segunda-feira, 19 de abril de 2021

Foi um dia de cavalo!

Não se sabe ao certo a origem de todos os bens do Padre Pedro José de Castro e Silva. Seu avô paterno, Capitão José Ignácio da Silveira Gadelha, advogado, descendente de uma das primeiras famílias de Pernambuco, retirou-se para a Capitania do Ceará, hoje antiga vila de Aquiraz-Ce, e ali se estabeleceu, prosperando durante anos. Seu avô materno, Francisco Xavier de Castro e Silva, Capitão de Ordenanças, fixou residência na cidade de Cascavel-Ce e por lá constituiu propriedades com mais de 10 léguas (48 km aproximadamente) que iam da região do Tijucussu até a Caponga. É possível que tanto o pai do Padre Pedro, José Ignácio da Silveira e Silva, quanto à mãe, Rita Angélica de São Francisco, tenham herdado parte do patrimônio deixado pelos avós.  

O Padre foi deputado provincial durante seis biênios, recebendo vencimentos durante mais de doze anos. No período em que foi vigário de Barbalha-Ce (27 anos), administrou lojas do seu cunhado, obtendo alguma fortuna. Além das propriedades herdadas dos pais e da remuneração de deputado, as contribuições dos fiéis para sustento da igreja poderiam ter ajudado na composição de suas posses. Assim como é feito hoje, cobrava de seus fiéis as missas celebradas e outros serviços prestados pela paróquia. A fortuna que amealhou na sua vida talvez possa ser explicada em parte pela austeridade nos gastos com a família. Todos seus filhos trabalharam duro pelo sustento, não recebendo benesses gratuitamente. A história a seguir, publicada no jornal O Cearense de 15/09/1872, retrata um pouco sobre como o Padre lidava com a cobrança dos serviços por ele prestados.   

“Era uma vez um sertanejo que veio a cidade vender seu algodão, vinha montado em um bonito alazão grande, gordo e esquipador. Quando o matuto entrou o cavalo chegava a se desmanchar nos andares que parecia que estava fazendo renda. Apeou-se o aldeão todo cheio de si, e entrou na casa do Laisinho Ribeiro para fazer o seu negócio.  Casaram-se no preço depois de muito trabalho, assistiu o peso, recebeu o dinheiro e quando quis montar para sair, oh! Desespero, o cavalo tinha desaparecido; estava furtado. Corre o homem rua acima, rua abaixo, e nada de roteiro. Passaram-se dois dias, no terceiro, porém o homem descobriu pelo faro o seu alazão no sítio de um padre, situado na praça São Sebastião.

Convida uns camaradas e vai ali reclamar sua propriedade, e o faz em bons termos e pedindo licença da palavra. O padre zanga-se, e diz que comprara o cavalo a um matuto, e este tão endiabrado, que quando lhe fizera a venda lhe furtara do quintal um outro cavalo, maldiz o seu caiporismo, e lamenta os purgantes, vomitórios, sangrias, cáusticos, ventosas e senapismos que havia gasto em curar o cavalo que comprara doente.

O matuto insiste, e apresenta provas irrecusáveis. O padre desapontado diz – perco tudo, menos duas missas que rezei pelo restabelecimento alazão; foi uma das promessas que fiz e tive de cumprir. As missas não perco. O matuto pensou... considerou... meditou... e ao final escorregou dez bodes para as mãos do desinteressado padre, e saiu contando que isto se dera com o Padre Pedro”.

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