O açoriano José de Castro e Silva (1709-1784), patriarca da
família Castro e Silva, aportou no Ceará por volta de 1745, desembarcando no
povoado de Aracati. Casou-se em 27/05/1748 na Fazenda Passagem das Pedras (hoje
situada na cidade de Itaiçaba) com Anna Clara da Silva Cruz (1732-1790), filha
de Antônio Silva da Cruz (natural da Freguesia do Espírito Santo em Lisboa) e
de Teresa Maria de Jesus (viúva de José Ferreira Collaço e descendente da
família Bezerra de Meneses). José foi proprietário de terras no Palhano e do
sítio Juazeiro, herdado por seu filho João. Seus 10 filhos nasceram, foram
criados e educados no sítio Juazeiro, próximo a cidade de Aracati.
Os dois filhos mais velhos ocuparam os principais cargos da
cidade de Aracati. O primogênito era o coletor de impostos e tesoureiro na
localidade e o segundo filho foi Capitão-Mor da cidade. Já no final do século
XVIII, os Castro e Silva detinham poder político e econômico da província do
Ceará e mantinham prepostos em Fortaleza, cidade que naquela época representava
o poder militar. Talvez por falta de oportunidade em Aracati, outros quatro
filhos de José foram morar em outras cidades do Ceará, sendo um em Fortaleza (capital
da província), um em Sobral (região norte) e dois em Cascavel (vila situada a
meio caminho entre Aracati e Fortaleza). Os dois filhos que se fixaram em
Cascavel, o Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva (1764-?) e o Padre
Joaquim José de Castro e Silva (1772-1824), vieram para a vila por volta de 1789.
Francisco Xavier, o mais velho dos dois, ocupou o posto de
capitão de ordenanças na vila de Cascavel. A estrutura militar lusitana do
último terço do século XVIII, que se transferiu para o Brasil, se dividia
basicamente em dois tipos específicos de força: os Corpos Regulares (conhecidos
também por Tropa Paga ou de Linha) e os Corpos Irregulares ou de Ordenanças. Os
Corpos Regulares formavam o exército “profissional”, sendo a única força paga
pela Fazenda Real. Essa força organizava-se em regimentos, terços e companhias,
cujo comando pertencia a fidalgos de nomeação real. Teoricamente, dedicavam-se
exclusivamente às atividades militares.
Os Corpos de Ordenanças, conhecidos por paisanos armados,
possuíam um forte caráter local, pois eram recrutados dentre os indivíduos da população
masculina da localidade. Os componentes do Corpo de Ordenanças não recebiam
soldo, permaneciam em seus serviços particulares e, somente em caso de grave
perturbação da ordem pública, abandonavam suas atividades. Os postos do Corpo
de Ordenanças de mais alta patente eram na ordem de hierarquia: capitão-mor,
sargento-mor e o capitão de ordenanças.
Os
capitães-mores, além de funções militares, eram também responsáveis por
representar o governo e chefiar parte da administração pública na sua cidade. A
maior parte da administração pública era exercida pelos indivíduos eleitos da
Câmara (hoje vereadores) que formavam o Conselho da vila ou cidade. O cargo de
capitão-mor era perpétuo, ocupado pelas “pessoas principais” do local e
conferia a seus ocupantes “nobreza vitalícia”.
O posto de capitão de ordenanças, hierarquicamente inferior
ao de capitão-mor, era em muitos casos, a porta de entrada para os nomeados
atestarem seu valor e conseguirem alcançar uma patente mais alta. O capitão de
ordenanças era responsável por recrutar os indivíduos que formavam a força
militar local e por comandar, em caso de necessidade, as companhias dos
regimentos.
O Capitão Francisco Xavier comandou o corpo de ordenanças de
Cascavel até o seu falecimento. Casou-se em 08/06/1790, na capela de Nossa
Senhora do Ó de Cascavel, com Anna Thereza de Jesus (1769-?). Dessa união
nasceram três filhos, que se tem conhecimento da existência deles: Rita
Angélica de São Francisco (1791-1880), Manoel de Castro e Silva (1794-?) e Luiz
de Castro e Silva (1796-?).
Rita Angélica casou-se em janeiro de 1807 (16 anos de
idade), na cidade de Cascavel, com José
Ignácio da Silveira e Silva (?-1843), filho do notável advogado José Ignácio da
Silveira Gadelha, pernambucano de Igarassu, que foi o 1º tabelião de Aquiraz, e
de Maria Ignácia Gadelha. Rita Angélica faleceu em Aquiraz aos 89 anos de idade
e 37 anos de viuvez. Teve 8 filhos entre eles o Padre Pedro José de Castro e
Silva (1811-1889), meu trisavô.
Aqui cabe ressaltar que o Padre Pedro era descendente, por
parte de mãe, da família Castro e Silva e, por parte de pai, da nobre família
Gadelha de Pernambuco. Seu tetravô, o português Manoel da Costa Gadelha veio
para o Brasil servir na guerra contra os holandeses. Após a restauração de
Pernambuco, Manoel reivindicou o status de nobreza (cavaleiro da Ordem de
Cristo, capitão-mor e governador das armas do rio São Francisco), junto à corte portuguesa, a
fim de compensar as perdas sofridas na guerra.
O filho caçula do Capitão Francisco Xavier de Castro e Silva,
de nome Luiz, se fixou em Cascavel e se tornou agricultor e grande proprietário
de terras na região de Tijucussu, próximo da praia da Caponga. Casou com Anna
Gonçalves (Sinhá Aninha) e dessa união teve uma filha, Angelina Sabina, que
veio a se casar com um membro da família Goes, gerando vários descendentes na
cidade de Fortaleza.
O Padre Joaquim José (filho caçula do patriarca José de
Castro e Silva), irmão do Capitão Francisco Xavier, viveu em concubinato com a
irmã de Anna Thereza (mulher de Francisco), chamada Ignácia Maria de Jesus.
Essas irmãs eram filhas do Capitão Antonio José Pereira Leite, português,
nascido em Guimarães e de Angélica Francisca Rabelo Vieira. Esse Padre teve 2
filhos com Ignácia: Jose Marcos de Castro e Silva (1814-1867) e
Joaquim Emygdio de Castro e Silva (1816-?).
José Marcos foi o 10 tabelião de Cascavel e
seu cartório passou por mais de 5 gerações da sua família. Atualmente, um dos
cartórios da cidade pertence aos descendentes dele. O segundo filho, Joaquim
Emygdio, teve descendentes que incorporaram o nome Emygdio ou Emigdio, como
segundo nome. Quase todos Emígdio de Castro do Ceará são provenientes do filho
mais novo do Padre Joaquim.