O Banco Central do Brasil aumentou hoje a taxa Selic para 9,25% a.a. e o PIB recuou 0,1% no 3º. Trimestre. Será que estamos numa recessão técnica, como disse o Ministro Paulo Guedes, ou em uma estagflação? O que isso significa para o investidor? A manutenção de juros reduzidos por muito tempo, aliada a outros fatores econômicos ou não, pode provocar catástrofes, como veremos a seguir. Em momentos de inflação alta, o remédio do Banco Central é subir os juros. Quando as subidas dos juros surtem efeito, há um abrandamento do crescimento econômico. Uma diminuição muito forte do crescimento associado a uma inflação alta pode gerar uma estagflação. Nessa fase pressões inflacionárias podem perdurar enquanto houver escassez de produtos e classes de trabalhadores receberem aumentos salariais.
As baixas taxas de juros, às vezes mantidas por anos, e a disponibilidade de capital de risco podem gerar bolhas especulativas como a que ocorreu no final de década de 90 e que foi chamada de “bolha das empresas PontoCom”. O estouro da bolha foi precedido por um longo período de “exuberância irracional”, caracterizada por uma forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação baseadas na Internet, nas palavras do ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan. Durante o ano de 1999 até o início de 2000, o banco central americano aumentou a taxa de juros em seis vezes e houve uma ruptura na economia culminando com o estouro da bolha em 10 de março de 2000, quebrando mais de 500 empresas da noite para o dia. Nesse ano, aqui no Brasil, o Ibovespa registrou perda de quase 20%.
Mais recentemente, no ano de 2007, foi desencadeada uma crise imobiliária nos Estados Unidos, chamada de Crise do Subprime (dívida hipotecária) que no seu auge quebrou um dos bancos de investimentos mais tradicional dos EUA, o Lehman Brothers. Da mesma forma que a bolha da Internet, houve uma época de muita exuberância que antecedeu a crise, caracterizada pela concessão de empréstimos hipotecários de alto risco, transferência desenfreada de créditos a terceiros e uma vez mais a manutenção de juros reduzidos por longo período. Ao longo de 2007 até o ano de 2008, o banco central americano aumentou substancialmente a taxa de juros.
Esses dois momentos foram épocas difíceis para os mercados mundiais, sendo os setores como consumo de bens de
luxo, financeiro e imobiliário os mais prejudicados, tanto nos países ricos quanto nos emergentes. A crise de 2008 foi chamada aqui no Brasil de marolinha.
Após a estagflação vem a fase da “Reflação”, caracterizada por um crescimento fraco (quase zero) e uma inflação decrescente. Nessa fase, os títulos do governo oferecem melhores rentabilidades, uma vez que as expectativas futuras de inflação são de baixa e o banco central ainda terá espaço para diminuir mais ainda a taxa de juros.
Quando a descida da taxa de juros começa a surtir efeito na economia, o crescimento recupera. Na fase de “Recuperação” os lucros das empresas aumentam, mas o excedente da capacidade dos mercados de trabalho e de produto faz com que a inflação permaneça baixa. A combinação de bons resultados das empresas com taxas de juro baixas possibilita ao investidor um cenário mais favorável para o mercado de ações.
A partir daí, há um forte crescimento que pode gerar, após um período, obstáculos que diminuem ou mesmo impeçam o crescimento da economia. Os preços sobem e os bancos centrais aumentam as taxas para evitar pressões inflacionárias. Nessa fase, chamada de "Sobreaquecimento", as commodities e o ouro oferecem, geralmente, rendimentos mais atrativos.
Após o Sobreaquecimento, vem novamente a fase já mencionada de "Estagflação", onde os lucros empresariais contraem-se à medida que os volumes caem e os custos sobem, mas os bancos centrais mostram-se renitentes em cortar as taxas com medo de aumentar as expectativas de inflação. Nesta fase, as commodities têm um bom comportamento, mas são arriscadas devido à diminuição da procura.
A história tem nos mostrado que existem ciclos ou fases (Estagflação, Reflação, Recuperação e Sobreaquecimento) na economia que se sucedem em períodos variáveis. O entendimento desses ciclos é fundamental para o investidor perceber quais classes de ativos costumam ter um melhor comportamento que outras em diferentes fases do ciclo econômico.
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