, lembre-se que juros elevados é a principal medida do Banco Central para conter a inflação, mas por outro lado inibem o crescimento do País (PIB).

Considerando que o País tem passado continuamente por diversas crises desde o primeiro presidente (Marechal Deodoro) e que elas são de natureza moral, política, fiscal e econômica, pode-se afirmar, sem pestanejar, que o futuro do Brasil é incerto e sempre será. A instabilidade política e econômica atual não permite cravar uma inflação perto da meta projetada, e consequentemente, a precificação dos juros para cima é inevitável.  

Observando os ativos de renda fixa, de emissão bancária, ofertados pelo mercado no mês de julho, verifica-se uma maior oferta de ativos pós-fixados em CDI e de prefixados e uma pequena oferta de ativos atrelados ao IPCA. Isto deixa claro que as instituições bancárias estão céticas em relação a uma inflação em torno de 6,30% ao final de 2021 e mais descrentes ainda com a taxa projetada de 3,75% para 2022. A tabela abaixo mostra as taxas médias de CDB, LCI e LCA ofertados em 12/07/2021 pelo mercado de renda fixa, com vencimentos em 1 e 2 anos.

Ativo

Vencimento em 12/07/2022

Vencimento em 12/07/2023

 

Prefixado

Pós – CDI

IPCA+fixo

Prefixado

Pós - CDI

IPCA+fixo

CDB

8,00%

125%

Ipca+2,10%

9,55%

130%

Ipca+3,80%

LCI / LCA

7,00%

102%

Ipca+1,15%

7,70%

105%

Ipca+2,50%

Taxa média dos ativos com mais retorno em 12/07/2021

Em um artigo publicado neste blog em março passado, recomendei que os investidores aplicassem no curto prazo, no máximo dois anos diante das incertezas que atravessam o País e fugissem do longo prazo. Investimentos em ativos com vencimento para mais de dois anos é temerário no atual momento.

Diante do cenário pré-eleitoral, da pandemia de covid inacabada, do pessimismo do mercado, os investimentos em prazos curtos (até 2 anos), atrelados ao IPCA (inflação) devem oferecer um rendimento maior, mas não descartaria um CDB prefixado com taxa superior a 12% (difícil encontrar).

segunda-feira, 5 de julho de 2021

O jogo só acaba quando termina

Creso foi o último Rei da Lídia, região que hoje compreende a parte ocidental da Turquia. Viveu no século VI a.c. e foi considerado o homem mais rico do mundo daquela época, graças as minas de ouro do reino. Conta-se que Sólon, um dos sete sábios da Grécia, conhecido pela sua sabedoria, moral ilibada, dignidade e inteligência, visitou Creso em Sardes, cidade da Lídia, mas não ficou surpreso com a riqueza e nem demonstrou a menor admiração pelo rei. Enfurecido Creso perguntou se Sólon havia conhecido homem mais feliz que ele. Sólon respondeu não podia admirar a felicidade de um homem porque no decorrer do tempo essa felicidade poderia sofrer mudança, uma vez que o futuro é incerto e ainda não tinha chegado. O equivalente moderno das palavras de Sólon é “nada está acabado até acabar” ou como dizia Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians, “o jogo só acaba quando termina”.

 Até por volta de 550 a.c. o reino da Lídia fazia fronteira com o Império Medo ou Média, que por essa época foi tomado pelo exército de Ciro, o Grande. Diante do domínio dos Persas sobre o povo Medo, Creso procurou tirar proveito da situação para expandir suas fronteiras para leste. Sabendo que teria inevitavelmente de enfrentar os Persas, antes de confrontá-los enviou um mensageiro ao Oráculo de Delfos consultando sobre êxito das suas intenções de tomar as terras dos Medos. O Oráculo respondeu que se atravessasse o rio Hális, fronteira natural entre os reinos, com seu exército, acabaria por destruir um império.

Sólon havia dito a Creso, sobre sua riqueza e esplendor, que tudo que vem com auxílio da sorte pode ser tomado pela própria sorte (em geral, rápido e inesperadamente). Sólon também teria dito que não importa com que frequência algo tem êxito se o fracasso tem um preço excessivamente elevado.

Incentivado pela profecia do Oráculo, Creso avançou com seu exército, atravessou o rio Hális e tomou parte das terras dos Medos. Sabendo do ocorrido, Ciro, o Grande, reuniu suas tropas e atacou as forças lídias que sofreram perdas significativas, retornando para Sardes. Esta derrota implicaria que a profecia do Oráculo fosse na realidade cumprida, mas ao contrário do que Creso tinha imaginado, ou seja, ao cruzar o rio Hális, Creso levou à queda de um império, o seu. Em 546 a.c. Ciro dominou a Lídia e Creso foi morto na fogueira. Antes de morrer, Creso teria gritado: “Sólon, você tinha razão”.

Hoje, muitas pessoas no Brasil, principalmente as vacinadas contra covid, tem se comportado como Creso, apesar do futuro incerto da pandemia. Ouço diariamente pessoas dizendo que já tomaram as duas doses da vacina e, por isso, estão imunizadas, não precisam do distanciamento, podem aglomerar e não usam máscaras. Se Vicente Matheus estivesse vivo diria que a pandemia de covid só acaba quando termina.