sábado, 13 de julho de 2024

A Estratégia Dividir para Liquidar

 Quem trabalhou algum tempo com programação de computadores certamente ouviu falar da expressão “Dividir para Conquistar”. É uma estratégia e também um paradigma algorítmico semelhante ao paradigma da Programação Dinâmica. Envolve quebrar um problema complexo em partes menores e mais fáceis de lidar, a fim de resolvê-lo de forma mais eficaz. Essa abordagem é comumente usada em diversas áreas, como na resolução de problemas matemáticos, de engenharia e até mesmo em estratégias políticas e militares. Ao lidar com um desafio, ao invés de tentar resolvê-lo como um todo, a estratégia de dividir para conquistar sugere abordar cada parte separadamente para alcançar a solução geral. Um algoritmo de dividir para conquistar típico resolve um problema em três etapas. A primeira é dividir, isto é, quebrar o problema em subproblemas que sejam partes menores do mesmo problema. A segunda é conquistar, ou seja, resolver os subproblemas recursivamente. E a terceira é resolver os subproblemas como problemas base, caso eles sejam suficientemente pequenos. 

O termo, embora já conhecido na Antiguidade, foi cunhado pelo imperador romano Júlio César (divide et impera) em seu livro “De Bello Gallico” (Guerra das Gálias), que explicou como a vitória romana na guerra gaulesa era essencialmente uma política de dividir seus inimigos, aliar com tribos individuais durante suas disputas com adversários locais. Essa estratégia também foi utilizada pelo imperador francês Napoleão (divide ut regnes).

A estratégia “Dividir para Liquidar” apresenta uma abordagem semelhante a anterior. A palavra Liquidar tem a mesma etimologia da palavra Liquidez, do Latim Liquidare, de liquidus, “fluido, umidade, líquido”, de liqui, “derreter, escorrer, fluir”. Então essa estratégia envolve a divisão do problema para se ter liquidez ou para liquidar como “limpar uma dívida, quitá-la, enxugá-la”. Esta estratégia pode ser aplicada em uma carteira de investimentos financeiros, por exemplo.

Investidores devem sempre observar o tripé Rentabilidade, Liquidez e Segurança em suas aplicações financeiras. Rentabilidade, liquidez e segurança são conceitos-chave em finanças e investimentos. Ao investir, é essencial encontrar um equilíbrio entre os três com base em seus objetivos financeiros, tolerância ao risco e horizonte de investimento.

A Rentabilidade refere-se ao potencial de ganho ou retorno financeiro que um investimento pode proporcionar ao investidor. Investimentos com maior potencial de rentabilidade geralmente vêm acompanhados de um nível mais elevado de risco. É importante considerar a relação entre risco e retorno ao tomar decisões de investimento.

A Liquidez refere-se à facilidade com que um investimento pode ser convertido em dinheiro sem perda significativa de valor. Investimentos líquidos podem ser rapidamente convertidos em dinheiro, enquanto investimentos menos líquidos podem levar mais tempo ou resultar em perdas financeiras ao serem resgatados antecipadamente.

E por fim a Segurança refere-se à proteção do capital investido contra perdas. Investimentos considerados seguros geralmente têm um risco mais baixo associado a eles, como investimentos em títulos do governo, contas de poupança e CDB (Certificado de Depósito Bancário), estes dois últimos garantidos pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito). A segurança é um aspecto fundamental a ser considerado na construção de um portfólio de investimentos equilibrado.

Muitas vezes os investidores conseguem bons investimentos que oferecem somente dois dos aspectos ou conceitos citados. Por exemplo, conseguem uma boa rentabilidade em um produto com proteção do capital, isto é com segurança. Porém a liquidez fica a desejar, resultando dificuldades em converter rapidamente em dinheiro o valor investido.   

A ideia da estratégia “Dividir para Liquidar’ é obter uma pseudo liquidez de forma que o investidor consiga encontrar o equilíbrio entre os três aspectos-chave. Imagine um investidor de nome Patinhas que aplique seu dinheiro em renda fixa, CDB, por exemplo. O mercado financeiro oferta CDB com resgate diário ou com resgate somente no vencimento. Os CDBs com resgate diário oferecem rentabilidades menores que os de vencimento. Então, Patinhas sempre irá aplicar em CDBs com resgate no vencimento. Imagine que Patinhas tem um capital, por exemplo 21 mil reais, que possa dividir esse montante em pequenas partes de mil reais. Patinhas poderá escolher um período de um ano para resgatar seu CDB. Ele tem duas alternativas. Uma aplicar todo seu capital em um único CDB que será resgatado daqui a um ano. A outra é aplicar diariamente mil reais durante os 21 dias úteis do mês, que será resgatado diariamente, durante 21 dias, após um ano.

A primeira vista pergunta-se: qual a vantagem dessa estratégia? Nenhuma. Porém se Patinhas usar essa estratégia diariamente durante algum tempo, por exemplo, um ano, ele ao final terá liquidez diária dos pequenos capitais investidos. Agora imagine que  Patinhas possa fazer novos aportes a sua carteira (esse cara ganha dinheiro, hein!) no decorrer do ano. Ele sabe que o ano tem 252 dias úteis, podendo aplicar mil reais em cada dia e, a partir daí, os juros compostos fazem seu trabalho de aumentar o capital do Patinhas. Após um ano, Patinhas terá liquidez diária, não de todo seu capital empregado, mas de parte dele. Então, essa estratégia requer tempo para o investidor obter resultados, mas poderá ter rentabilidade, segurança e liquidez do capital investido.

domingo, 14 de abril de 2024

Não existe a "Grande Tacada"

A expressão "grande tacada" pode ser usada para descrever momentos de sucesso excepcional nas finanças. Porém, é importante reconhecer que tais momentos são geralmente raros e não devem ser vistos como a norma. A probabilidade de um evento significativo resultar em ganhos financeiros consideráveis é muito, muito pequena. Ganhar na mega sena ou qualquer outro jogo de loteria é quase impossível (probabilidade de ganhar na mega sena é de 1 para 50.063.860). Portanto, o trabalho é a principal fonte de resultado financeiro e vai permanecer dessa forma durante muitos anos. O sucesso financeiro geralmente é construído ao longo do tempo, com paciência, disciplina e diligência, investindo de forma diversificada, evitando perda permanente de capital e mantendo o patrimônio investido ao longo dos anos – isso que fará a diferença.

O exercício de alocar (poupar) recursos é muito mais sobre disciplina do que qualquer outro fator. Aportes mensais, poupar recursos, gastar menos do que ganha, não ter dívidas, tudo isso seria o ideal. Algumas práticas fundamentais para uma saúde financeira sólida são:

1. Aportes mensais: Investir regularmente uma parte dos rendimentos é uma maneira eficaz de construir riqueza ao longo do tempo. Isso pode ser feito através de investimentos em títulos públicos, fundos, imóveis, entre outros veículos de investimento.

2. Poupar recursos: Ter uma reserva de emergência é essencial para lidar com imprevistos financeiros, como despesas médicas inesperadas ou perda de emprego. Economizar regularmente uma porcentagem da renda pode ajudar a construir essa reserva ao longo do tempo.

3. Gastar menos do que ganha: Viver dentro dos meios que ganha é fundamental para evitar dívidas e manter uma vida financeira saudável. Isso significa não gastar mais do que se ganha e ter controle sobre os gastos.

4. Não ter dívidas: Evitar dívidas desnecessárias e pagar as dívidas existentes de forma consistente são passos importantes para garantir estabilidade financeira. Isso inclui evitar o acúmulo de dívidas de cartão de crédito com juros altos e priorizar o pagamento de empréstimos com taxas de juros mais elevadas.

Seguir esses princípios básicos pode ajudar a construir uma base financeira sólida e alcançar os objetivos de longo prazo, como aposentadoria confortável, compra de uma casa ou educação dos filhos.

O Brasil é um país emergente que por definição é mais pobre. Contudo, esse ideal, ou seja, esse exercício financeiro não é uma realidade neste País para muitos o discurso do “corte o café e economize” não é funcional. Assim sendo, aproveite a vida, mas tenha responsabilidade fiscal. Creio que essa é a mensagem central deste artigo.

Assim como você cuida da sua saúde para viver mais, também deveria cuidar das finanças para viver melhor. Pense nisso.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Eram nossos antepassados falecidos anjos da guarda?

Parafraseando Erich Von Daniken, seriam nossos ascendentes falecidos os anjos da guarda?

Não há evidências concretas ou consenso científico sobre a existência de anjos da guarda ou sobre os antepassados assumirem essa função. A crença em anjos da guarda é, em grande parte, uma questão de fé e espiritualidade, variando entre diferentes religiões e culturas. Alguns podem acreditar que os antepassados falecidos possam vigiar e proteger seus entes queridos, enquanto outros podem acreditar em outras formas de intervenção divina ou proteção espiritual.

Em quase todas religiões que descendem de Abraão, um anjo é um servidor de Deus, um ser puramente espiritual. Tanto no Cristianismo quanto no Judaísmo e no Islamismo existe a figura do anjo ou do arcanjo. Nessas religiões, os anjos da guarda protegem cada um dos fiéis.

É difícil imaginar a quantidade necessária de anjos para proteger bilhões de fiéis espalhados pelo planeta. Mesmo que essa quantidade necessária fosse na casa de milhões, por exemplo um milhão de anjos, eles teriam um trabalho hercúleo para proteger algo em torno de 5.000 fiéis para cada anjo.

Aqueles que acreditam que os antepassados falecidos protegem seus entes queridos se deparam com outra questão. Existe vida após a morte?

A questão sobre a vida depois da morte é um tema debatido há milênios e não existe uma resposta definitiva. Dependendo da sua fé, crenças ou filosofia, as respostas podem variar.

Para algumas religiões, como o Cristianismo, Islamismo e Judaísmo, acredita-se na existência de um plano espiritual após a morte, onde a alma é julgada de acordo com suas ações nesta vida. Para outras religiões, como o Hinduísmo e Budismo, acredita-se em reencarnação, onde a alma renasce em um novo corpo.

Por outro lado, existem pessoas que acreditam que a morte é o fim absoluto da existência, e que não há nada além disso. Essa visão é baseada em perspectivas científicas e filosóficas, que consideram a morte como o fim definitivo da consciência.

No final das contas, a resposta para a pergunta sobre a vida após a morte é um mistério que cada pessoa precisa explorar por si mesma, e pode variar de acordo com suas crenças pessoais.

Contudo, várias pessoas têm relatado situações de perigo iminente ou de desespero, que poderiam causar acidentes ou até morte, mas que algo as impediu que a situação fosse concretizada. Seriam seus antepassados falecidos protegendo-as? Creio que sim.


domingo, 11 de dezembro de 2022

As Famílias Moreira e Pacheco

Não poderia deixar de escrever sobre as famílias Moreira e Pacheco, das quais descende minha mãe, Adelaide Moreira de Castro e Silva (Zizinha). Essas duas famílias se entrelaçaram através do casamento da minha avó, por parte de mãe, Adelaide Gonçalves Moreira (1885-1925) com meu avô, Urgel Ferreira Pacheco (1879-1942).

A família Moreira veio para o Rio Grande do Sul no finalzinho do século XIX ou início do século XX. O patriarca da família é o baiano Joaquim Gonçalves Moreira, casado com Maria Rosa Moreira. Ele tinha uma pequena padaria e sua esposa fazia doces que eram vendidos no seu estabelecimento. Joaquim e Rosa tiveram três filhos, Antônio Gonçalves Moreira, mais conhecido como Totonho (1875-1953), Adelaide Gonçalves Moreira (minha avó) e um outro que era boêmio (não se sabe o nome).

Antônio se formou na Faculdade de Medicina da Bahia, 1ª escola de medicina do Brasil, no ano de 1900. Esta escola foi criada por D. João VI. O pouco tempo que D. João VI e a família real permaneceram na Bahia, um mês e dois dias, foi o suficiente para que se registrassem alguns fatos de relevância nacional.

O primeiro fato foi a abertura dos portos do Brasil às nações amigas de Portugal. O segundo foi quando D. João VI assinou, em 18 de fevereiro de 1808, o documento que mandou criar a Escola de Cirurgia da Bahia, no antigo Hospital Real Militar da Cidade do Salvador, que ocupava o prédio do Colégio dos Jesuítas, construído em 1553, no Terreiro de Jesus. Em 1º de abril de 1813 a Escola se transformou em Academia Médico-Cirúrgica. Em 03 de outubro de 1832 ganhou o nome de Faculdade de Medicina, que guarda até hoje.

Após a sua diplomação de médico, entrou para o Corpo de Saúde do Exercito Brasileiro e foi servir, como oficial-cirurgião, no Rio Grande do Sul. Por lá, morou por vários anos (talvez mais de dez) na cidade de São Luís das Missões, hoje São Luís Gonzaga, e passou alguns períodos em São Lourenço, Rio Grande, Livramento e outras cidades do sul do País.

Antônio casou por volta de 1904 com uma cearense da família Cavalcanti D’Araújo, de nome Josepha (1887-1925), filha do Comendador Vulpiano Cavalcanti D’Araújo (1842-1909), alto funcionário da Alfândega, e de D. Thereza D’Azevedo Cavalcanti. Dessa união nasceram Theresa (1906-2003), Antônio Filho (1909-1939), Joaquim (1911-1967) e João (1914-?). Os três primeiro filhos nasceram no Rio Grande do Sul e somente João nasceu em Fortaleza, Ceará.

Por quase 20 anos o Dr. Antônio Gonçalves Moreira serviu no Rio Grande do Sul, inicialmente com a patente de tenente-cirurgião, depois promovido a Capitão e em seguida a Major e Tenente-Coronel. Nesse período foi chefe do Serviço de Saúde da Brigada de Cavalaria do Rio Grande. Tinha ótimas relações de amizade com pessoas influentes no Estado, como o Senador Pinheiro Machado. Foi através dessas relações que ele conseguiu transferência para o Rio de Janeiro, por volta de 1924, onde fixou residência até a sua reforma do exército em dezembro de 1937.

Sua irmã, Adelaide Gonçalves Moreira (1885-1925), casou com Urgel Ferreira Pacheco (1879-1942), funcionário público de São Luis Gonzaga, tendo sido secretário do Prefeito da cidade em vários períodos. Urgel também foi vereador (naquele tempo se chamava conselheiro) por três legislaturas, até 1924. Urgel era filho de Manoel Ferreira Pacheco, comerciante abastado que morava na maior praça de São Luís Gonzaga (praça da catedral), vizinho de políticos e pessoas influentes, entre elas os irmãos e parentes do Senador Pinheiro Machado, e de Brandina Ferreira Pacheco.

Urgel e Adelaide tiveram quatro filhos. Iracema (1910-1988), Urgel Filho (1913-1986), Maria Brandina (1917-1978) e Adelaide, minha mãe (1921-2002). Adelaide, minha avó, veio a falecer por volta de 1925 de um surto de febre tifóide que assolou o Rio Grande. Pouco tempo depois Urgel casou com a jovem Maurilia Feijó (1904-?) com que teve uma filha de nome Anita (1927-2017).

domingo, 8 de maio de 2022

Adelaide Moreira de Castro e Silva (Zizinha), minha querida mãe

Hoje, 08/05/2022, completa 20 anos do falecimento da minha mãe Adelaide, mais conhecida como Zizinha (apelido de criança). Minha mãe foi a pessoa mais generosa, sensível, altruísta, amorosa e prestativa que já conheci. Minha mãe nasceu na cidade São Luis Gonzaga, Rio Grande do Sul, em 15 de dezembro de 1921. Casou com meu pai, Aluisio de Castro e Silva, em 25 de setembro de 1948 na cidade do Rio de Janeiro.

Filha de Urgel Ferreira Pacheco (gaúcho) e de Adelaide Moreira Pacheco (baiana). Seu pai foi secretário da Prefeitura de São Luis Gonzaga por vários anos e depois foi vereador por duas legislaturas na mesma cidade. O casal teve 4 filhos: Iracema (primogênita), Urgel Filho, Maria Brandina (Mariinha) e Adelaide (Zizinha).  

Minha mãe viveu até os 4 anos com os pais no Rio Grande do Sul. Em 1925 sua mãe foi acometida de séria doença, resultando em morte prematura. A doença de sua mãe foi comunicada ao seu tio, o médico Antônio Gonçalves Moreira, que morava na época no Rio de Janeiro. Ao saber do ocorrido com a irmã, Dr. Antônio Moreira pegou imediatamente um navio que saiu do Rio de Janeiro e depois de uma longa viagem por mar até Porto Alegre e por terra até São Luis Gonzaga, que deve ter demorado quase um mês, conseguiu chegar a tempo de fazer o enterro. Porém, mais uma péssima notícia o esperava quando chegou ao Rio Grande do Sul. Sua esposa, Josepha Cavalcanti de Araújo, que passava férias com suas irmãs em Fortaleza, havia sido acometida da peste branca (tuberculose)  e falecido durante seu trajeto.

Após o enterro da esposa, Urgel informou ao cunhado que não tinha condições de criar sozinho os 4 filhos e pediu a ajuda para criar as três filhas meninas (Iracema, Maria e Adelaide),  uma vez que o menino Urgel Filho poderia ajudá-lo nas tarefas da chácara. Dr. Antonio Moreira aceitou a incumbência, retornou ao Ceará para enterrar a esposa, levando as suas três sobrinhas e deixando-as temporariamente com uma parente em Salvador.

As três irmãs foram criadas juntamente com seus 4 primos (Quinzo, Antonio, Tereza e João), filhos do Dr. Antônio Gonçalves Moreira e de sua falecida esposa. Dr. Antônio Moreira não fazia distinção entre seus filhos e suas sobrinhas, todos tiveram as mesmas oportunidades. Por isso, minha mãe sempre o chamou de Pai. 

Em fins de abril de 2002, dias antes de falecer, minha mãe me disse que havia conversado várias vezes com seu pai, Dr Antônio Moreira, já falecido em 1953 e que ele a teria confortado.     

Saudades.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Cursos Gratuitos de Formação Básica em Investimentos e de Probabilidade e Estatística

Prezados e Prezadas

Recentemente me aposentei do magistério do ensino superior, mas após alguns meses bateu uma saudade imensa da sala de aula. A fim de “matar” a saudade, resolvi montar cursos GRATUITOS, dentro da minha expertise, e pretendo ministra-los presencialmente. A única exigência que faço para ministrar os cursos gratuitamente é que a turma tenha no mínimo 5 alunos. Os seguintes cursos gratuitos estão prontos:

- Formação Básica em Investimentos Financeiros, com Matemática Financeira

- Probabilidade e Estatística para Computação

Meu e-mail para contato é jlcs53@gmail.com. Se alguém estiver curioso para ver meu currículo o link é http://lattes.cnpq.br/6140115232418895

Segue abaixo o programa do curso de Formação Básica em Investimentos.

OBJETIVOS

Introduzir os conceitos, produtos e práticas do mercado financeiro e de capitais,  apresentando sua estrutura, suas características e os principais produtos disponíveis para investimentos e como também os riscos a eles associados.

 

1. Motivação

1.1. Como ganhar dinheiro sem fazer força

1.2. A melhor idade para investir

1.3. A bola de neve dos juros compostos

1.4. Planilha de Cálculo de Renda Constante para Aposentadoria

 

2. Sistema Financeiro Nacional e Participantes do Mercado

2.1. Funções Básicas

2.2. Estrutura

2.3. Principais Agentes

 

3. Matemática Financeira

3.1. Introdução - Juros Simples e Juros Compostos

3.2. Cálculo do Montante ou Valor Futuro

3.3. Taxas proporcionais x Taxas equivalentes e Taxa Nominal x Taxa Efetiva

3.4. Montante pela convenção linear e pela convenção exponencial

3.5. Introdução a Rendas Certas

3.6. Cálculo do Valor Atual das rendas constantes

3.7. Cálculo do Valor Futuro das rendas constantes

 

4. Investimentos no Mercado Financeiro
4.1. Relação Risco x Retorno
4.2. Renda fixa 
4.3. Renda Variável

 

5. Mercado Monetário e Títulos Públicos Federais
5.1. Conceitos e Instrumentos de Política Monetária
5.2. Títulos Públicos (LTN, LFT, NTN-B)
5.3. Mercado Primário 
5.4. Mercado Secundário

 

6. Mercado de Crédito
6.1. Sistema bancário
6.2. Fundo Garantidor de Crédito
6.3. Principais Produtos de Capitação Bancária
6.3.1. Poupança
6.3.2. CDB
6.3.3. LCI
6.3.4. LCA
6.3.5. Outros

 

7. Mercado de Capitais
7.1. Estrutura e regulamentação
7.2. Produtos de Renda Fixa Privada
7.2.2. Debêntures / CRI / CRA
7.2.3. Commercial Papers 
7.3. Mercado de Ações (Renda Variável)
7.4. Mercado de Derivativos

8. Fundos de Investimentos e Previdência
8.1. Estrutura do Produto e Principais Características
8.2. Fundos de Renda Fixa / Ações / Multimercado 

8.3. PGBL e VGBL
8.4. Classificação e Política de Investimentos

 

9. Outros Produtos de Investimento

9.1 Renda Variável e Produtos Estruturados

9.2. Ações / ETF / COE / FII / BDR


sábado, 12 de março de 2022

Aqui nesta casa (Palácio da Luz) não se dança mais!

O Palácio da Luz, que por anos e anos, foi a sede do governo do Ceará, nasceu no último quartel do século XVIII como residência particular do capitão-mor Antônio de Castro Viana (português), tesoureiro da Fazenda Pública.

Foi construído pelos índios que utilizaram tijolo de coco e barro, extraídos das margens do rio Cocó, e caiado e entelhado com materiais oriundos do Aracati.

O capitão-mor faleceu em 1801, deixando uma grande dívida em favor do erário. Por esta razão a Junta da Fazenda Pública penhorou o prédio e o vendeu à Câmara Municipal da Vila de Fortaleza pela elevada quantia de oitocentos mil réis.

Como a Câmara não dispusesse desse dinheiro criou imediatamente um novo imposto (como se faz nos nossos dias), o curioso subsídio das águas ardentes. O imposto consistia, segundo o historiador João Brígido, na cobrança de quatro mil réis sobre a pipa de cachaça importada de Pernambuco. Desta forma, quanto mais se bebesse cachaça na terra de Nossa Senhora d’Assunção mais cedo se pagaria o Palácio.

Em 1809, o prédio foi trocado por outro, para onde se mudaram os edis, passando a funcionar como sede do governo da Capitania do Ceará-Grande. O título famoso de “Palácio da Luz” foi-lhe dado, naturalmente, após a Abolição da Escravatura, da qual o Ceará foi precursor histórico.

As paredes do Palácio suportaram, em 1892, o bombardeio dos canhões La Hitte de 12 polegadas, ordenado pelo comandante da Escola Militar, por ocasião da deposição do general Clarindo de Queiroz

Estas mesmas paredes receberam os tiros e as pedradas partidos das barricadas populares, quando em 1912 foi apeado do poder o velho oligarca Nogueira Acioli.

Durante anos, os habitantes das cercanias do Palácio e os sem teto que dormiam nas adjacências da Praça General Tibúrcio falavam de sons de música, murmúrios e arrastás de pés que pareciam vir de lá, na calada da noite, como se houvesse uma festa. Eram os fantasmas dançarinos do tempo do governador Matos Peixoto. O Governador José Carlos de Matos Peixoto governou o Ceará entre 12 de julho de 1928 a 08 de outubro de 1930, ao ser deposto pelo governo provisório de Getúlio Vargas. 

Ao final da década de 1920, Matos Peixoto costumava promover todos os sábados um animado baile no Palácio, quando, como diz o povo, “enrascava” a noite toda com sua mulher, a simpática Da. Violeta, na prazerosa companhia de seus correligionários prediletos, os chamados “maravilhas”, e na animação das valsas, polcas e mazurcas.

Em 1930, vitoriosa a Revolução de Vargas, a massa popular enxotou o governador festeiro, pondo em seu lugar o líder aliancista Fernandes Távora, que foi trazido diretamente da prisão para o Palácio.

Antes de ser deposto, Matos Peixoto vendeu o sítio que possuía no bairro do Benfica, chamado de Vila Tebaida, para o meu avô, Gervásio de Castro e Silva. Esse sítio situava-se onde hoje está o shopping Benfica. Matos Peixoto saiu fugido as pressas de Fortaleza em 1930 e deixou várias coisas nesse sítio, inclusive o retrato da mulher (Da. Violeta)  pintado à óleo em um grande quadro.

E, no meio da euforia e algazarra que costumam incendiar esses momentos de exaltação política, alguém colocou uma faixa sobre o frontispício do Palácio da Luz, em que se podia ler:

Nesta casa, a partir de agora, não se dança mais!

Outras histórias e outros fantasmas estão ligados à mitologia deste prédio, que também sediou a Casa de Cultura Raimundo Cela e hoje abriga a mais antiga academia de letras do Brasil.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Aluisio de Castro e Silva (meu pai) – Professor Pardal

Quem já leu as revistas de quadrinhos dos anos 60 e 70 deve se lembrar do Professor Pardal. Ele é o inventor mais famoso de Patópolis, cidade onde mora Pato Donald, seus sobrinhos, Margarida e o Tio Patinhas. Muitas vezes suas invenções não funcionam sempre da maneira que se espera, mas suas intenções são sempre boas.

A antiga Escola Técnica Federal (depois Cefet e hoje IFCE) tinha um Professor Pardal, assim seus alunos o chamavam. Seu nome é Aluisio de Castro e Silva. Aluisio, filho de Gervásio de Castro e Silva (1881-1946), neto de Deodato José de Castro e Silva (1847-1898) e bisneto do Padre Pedro José de Castro e Silva (1811-1890), nasceu em 15/05/1922 em Fortaleza e faleceu em 06/09/2018, com 96 anos. Casou em 1949 com Adelaide Moreira Pacheco - Zizinha (1921-2002).

Sua vida foi marcada por duas fases distintas: a primeira no glorioso exército brasileiro e a segunda no magistério.

A primeira fase se inicia quando Aluisio termina o Colégio Militar do Ceará (foram 6 anos de colégio) e a entrada na Escola Militar de Realengo, após os preparatórios e exames. Passou nos exames (fim de 1939), mas só entrou na Academia no meio do ano de 1940, devido ainda não ter idade suficiente (era menor de 18 anos) para ingressar. Cursou os 4 anos da Academia, saindo aspirante no meio do ano de 1944. Ainda em 1944 toda turma dele alistou-se para a FEB, houve 100% de adesão. Não chegou a ir para o palco da guerra, pois ela terminaria em abril de 1945. No exército se especializou em Comunicações. Foi instrutor dessa área por vários anos, tendo formado soldados, sargentos, suboficiais e oficiais. Serviu o exército brasileiro até o ano de 1968, indo para reserva como Coronel.

Aluisio era despido de vaidade e muito correto e honesto nas suas atitudes. Entre os meses de janeiro e abril de 1945, participou do patrulhamento do litoral cearense, juntamente com a Marinha Brasileira (submarinos alemães afundavam navios brasileiros). Anos depois o exército considerou esses oficiais e soldados que participaram de patrulhas (retaguarda) como ex-combatentes da FEB. Aluisio nunca quis essa honraria, pois segundo ele não era correto tê-la pelo simples fato de ter comandado um destacamento de patrulhamento durante poucos meses. Comandou o 1o. Batalhão de Engenharia do Exército, sediado em Caicó – RN, de fevereiro de 1962 a junho de 1963. O Batalhão tem uma galeria com as fotos do ex-comandantes, mas ele nunca quis colocar sua foto, simplesmente por falta de vaidade.

A segunda fase dele foi o magistério. Ingressou na antiga Escola Técnica Federal (hoje IFCE) no ano de 1969 e sua primeira tarefa na Escola foi criar o curso de Eletrotécnica. Naquela época não era trivial criar um curso, mas em apenas 3 meses elaborou o Plano Pedagógico e fez a implantação. Criou também o curso de Telecomunicações e coordenou esses dois cursos por vários anos. Foi nessa Escola que recebeu o carinhoso apelido de Professor Pardal, indicativo de determinada característica peculiar que possuía.

Há uma grande diferença entre professor e educador, o professor é apenas uma profissão, podendo ser exercida por qualquer pessoa que tenha uma habilitação para este fim. Educador ao contrario, não é profissão, mas dom, somente quem gosta, quem ama ensinar pode ser educador, mesmo parecendo que o trabalho é o mesmo, na verdade não é. Aluisio era um educador. Deixou uma contribuição inestimável, um legado imensurável, formando (educando) milhares de jovens, durante seus 23 anos de magistério.

Aluisio teve seu destino, sua missão (no jargão militar). Ele plantou (educou) milhares de sementes (jovens), que germinaram, creio que a maior parte, e hoje essas que germinaram estão plantando novas sementes que um dia germinarão. Há nesse legado uma continuidade, que alguns chamariam de imortalidade. Ele continua educando através das sementes que aqui na Terra plantou.

 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Ramo dos Castro e Silva que poderia ter o sobrenome Gadelha

Antigamente, ao realizar o registro de nascimento dos filhos, era de costume popular colocar somente o sobrenome do pai ou posicionar o sobrenome paterno por último. Mas nem sempre as pessoas seguiam essa prática. Muitas vezes o sobrenome da família materna era bem mais importante na região do que o sobrenome do pai.

O Capitão Francisco Xavier de Castro Silva (1764-?), filho do genearca açoriano José de Castro e Silva (1709-1784), teve uma filha, Rita Angélica de São Francisco (1791-1880), que não seguiu esta prática da ordem dos sobrenomes. Rita Angélica casou-se em janeiro de 1807 (16 anos de idade), na cidade de Cascavel,  com José Ignácio da Silveira Gadelha (?-1843), filho do notável advogado José Ignácio da Silveira Gadelha (homônimo), pernambucano de Igarassu, que foi o 1º tabelião de Aquiraz, e de Maria Ignácia Gadelha.

Segundo Borges da Fonseca no seu livro Nobiliarchia Pernambucana, a família Gadelha teve nobre origem em Manoel da Costa Gadelha, cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão-Mor e Governador das Armas do Rio São Francisco, patente recebida em 25/04/1675, assinada pelo Príncipe Regente D. Pedro. Manoel da Costa Gadelha lutou na guerra contra os holandeses tanto na Bahia quanto em Pernambuco. Teve vários filhos, mas o primogênito do seu 2º casamento, Jorge da Costa Gadelha, foi o patriarca das famílias Costa Gadelha e Silveira Gadelha na Província do Ceará.

Jorge da Costa Gadelha foi Coronel da Cavalaria da Capitania do Ceará Grande. Porém nunca saiu de Pernambuco, onde viveu em Igarassu como juiz ordinário até a sua morte. Casou duas vezes, a primeira com D. Mariana de Sousa com quem teve 14 filhos, sendo que o segundo filho deste casamento teve o mesmo nome do pai. Jorge da Costa Gadelha filho (homônimo do pai), veio para o Ceará por volta de 1725, juntamente com um irmão, e constituiu extensa família. Aqui no Ceará lutou na guerra dos gentios em 1727 onde houve o massacre de  mais de mil índios, ao lado do comandante da tropa e Capitão-Mor João de Barros Braga. O segundo casamento de Jorge da Costa Gadelha (pai) foi com D, Mariana Teixeira da Silveira e Albuquerque. Desse casamento teve 3 filhos, sendo que o primeiro, Antonio da Silveira Gadelha, vem a ser o pai do citado tabelião de Aquiraz, José Ignácio da Silveira Gadelha.

José Ignácio e Rita Angélica tiveram 9 filhos, sendo que 8 deles mantiveram o sobrenome do pai. Contudo, o primogênito Pedro José de Castro e Silva, que veio a ser padre, recebeu somente o sobrenome da mãe. Em 1811, quando Pedro José nasceu, a cidade de Aracati era controlada, política e financeiramente, pela família Castro e Silva e, ao mesmo tempo, esta família mantinha seus prepostos em Fortaleza, sede da província. Portanto, naquela época o sobrenome Castro e Silva era mais notável do que o Gadelha.

Caso Rita Angélica não tivesse escolhido seu sobrenome para o filho, os atuais descendentes do Padre Pedro José (inclusive o autor deste artigo) poderiam ter o sobrenome Gadelha ou Silveira Gadelha.

domingo, 12 de dezembro de 2021

Um chucrute na família Castro e Silva

Chucrute é um prato originário da Alemanha que leva repolho fermentado na sua composição. Durante a 1ª Grande Guerra e também a 2ª Grande Guerra os ingleses passaram a apelidar os soldados nazistas de chucrutes ou krauts. Esse apelido se tornou popular após dezenas de filmes de guerra usar esse termo.  

Albert Roth, judeu alemão/suíço, nasceu em uma região que fazia parte do antigo Império Germânico e que hoje pertence a atual Suíça (fronteira com o sul da Alemanha e com a região oeste da Áustria) por volta de 1840. Albert aportou no Brasil, no início da década de 1860, juntamente com seu irmão mais velho Jacob. Possivelmente viera de navio proveniente de Hamburgo, Alemanha, com os imigrantes alemães que se estabeleceram na região de São Leopoldo no Rio Grande do Sul, e na região de Joinvile, em Santa Catarina. Atualmente, o sobrenome Roth está espalhado pelo Rio Grande do Sul e pelo Rio de Janeiro.

Albert era um artesão que fabricava e reparava relógios e seu irmão era ferreiro de profissão, Os dois logo se estabeleceram na praça de Fortaleza, angariando a confiança da população que demandava seus serviços. Jacob tinha uma oficina na Rua da Palma, hoje Rua Major Facundo, em uma casa situada por detrás da Santa Casa de Misericórdia e Albert montou uma relojoaria na mesma rua, esquina com a Travessa Municipal, hoje Rua Guilherme Rocha (local do antigo prédio do hotel Savanah). Frequentemente Albert recebia encomendas de peças e relógios da Suíça que chegavam a Fortaleza de navio para atender seus ricos clientes, tornando-o um cidadão de grande prestígio na comunidade.

Em setembro de 1872, após o falecimento de seu irmão Jacob, Albert anunciou nos jornais de Fortaleza o pagamento de todos os credores do finado, mostrando suas qualidades de honradez. Em outubro do mesmo ano ele fez o leilão da oficina, liquidando todas as dívidas do irmão.

Albert casou com Eutiquina (filha do Padre Pedro José de Castro e Silva) por volta de 1865, tendo quatro filhos, 3 homens e uma mulher. Os filhos sabiam português, como se vê no cartão remetido da Alemanha por um dos filhos, Herman Roth, em 1904, o que faz supor que nasceram em Fortaleza. Em abril de 1891, já com os filhos crescidos, Albert encerra suas atividades na praça e retorna à Alemanha com sua esposa e filhos, vindo a morar em Hamburgo. Lina, sua única filha mulher, casa-se mais tarde na Alemanha e nunca mais retorna ao Brasil. Aos fins do século dezenove, Albert falece em um acidente de trem quando viajava para Berlim e a viúva passa a morar com a filha em Hamburgo.

Eutiquina vivia bem na Alemanha com a renda das casas que possuía em Fortaleza. Retornou ao Brasil no início da 1ª Grande Guerra, em 1914, para vender algumas propriedades. Tomou o último navio que saiu do porto de Hamburgo para o Brasil antes do início da guerra. A viagem ao Brasil era para durar alguns meses, mas por aqui ficou até o término da guerra em 1918. Inicialmente passou uma temporada hospedada no Hotel Central situado na Praça do Ferreira, onde ocupava o sobrado reformado de 3 andares do Comendador Machado. Esse sobrado foi demolido ao final da década de 1920, para a construção do antigo Hotel Excelsior (hoje abandonado). Ao final da guerra, Eutiquina retorna a Alemanha e não se tem mais notícias.

Dos filhos homens de Albert e Eutiquina, sabemos que um de nome Herman era da marinha mercante, na década de 1950, tendo o navio que comandava aportado em Fortaleza. Na ocasião que aqui esteve, procurou e visitou sua prima Cilência (minha avó). Um outro filho abraçara o comércio, pois teria sido guarda-livros da Brahma no Rio de Janeiro. O filho caçula, Alberto Roth Filho, se tornou um virtuoso pianista aos 16 anos, tendo participado de concertos-soirée no Clube Iracema de Fortaleza que na época funcionava no atual edifício da Secretaria Municipal de Finanças (Palácio Iracema).

Alberto Filho casou com Isabel Pinto de Mendonça, em Fortaleza, no ano de 1894. No ano seguinte mudou-se para o Rio de Janeiro onde seguiu a profissão de maestro, se apresentando por diversas vezes no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, a partir de 1909, com a orquestra da cidade. Da sua união com Isabel teve os seguintes filhos: Antonio Roth, nascido em 1895, Maria (n. 1902 e f. 1990) e Helena (n. 1903 e f. 1992).

 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Como investir em períodos de recessão

O Banco Central do Brasil aumentou hoje a taxa Selic para 9,25% a.a. e o PIB recuou 0,1% no 3º. Trimestre. Será que estamos numa recessão técnica, como disse o Ministro Paulo Guedes, ou em uma estagflação? O que isso significa para o investidor? A manutenção de juros reduzidos por muito tempo, aliada a outros fatores econômicos ou não, pode provocar catástrofes, como veremos a seguir. Em momentos de inflação alta, o remédio do Banco Central é subir os juros. Quando as subidas dos juros surtem efeito, há um abrandamento do crescimento econômico. Uma diminuição muito forte do crescimento associado a uma inflação alta pode gerar uma estagflação. Nessa fase pressões inflacionárias podem perdurar enquanto houver escassez de produtos e classes de trabalhadores receberem aumentos salariais.

As baixas taxas de juros, às vezes mantidas por anos, e a disponibilidade de capital de risco podem gerar bolhas especulativas como a que ocorreu no final de década de 90 e que foi chamada de “bolha das empresas PontoCom”. O estouro da bolha foi precedido por um longo período de “exuberância irracional”, caracterizada por uma forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação baseadas na Internet, nas palavras do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan. Durante o ano de 1999 até o início de 2000, o banco central americano aumentou a taxa de juros em seis vezes e houve uma ruptura na economia culminando com o estouro da bolha em 10 de março de 2000, quebrando mais de 500 empresas da noite para o dia. Nesse ano, aqui no Brasil, o Ibovespa registrou perda de quase 20%.

 

Mais recentemente, no ano de 2007, foi desencadeada uma crise imobiliária nos Estados Unidos, chamada de Crise do Subprime (dívida hipotecária) que no seu auge quebrou um dos bancos de investimentos mais tradicional dos EUA, o Lehman Brothers. Da mesma forma que a bolha da Internet, houve uma época de muita exuberância que antecedeu a crise, caracterizada pela concessão de empréstimos hipotecários de alto risco, transferência desenfreada de créditos a terceiros e uma vez mais a manutenção de juros reduzidos por longo período. Ao longo de 2007 até o ano de 2008, o banco central americano aumentou substancialmente a taxa de juros. 


Esses dois momentos foram épocas difíceis para os mercados mundiais, sendo os setores como consumo de bens de luxo, financeiro e imobiliário os mais prejudicados, tanto nos países ricos quanto nos emergentes. A crise de 2008 foi chamada aqui no Brasil de marolinha.


Após a estagflação vem a fase da “Reflação”, caracterizada por um crescimento fraco (quase zero) e uma inflação decrescente. Nessa fase, os títulos do governo oferecem melhores rentabilidades, uma vez que as expectativas futuras de inflação são de baixa e o banco central ainda terá espaço para diminuir mais ainda a taxa de juros.  


Quando a descida da taxa de juros começa a surtir efeito na economia, o crescimento recupera. Na fase de “Recuperação” os lucros das empresas aumentam, mas o excedente da capacidade dos mercados de trabalho e de produto faz com que a inflação permaneça baixa. A combinação de bons resultados das empresas com taxas de juro baixas possibilita ao investidor um cenário mais favorável para o mercado de ações. 


A partir daí, há um forte crescimento que pode gerar, após um período, obstáculos que diminuem ou mesmo impeçam o crescimento da economia. Os preços sobem e os bancos centrais aumentam as taxas para evitar pressões inflacionárias. Nessa fase, chamada de "Sobreaquecimento", as commodities e o ouro oferecem, geralmente, rendimentos mais atrativos. 


Após o Sobreaquecimento, vem novamente a fase já mencionada de "Estagflação", onde os lucros empresariais contraem-se à medida que os volumes caem e os custos sobem, mas os bancos centrais mostram-se renitentes em cortar as taxas com medo de aumentar as expectativas de inflação. Nesta fase, as commodities têm um bom comportamento, mas são arriscadas devido à diminuição da procura. 


A história tem nos mostrado que existem ciclos ou fases (Estagflação, Reflação, Recuperação e Sobreaquecimento) na economia que se sucedem em períodos variáveis. O entendimento desses ciclos é fundamental para o investidor perceber quais classes de ativos costumam ter um melhor comportamento que outras em diferentes fases do ciclo econômico.

 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O HERESIARCA

Recebi do meu amigo Ignácio Costa Neto o livro “O Heresiarca, Deus criando as religiões e nelas intervindo”. O livro é um incentivo ao retorno do homem hodierno, atual, ao interesse por sua inata religiosidade. O livro está dividido em 19 capítulos, sendo que os 17 primeiros reúnem argumentos que justificam a conclusão do capítulo 18.

O autor do livro, Ignácio Costa Neto foi meu colega por quase 7 anos no glorioso Colégio Militar de Fortaleza, entre os anos de 1965 a 1971. Convivemos neste tempo e aprendemos a ter disciplina, dedicação, respeito pelo próximo e pelos superiores. Em 1972 trilhamos caminhos diferentes, ele foi para a Engenharia Civil da UFC e eu fui para Engenharia Química da mesma universidade. Anos mais já tarde, ambos já formados, nos encontramos casuisticamente após um concurso nacional para a Caixa Econômica Federal. Ele passou em primeiro lugar nesse concurso e se tornou o Chefe da Unidade de Engenharia da Caixa. Durante anos, continuamos nos encontrando esporadicamente para relembrar nossas peripécias e colegas do Colégio. Após a sua aposentadoria, Ignácio fez um novo concurso para Auditor de Tributos da Prefeitura de Fortaleza, onde hoje se encontra.

O livro é para ser lido, no meu entendimento, de forma vagarosa, saboreando cada um dos capítulos, parágrafos, frases e palavras, como se estivesse comendo bem lentamente ("pipando" como se dizia antigamente) um doce de leite. O leitor deve estar preparado para a filosofia e filósofos citados, para as reflexões e deve estar despido de qualquer preconceito. Parabenizo o Ignácio pelas ideias, reflexões, narrativas e histórias que são úteis para qualquer leitor. Parabenizo pelo trabalho, dedicação, disciplina (aprendemos no CMF) e coragem para expor suas convicções.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Os Castro e Silva de Cascavel - Ceará

O açoriano José de Castro e Silva (1709-1784), patriarca da família Castro e Silva, aportou no Ceará por volta de 1745, desembarcando no povoado de Aracati. Casou-se em 27/05/1748 na Fazenda Passagem das Pedras (hoje situada na cidade de Itaiçaba) com Anna Clara da Silva Cruz (1732-1790), filha de Antônio Silva da Cruz (natural da Freguesia do Espírito Santo em Lisboa) e de Teresa Maria de Jesus (viúva de José Ferreira Collaço e descendente da família Bezerra de Meneses). José foi proprietário de terras no Palhano e do sítio Juazeiro, herdado por seu filho João. Seus 10 filhos nasceram, foram criados e educados no sítio Juazeiro, próximo a cidade de Aracati.  

Os dois filhos mais velhos ocuparam os principais cargos da cidade de Aracati. O primogênito era o coletor de impostos e tesoureiro na localidade e o segundo filho foi Capitão-Mor da cidade. Já no final do século XVIII, os Castro e Silva detinham poder político e econômico da província do Ceará e mantinham prepostos em Fortaleza, cidade que naquela época representava o poder militar. Talvez por falta de oportunidade em Aracati, outros quatro filhos de José foram morar em outras cidades do Ceará, sendo um em Fortaleza (capital da província), um em Sobral (região norte) e dois em Cascavel (vila situada a meio caminho entre Aracati e Fortaleza). Os dois filhos que se fixaram em Cascavel, o Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva (1764-?) e o Padre Joaquim José de Castro e Silva (1772-1824), vieram para a vila por volta de 1789.

Francisco Xavier, o mais velho dos dois, ocupou o posto de capitão de ordenanças na vila de Cascavel. A estrutura militar lusitana do último terço do século XVIII, que se transferiu para o Brasil, se dividia basicamente em dois tipos específicos de força: os Corpos Regulares (conhecidos também por Tropa Paga ou de Linha) e os Corpos Irregulares ou de Ordenanças. Os Corpos Regulares formavam o exército “profissional”, sendo a única força paga pela Fazenda Real. Essa força organizava-se em regimentos, terços e companhias, cujo comando pertencia a fidalgos de nomeação real. Teoricamente, dedicavam-se exclusivamente às atividades militares.

Os Corpos de Ordenanças, conhecidos por paisanos armados, possuíam um forte caráter local, pois eram recrutados dentre os indivíduos da população masculina da localidade. Os componentes do Corpo de Ordenanças não recebiam soldo, permaneciam em seus serviços particulares e, somente em caso de grave perturbação da ordem pública, abandonavam suas atividades. Os postos do Corpo de Ordenanças de mais alta patente eram na ordem de hierarquia: capitão-mor, sargento-mor e o capitão de ordenanças.

Os capitães-mores, além de funções militares, eram também responsáveis por representar o governo e chefiar parte da administração pública na sua cidade. A maior parte da administração pública era exercida pelos indivíduos eleitos da Câmara (hoje vereadores) que formavam o Conselho da vila ou cidade. O cargo de capitão-mor era perpétuo, ocupado pelas “pessoas principais” do local e conferia a seus ocupantes “nobreza vitalícia”.

O posto de capitão de ordenanças, hierarquicamente inferior ao de capitão-mor, era em muitos casos, a porta de entrada para os nomeados atestarem seu valor e conseguirem alcançar uma patente mais alta. O capitão de ordenanças era responsável por recrutar os indivíduos que formavam a força militar local e por comandar, em caso de necessidade, as companhias dos regimentos.

O Capitão Francisco Xavier comandou o corpo de ordenanças de Cascavel até o seu falecimento. Casou-se em 08/06/1790, na capela de Nossa Senhora do Ó de Cascavel, com Anna Thereza de Jesus (1769-?). Dessa união nasceram três filhos, que se tem conhecimento da existência deles: Rita Angélica de São Francisco (1791-1880), Manoel de Castro e Silva (1794-?) e Luiz de Castro e Silva (1796-?). 

Rita Angélica casou-se em janeiro de 1807 (16 anos de idade), na cidade de Cascavel,  com José Ignácio da Silveira e Silva (?-1843), filho do notável advogado José Ignácio da Silveira Gadelha, pernambucano de Igarassu, que foi o 1º tabelião de Aquiraz, e de Maria Ignácia Gadelha. Rita Angélica faleceu em Aquiraz aos 89 anos de idade e 37 anos de viuvez. Teve 8 filhos entre eles o Padre Pedro José de Castro e Silva (1811-1889), meu trisavô.

Aqui cabe ressaltar que o Padre Pedro era descendente, por parte de mãe, da família Castro e Silva e, por parte de pai, da nobre família Gadelha de Pernambuco. Seu tetravô, o português Manoel da Costa Gadelha veio para o Brasil servir na guerra contra os holandeses. Após a restauração de Pernambuco, Manoel reivindicou o status de nobreza (cavaleiro da Ordem de Cristo, capitão-mor e governador das armas do rio São Francisco), junto à corte portuguesa, a fim de compensar as perdas sofridas na guerra.

O filho caçula do Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva, de nome Luiz, se fixou em Cascavel e se tornou agricultor e grande proprietário de terras na região de Tijucussu, próximo da praia da Caponga. Casou com Anna Gonçalves (Sinhá Aninha) e dessa união teve uma filha, Angelina Sabina, que veio a se casar com um membro da família Goes, gerando vários descendentes na cidade de Fortaleza.

O Padre Joaquim José (filho caçula do patriarca José de Castro e Silva), irmão do Capitão Francisco Xavier, viveu em concubinato com a irmã de Anna Thereza (mulher de Francisco), chamada Ignácia Maria de Jesus. Essas irmãs eram filhas do Capitão Antonio José Pereira Leite, português, nascido em Guimarães e de Angélica Francisca Rabelo Vieira. Esse Padre teve 2 filhos com Ignácia: Jose Marcos de Castro e Silva (1814-1867) e Joaquim Emygdio de Castro e Silva (1816-?).

José Marcos foi o 10 tabelião de Cascavel e seu cartório passou por mais de 5 gerações da sua família. Atualmente, um dos cartórios da cidade pertence aos descendentes dele. O segundo filho, Joaquim Emygdio, teve descendentes que incorporaram o nome Emygdio ou Emigdio, como segundo nome. Quase todos Emígdio de Castro do Ceará são provenientes do filho mais novo do Padre Joaquim. 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Onde investir em renda fixa com vencimento até 2 anos

O boletim Focus do Banco Central mostra projeções da expectativa do mercado para a inflação (IPCA), câmbio, preços administrados, meta Selic e outros índices. Segundo o último relatório Focus do dia 12/07/2021, a taxa SELIC deve chegar a 6,63% até o final de 2021 e se manterá neste patamar em 2022 com ligeira alta. Já o câmbio deve fechar o ano no nível de R$ 5,05 por dólar.

 

2021

2022

2023

IPCA

6,32

3,71

3,25

Câmbio

5,05

5,20

5,00

Meta SELIC

6,63

7,00

6,50

IGPM

18,35

4,60

4,00

Preços Administrados

9,70

4,50

3,75

Taxas projetadas pelo Relatório Focus do BC de 12/07/2021

O IBGE anunciou o IPCA do mês de junho de 2021 em 0,53%. Com isso, a inflação dos 12 últimos meses está no patamar de 8,35%, bem superior ao esperado, ocasionando pressão sobre os juros de curto prazo. Essa persistência da inflação em patamares elevados gerou nos últimos meses altas sucessivas da Selic, hoje em 4,25%, e provocou um sentimento de insegurança sobre possíveis desestímulos na economia para conter a inflação. Contudo, a curva de juros de longo prazo (que indica o nível de incertezas para o futuro) já é perceptível essa tendência com os juros DI com vencimento em 2027 saltando de 6,40% para 8,60%.

Se o COPOM aumentar a SELIC para 6,50% até o final de 2021 e mantiver a mesma taxa em 2022, o CDI terminará no ano de 2021 (acumulado) em 4,05% e manterá próximo de 6,50% em 2022, projetando uma taxa mensal de 0,52%.

Alguns analistas do mercado financeiro já trabalham com uma projeção de 8,50% para a taxa de juros. Outros acreditam que a taxa não passará de 7,50%, mas será superior a taxa de 6,50% projetada pelo Banco Central há uma semana atrás. Acredita-se que por causa da inflação e das eleições no ano que vem, os juros devem precificar para cima, principalmente se um candidato com visão mais socialista ganhar a eleição. No entanto, lembre-se que juros elevados é a principal medida do Banco Central para conter a inflação, mas por outro lado inibem o crescimento do País (PIB).

Considerando que o País tem passado continuamente por diversas crises desde o primeiro presidente (Marechal Deodoro) e que elas são de natureza moral, política, fiscal e econômica, pode-se afirmar, sem pestanejar, que o futuro do Brasil é incerto e sempre será. A instabilidade política e econômica atual não permite cravar uma inflação perto da meta projetada, e consequentemente, a precificação dos juros para cima é inevitável.  

Observando os ativos de renda fixa, de emissão bancária, ofertados pelo mercado no mês de julho, verifica-se uma maior oferta de ativos pós-fixados em CDI e de prefixados e uma pequena oferta de ativos atrelados ao IPCA. Isto deixa claro que as instituições bancárias estão céticas em relação a uma inflação em torno de 6,30% ao final de 2021 e mais descrentes ainda com a taxa projetada de 3,75% para 2022. A tabela abaixo mostra as taxas médias de CDB, LCI e LCA ofertados em 12/07/2021 pelo mercado de renda fixa, com vencimentos em 1 e 2 anos.

Ativo

Vencimento em 12/07/2022

Vencimento em 12/07/2023

 

Prefixado

Pós – CDI

IPCA+fixo

Prefixado

Pós - CDI

IPCA+fixo

CDB

8,00%

125%

Ipca+2,10%

9,55%

130%

Ipca+3,80%

LCI / LCA

7,00%

102%

Ipca+1,15%

7,70%

105%

Ipca+2,50%

Taxa média dos ativos com mais retorno em 12/07/2021

Em um artigo publicado neste blog em março passado, recomendei que os investidores aplicassem no curto prazo, no máximo dois anos diante das incertezas que atravessam o País e fugissem do longo prazo. Investimentos em ativos com vencimento para mais de dois anos é temerário no atual momento.

Diante do cenário pré-eleitoral, da pandemia de covid inacabada, do pessimismo do mercado, os investimentos em prazos curtos (até 2 anos), atrelados ao IPCA (inflação) devem oferecer um rendimento maior, mas não descartaria um CDB prefixado com taxa superior a 12% (difícil encontrar).

segunda-feira, 5 de julho de 2021

O jogo só acaba quando termina

Creso foi o último Rei da Lídia, região que hoje compreende a parte ocidental da Turquia. Viveu no século VI a.c. e foi considerado o homem mais rico do mundo daquela época, graças as minas de ouro do reino. Conta-se que Sólon, um dos sete sábios da Grécia, conhecido pela sua sabedoria, moral ilibada, dignidade e inteligência, visitou Creso em Sardes, cidade da Lídia, mas não ficou surpreso com a riqueza e nem demonstrou a menor admiração pelo rei. Enfurecido Creso perguntou se Sólon havia conhecido homem mais feliz que ele. Sólon respondeu não podia admirar a felicidade de um homem porque no decorrer do tempo essa felicidade poderia sofrer mudança, uma vez que o futuro é incerto e ainda não tinha chegado. O equivalente moderno das palavras de Sólon é “nada está acabado até acabar” ou como dizia Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians, “o jogo só acaba quando termina”.

 Até por volta de 550 a.c. o reino da Lídia fazia fronteira com o Império Medo ou Média, que por essa época foi tomado pelo exército de Ciro, o Grande. Diante do domínio dos Persas sobre o povo Medo, Creso procurou tirar proveito da situação para expandir suas fronteiras para leste. Sabendo que teria inevitavelmente de enfrentar os Persas, antes de confrontá-los enviou um mensageiro ao Oráculo de Delfos consultando sobre êxito das suas intenções de tomar as terras dos Medos. O Oráculo respondeu que se atravessasse o rio Hális, fronteira natural entre os reinos, com seu exército, acabaria por destruir um império.

Sólon havia dito a Creso, sobre sua riqueza e esplendor, que tudo que vem com auxílio da sorte pode ser tomado pela própria sorte (em geral, rápido e inesperadamente). Sólon também teria dito que não importa com que frequência algo tem êxito se o fracasso tem um preço excessivamente elevado.

Incentivado pela profecia do Oráculo, Creso avançou com seu exército, atravessou o rio Hális e tomou parte das terras dos Medos. Sabendo do ocorrido, Ciro, o Grande, reuniu suas tropas e atacou as forças lídias que sofreram perdas significativas, retornando para Sardes. Esta derrota implicaria que a profecia do Oráculo fosse na realidade cumprida, mas ao contrário do que Creso tinha imaginado, ou seja, ao cruzar o rio Hális, Creso levou à queda de um império, o seu. Em 546 a.c. Ciro dominou a Lídia e Creso foi morto na fogueira. Antes de morrer, Creso teria gritado: “Sólon, você tinha razão”.

Hoje, muitas pessoas no Brasil, principalmente as vacinadas contra covid, tem se comportado como Creso, apesar do futuro incerto da pandemia. Ouço diariamente pessoas dizendo que já tomaram as duas doses da vacina e, por isso, estão imunizadas, não precisam do distanciamento, podem aglomerar e não usam máscaras. Se Vicente Matheus estivesse vivo diria que a pandemia de covid só acaba quando termina. 

quarta-feira, 16 de junho de 2021

A Ditadura da Minoria - 2a e Última Parte

Renormalização

Para analisar como a minoria aumenta suas preferências sobre as vontades da maioria emprega-se um método chamado de grupo de renormalização, um poderoso aparato da matemática, que permite investigar como as coisas aumentam (ou diminuem) na regra da minoria. 



A Figura 1 mostra uma sequencia de caixas semelhantes que apresentam as mesmas propriedades do conjunto de Cantor (https://pt.wikipedia.org/wiki/Conjunto_de_Cantor). Cada caixa contém quatro caixas menores. Cada uma das quatro caixas menores contém mais quatro caixas menores ainda, até chegarmos a um determinado nível de tamanho. Essa figura denota uma autosimilaridade fractal (https://pt.wikipedia.org/wiki/Fractal). Na 1ª caixa existem duas cores: amarelo para a maioria, e rosa para a minoria.

A 1ª caixa da figura está dividida em 4 caixas menores, onde cada caixa está em um quadrante do plano cartesiano cujo centro é o mesmo da caixa maior. Por sua vez, a caixa do quadrante IV (corresponde a caixa que está na parte de baixo a direita) está dividida em outras 4 caixas menores, sendo que uma delas está na cor rosa. Suponha que a caixa do quadrante IV represente uma família de quatro pessoas. Um delas está na minoria intransigente (caixa rosa contida no quadrante IV) e come apenas comida AGM free (Alimentos Geneticamente Modificados). Os outros membros da família estão na cor amarela. Suponha que a filha teimosa (caixa rosa contida no quadrante IV) consegue impor sua regra aos outros três membros e, consequentemente, a unidade (família) assume a cor toda rosa, ou seja, opta por comida AGM free (2ª caixa da figura). Houve então a primeira renormalização.  

Agora, suponha toda a família indo para um churrasco com a participação de outras três famílias. Como eles são conhecidos por comer apenas AGM free, os anfitriões cozinharão apenas comidas não modificadas geneticamente. A mercearia local percebendo que a vizinhança agora é apenas comedora de AGM free, resolve vender este tipo de alimento para simplificar a vida, o que impacta no atacadista local, e as histórias se repetem e se “renormalizam”. A última caixa da figura (enésima caixa) está toda na cor rosa após várias renormalizações.

O físico francês Serge Galam (https://en.wikipedia.org/wiki/Serge_Galam) foi o primeiro a aplicar essa técnica de renormalização às questões sociais e à ciência política. Imagine que um partido de extrema esquerda ou de direita tem o apoio de dez por cento da população. Então, seu candidato teria dez por cento dos votos? A resposta é não. Esses eleitores da base devem ser classificados como "inflexíveis" e sempre votarão no candidato do seu partido. Mas alguns dos eleitores flexíveis também podem votar nesse partido e essas pessoas são as únicas a serem observadas, pois podem aumentar o número de votos para o partido extremista. Os modelos de Galam produziram uma série de efeitos contra intuitivos na ciência política e suas previsões mostraram-se muito mais próximas dos resultados reais do que o consenso da maioria.

No exemplo anterior da família e da renormalização foi visto o efeito do “veto”, ou seja, uma pessoa em um grupo pode orientar as escolhas. Isto explica por que algumas cadeias de fastfood, como o McDonald's, prosperam, não porque oferecem um ótimo produto, mas porque não são vetadas em um determinado grupo sócio-econômico. Quando há poucas escolhas, o McDonald's parece ser uma aposta segura. Pizza é a mesma história: é uma comida aceita comumente para refeição noturna, pois ninguém ficará aborrecido por comer pizza no jantar.

Nassim Taleb concluiu que todo o crescimento da sociedade, seja econômica ou moral, vem de um pequeno número de pessoas. O risco de incertezas tem um papel preponderante na condição da sociedade. A sociedade não evolui por consenso, votação, maioria, comitês, reuniões verbais, conferências acadêmicas e pesquisas. A sociedade evolui quando poucas pessoas são suficientes para mover o mundo de maneira desproporcional. Tudo o que se precisa é de uma regra assimétrica em algum lugar, e a assimetria está presente em quase tudo.


 

segunda-feira, 14 de junho de 2021

A Ditadura da Minoria - 1a Parte

Em agosto de 2016 Nassim Taleb escreveu um artigo interessante, em inglês, sobre a ditadura da pequena minoria. Nassim Taleb é um autor de livrosestatístico e analista de riscos (https://en.wikipedia.org/wiki/Nassim_Nicholas_Taleb). Seus livros tratam das incertezas e dos eventos imprevisíveis. Pessoas e empresas podem se beneficiar e até crescer com certos eventos imprevisíveis, segundo ele. Uma interpretação resumida do artigo de Nassim é apresentada a seguir.

Há situações em que uma minoria intransigente, talvez 3% ou 4% da população total, é suficiente para submeter suas preferências a todos indivíduos. Um observador ingênuo ficaria com a impressão de que as escolhas e preferências são as da maioria, mas não são. Parece absurdo. Instituições acadêmicas e científicas não estão preparadas para identificar esse tipo de comportamento e fazem julgamentos precipitados, principalmente quando os sistemas são complexos.

A idéia principal por trás de sistemas complexos é que todo o conjunto se comporta de maneira não prevista pelos componentes. As interações importam mais do que a natureza das unidades. Por exemplo, estudar formigas de forma individual nunca nos dará uma idéia de como funciona a colônia de formigas. Para isso, é preciso entender uma colônia de formigas, como ela se comporta. Isso é chamado de propriedade "emergente" do todo, pela qual partes e todo diferem, porque o que importa são as interações entre as partes. As interações podem obedecer a regras muito simples. A regra discutida neste artigo é a regra da minoria.

A regra da minoria mostra que é preciso ter um pequeno número de pessoas intolerantes, mas virtuosas, corajosas e arrojadas, para a sociedade funcionar adequadamente. Exemplos da regra da minoria são dados a seguir.

Uma pessoa com deficiência não usará o banheiro regular, mas uma pessoa sem deficiência usará o banheiro para pessoas com deficiência”. Na prática, às vezes hesitamos em usar o banheiro para deficientes sob a crença de que o banheiro é reservado para uso exclusivo deles.

Alguém com alergia a amendoim não vai comer produtos que tenham como ingrediente o amendoim, mas uma pessoa sem tal alergia pode comer produtos sem traços de amendoim”. Isto explica por que é tão difícil encontrar amendoins em aviões.

Uma pessoa honesta nunca cometerá atos criminosos, mas um criminoso pode se envolver prontamente em atos legais”. Lampião e Pablo Escobar são exemplos.  

A minoria forma um grupo intransigente e a maioria um grupo flexível. A regra é assimétrica em relação às escolhas. Mas para que a regra da minoria aconteça, duas coisas são importantes. Primeiro, a estrutura espacial da distribuição da minoria. Faz uma grande diferença se os intransigentes estão em seu próprio bairro ou se estão misturados com o resto da população. Por exemplo, se as pessoas que seguem um governo minoritário vivem em guetos, com sua pequena economia separada, então a regra da minoria não se aplica. Mas, quando uma população tem uma distribuição espacial uniforme e a proporção de tal minoria é a mesma no bairro, cidade, estado e país, então a maioria (flexível) poderá se submeter à regra da minoria. Em segundo lugar, a estrutura de custos é importante. Por exemplo, uma indústria de alimentos que oferta produtos AGM (alimentos geneticamente modificados) e AGM free (naturais). Se a diferença de custos na produção desses alimentos for pouca, então é preferível produzir somente AGM free, uma vez que atende tanto a maioria flexível quanto à minoria intransigente. 

terça-feira, 8 de junho de 2021

O Préstito do Padre Pedro

O Padre Pedro José de Castro e Silva faleceu em 29/01/1890 em Fortaleza. Era um homem muito rico, com várias propriedades e residia, na época da sua morte, a Rua Senador Pompeu, antiga Rua da Amélia, do lado da sombra no número 210. Muito antes comprara oito casas vizinhas e conjugadas a sua e dera para cada um dos seus filhos.

Já muito adoentado, no leito da morte, mandou chamar o tabelião de Fortaleza, bem cedo ao raiar do dia, para fazer o testamento. Este o encontrou já nos últimos estertores. Recebeu e registrou os legados dos filhos (o Padre os chamava de sobrinhos), que saíram por entre soluços da pré-agonia.

Gustavo Barroso em seu livro Liceu do Ceará (*) conta que o tabelião disse ao padre que tinha conhecimento da existência de um herdeiro legítimo, não nomeado no testamento, e que era dever dele lembrá-lo para que não houvesse omissão.

O Padre indagou em voz sumida:
- Quem é?

O tabelião nomeou-o:
- O Dr. Manuel Ambrósio da Silveira Torres Portugal, seu sobrinho.

O moribundo recostou-se mais nos travesseiros e, fazendo o gesto vulgarmente chamado de armas de São Francisco, expirou com essas palavras:
- Deixo-lhe uma banana!

Por essa razão, em Fortaleza, quando se perguntava a alguém o que havia deixado um parente rico acabado de morrer, a resposta era fatal: uma banana!

Esse rancor do Padre, transformado em cólera, ao sobrinho era reflexo de sério desentendimento que tivera com seu cunhado, o português Manuel Antonio Torres Portugal, pai de Manuel Ambrósio, por questões financeiras e de propriedade. O português o acusara de vender seu estabelecimento situado na cidade de Jardins, CE, e de não ter recebido o dinheiro da venda. Por sua vez, o padre o acusava de ser ingrato, pois o ajudara na sua chegada e instalação em Fortaleza vindo de Portugal. Essa desavença se estendeu por vários anos.

O velório começou no domicílio do Padre no mesmo dia e foi até o fim da tarde do dia seguinte à espera do filho que morava na região de Redenção, Ce. Puseram o caixão na sala de visita, ladeado por quatro velas enormes que deveriam arder até o fim e na porta de entrada da casa uma negra cortina com uma grande cruz prateada ao centro. Irmãs, filhos e filhas, cunhados e cunhadas choramingavam pelos cantos, rezando o terço freneticamente. A noite foi longa, a espera do dia seguinte.

Naquela época não existiam automóveis para derradeira viagem. Os enterros eram verdadeiras procissões, a pé, que podiam se estender por quilômetros. No dia seguinte, abria o préstito uma cruz negra de cujo pedestal pendia uma saia, que era um pano de veludo preto com franjas douradas. A frente ia o cura da Sé (catedral) paramentado e dois coroinhas, e logo atrás vinha o féretro, levado por quatro homens, vestidos de casacas compridas pretas, com cartolas de oleado reluzente e calças com listras vermelhas. Esses homens eram chamados de Gatos-Pingados.

Otacílio de Azevedo conta no seu livro Fortaleza Descalça (**) que os Gatos-Pingados eram um dos aspectos mais curiosos da Fortaleza antiga. Eram contratados para levar o defunto ao cemitério. O pesado esquife era equilibrado sobre duas tábuas em cujas pontas havia aldrabas seguras pelas mãos enluvadas dos sinistros carregadores, num ritmo macabro e cadenciado. O caixão dançava naquelas mãos num vaivém funambulesco, arrancando lágrimas nos olhos da população curiosa que se aglomerava no trajeto até o cemitério. Quando o cortejo era pequeno, costumava-se dizer “não deu quase ninguém, só alguns gatos pingados!”. Creio que o nome dado se deve a duas coisas: a vestimenta preta, como se fosse um gato preto, representa a má sorte que atingiu o defunto e o pingado é a cachaça (pinga) que esses homens tomavam antes e depois do enterro.   

O acompanhamento foi feito por homens e mulheres, todos de luto, silenciosos e compungidos. A procissão se estendeu por quase 1.000 metros, ao longo da rua das Flores, hoje rua Castro e Silva, (daí talvez a origem do antigo nome da rua). Tão grande percurso, realizado sob as intempéries da natureza e sobre um calçamento pouco convidativo às longas caminhadas, assumia contornos de sacrifício. Em certo momento, um dos gatos-pingados tropeçou em uma das pedras soltas e quase caiu, mas ajudado pelos outros o cortejo logo seguiu. A noite se aproximava e tochas e archotes foram acesas, costume antigo e lúgubre. O ritmo era tão lento que parecia que os vivos não tinham pressa em se verem livres dos mortos, nem estes pressa em se verem livres dos vivos.

Terminado o préstito, os acompanhantes retornaram pesarosos, silenciosos e tristes. No dia seguinte os parentes do Padre adotaram os costumes da época. Durante um mês, a família só saia de casa para assistir a missa do sétimo e do trigésimo dia. Só escrevia cartas tarjadas de preto e usava luto fechado – os homens, terno preto, inclusive a camisa, as mulheres, vestido comprido e totalmente negro, a cabeça coberta com um véu. Naquela época, desoladas viúvas e viúvos trajavam luto fechado pelo resto da vida.

O próximo artigo abordará estórias e “causos” do padre Pedro.

(*) BARROSO, Gustavo. Memórias. Liceu do Ceará. 3. ed. Fortaleza: Casa de José de Alencar - UFC, 2000.

(**) AZEVEDO, Otacílio de. Fortaleza descalça: reminiscências. 2. ed. Fortaleza: Casa de José de Alencar - UFC, 1992